Prólogo

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Entro na boate WALAH, um novo conceito de ambientes com as músicas e DJs da atualidade, destinada à elite e muito badalada na cidade. Toda sua decoração é inspirada na Turquia, ao que parece, um dos investidores tem origem turca e resolveu apostar no ramo do entretenimento no Brasil.

Uso um vestido preto Gucci, ajustado às minhas curvas esguias, graças à genética da família, sou alta, magra, cabelos levemente ondulados e claros ao natural.

Uma raridade no mundo de hoje, mas de fato não preciso de muito para estar encaixada no estereótipo ditado pelo ramo da beleza, completamente equivocado, na minha opinião.

Houve uma época que minha mãe tentou me forçar a seguir carreira de modelo, mas neguei veemente e ameacei fugir de casa para sempre. Exagero que nunca concretizaria, mas funcionou para mantê-la longe e respeitar meu espaço.

Caminho entre corpos suados que se remexem ao ritmo de uma batida eletrônica intensa, a escuridão do ambiente é parcialmente iluminada por ondas de luz, os tons quentes lembram as areias do deserto, faz a alusão de estarmos lá.

— Tequila? — Layla, minha melhor amiga, questiona alto para que eu possa ouvir.

— Sim. — Balanço a cabeça e faço sinal de joia.

Depois de uma conversa tensa com a minha mãe sobre os negócios da família, mandei mensagem para Layla e marcamos de nos encontrar aqui.

Um ritmo sensual entra nos alto-falantes, começo a mover os quadris no compasso, fecho os olhos e ergo uma mão. Giro e rebolo com mais ênfase, amo as melodias que despertam meu lado ousado, é como se o corpo falasse através dos movimentos e mostrasse todo desejo que oprimo em meu íntimo.

Tanto tempo agindo dentro de padrões pré-estabelecidos, algo primitivo e visceral, que oculta meu lado mais devasso, se esconde por baixo das responsabilidades que fui obrigada a assumir desde cedo por conta do comportamento de dona Elisandra.

Hoje, quero extravasar, colocar toda essa ânsia que me consome para fora, vou achar um homem apto, quente e disposto, para ser minha distração e válvula de escape.

Layla me entrega duas doses de tequila, temos um ritual desde que começamos a beber, abrimos as noites com dois copos, consecutivos, assim entramos no clima da festa, sendo boa ou ruim.

Batemos os copos ao mesmo tempo e viramos, uma e em seguida a outra. Sinto meu palato e garganta queimarem, o estômago protesta levemente, mas mantenho firme meu propósito.

Preciso de mais bebida e uma boa observação para encontrar a presa certa.

Peço um Dry Martini, subimos para o mezanino, reservado para elite da alta-roda, já que aqui não entra ninguém que não tenha muitos dígitos na conta bancária.

Ao que parece, minha querida mãe tem um bom relacionamento com a administração ou assessoria do lugar, não entendi bem, só gravei a parte que poderia usar seu nome para ter acesso ao ambiente exclusivo.

Uma sala ampla, bem-decorada, ainda na mesma temática, sofás dispostos pelo lugar, algumas pessoas dançam, outras sentadas conversam, miro no canto extremo e encontro o que procuro para a noite.

Um homem sisudo, observador, tem os olhos atentos ao salão, parece gravar milimetricamente cada um na pista, cabelos curtos, uma barba espessa, tão grossa, que consigo medir seu contorno alinhado daqui.

Usa uma camisa preta social de manga comprida, ajustada a seu tronco, avanço alguns passos determinados, preciso analisar melhor. Paro próxima à grade, balanço o corpo sutil, enquanto circulo o dedo na borda do copo e finjo prestar atenção nas pessoas dançando.

[Degustação] Prometida ao TurcoOnde histórias criam vida. Descubra agora