Capítulo 1: Amor ou gratidão?

9 0 0
                                    

BRUNA MARTINEZ

Sempre que fecho os olhos, eu a vejo. É como se eu voltasse no tempo e vivesse aquele tormento mais uma vez. No dia em que ela se suicidou na minha frente, meus pesadelos começaram, ou foi no dia em que ela me sequestrou e me levou para outro país, me afastando de toda a minha família, fazendo-me acreditar que o meu pai nos abandonou. Pensando bem, deve ter começado quando ela inventou inúmeras histórias sobre como a família "nova" dele era a culpada de todo o seu sofrimento e consequentemente o meu, e ela ainda me dizia que ele até mesmo teve outra filha para me substituir.

Ela morreu e me deixou vivendo com tanto ódio, eu era tão nova, mas tão perdida. Fui para um orfanato, um lugar horrível, eu não falava, e odiava vermelho, pois lembrava do sangue dela. O sangue que manchou meu corpo quando ela se matou, forçando-me a assistir.

Não é atoa que comecei a sofrer crises de pânico ao ver qualquer coisa que me lembrasse sangue, por isso ninguém me adotava na época. Eu era um problema, ou tinha "um problema."

Eu costumava ter alguém que me entendia, uma pessoa que despertava o meu melhor, mas também, o meu pior, e o nome dele era Alonzo. Ele era um amigo, irmão e marido. Ainda me lembro quando o conheci.

Ei! um garoto se colocou na minha frente. No recreio sempre me sentava em um balança no pátio, ficava lá parada, tinha medo de falar com os outros, tinha medo de facas e qualquer coisa que lembrasse sangue, bastava ver qualquer coisa que remetesse à isso, que uma crise acontecia.

Meu nome é Alonzo ele sentou ao meu lado. Alonzo era quatro anos mais velho que eu, não entendia o que um garoto de onze anos queria comigo, ele era muito diferente naquela época sempre te vejo aqui, e você nunca brinca. Está tudo bem? indagou, nunca ninguém tinha se aproximado, e perguntado se estava tudo bem, no orfanato ninguém se aproximava de mim também. Era completamente solitário.

Ele se sentou no balanço ao lado do meu e colocou a mochila vermelha na perna, minha reação imediata foi me afastar do objeto, ele percebeu é claro.

Está com medo? ele olhou para a mochila, e depois olhou para mim hã...entendi ele jogou o objeto sem delicadeza nenhuma no chão, para longe de nós Vermelho não parece ser sua cor favorita. Qual seu nome?

Bruna sussurrei.

Então Bruna, também sinto medo, mas meu pai acha que homens não devem ter medo de nada - ele estufou o peito e bateu nele, fazendo-se de durão, aquilo imediatamente me fez rir.

Ei! Não ria! reclamou, o que me fez rir ainda mais.

As coisas começaram a mudar quando conheci Alonzo, mas agora ele está morto e por mais que eu negue. A culpa é minha.

Suspirei com esse turbilhão de pensamentos, então minha mente voou para minha irmã, Mia.

Pensei que tudo ficaria bem depois que finalmente revelasse toda a verdade para Mia, depois que destruísse a vidinha feliz dela, a vida que poderia ter sido minha, se não fosse a mãe dela, Lídia, ter roubado o meu pai da minha mãe. No entanto, nunca imaginei que ela fosse tão quebrada quanto eu, e no fim, descobri que éramos iguais. E isso quase me fez ficar. Por que eu entendi que Mia era mais minha família do que minha própria mãe. Minha irmã me entendia melhor do que eu mesma.

Nós duas éramos quebradas, de formas bem diferentes, mas cada um vive uma vida, e a dificuldade pode se apresentar diferente para cada um.

Observei o céu azul e as nuvens que pareciam algodão através da janela do avião. Soltei o ar devagar, não permitindo que as lágrimas se derramassem.

Dark: O lado mais sombrio do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora