Culpa

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Você deu a volta no carro enquanto os mecânicos passavam a mistura de parafina e corante em pó verde nos aerofólios do carro de número 11. Observando o RB18, você não pode deixar de dar um sorriso de leve. "Adrian se superou nessa", você pensou, colocando as mãos no bolso do casaco azul-marinho, andando vagarosamente para o lado de fora da garagem da Red Bull Racing.

Com os olhos no grande placar do Circuit de Barcelona-Catalunya, onde era possível ler "Welcome F1", você sentiu um arrepio percorrer o seu corpo. Porém, ele não tinha sido causado pela brisa fria que soprava pela pitlane naquela manhã. Era um arrepio de animação.

— Y/N, há quanto tempo você está se sentindo assim? — Brooke te perguntou, entregando nas suas mãos uma caneca com chá de erva-doce.

— Uma semana — você murmurou, hesitando em aspirar o perfume que exalava do líquido, com medo que o seu estômago se revoltasse contra você, como ele estava fazendo desde o sábado anterior. Já tinha se tornado rotina.

— Você sente alguma coisa além da náusea? — a sua amiga perguntou, enquanto você tomava um gole do chá, sentindo o calor reconfortante da bebida trilhar o caminho para dentro do seu corpo.

— Bem, tem vômito também — você disse, colocando a caneca no colo — Também me sinto sem energia pra nada.

— Acha que é uma intoxicação alimentar?

Você tomou outro grande gole da caneca e se inclinou para colocá-la em cima da mesa de cabeceira. Porém, ao fazer o movimento, você acabou soltando um suspiro de dor, levando uma mão ao seio direito.

— O que foi? — Brooke perguntou com uma expressão de preocupação.

— Meu peito anda dolorido, mas acho que isso é porque vou menstruar logo.

Brooke inclinou a cabeça, como se estivesse te analisando.

— Náusea, vômito, fadiga, seios doloridos — ela repetiu, pensativa — Y/N, acho que sei o que você tem.

Andando alguns passos para o lado, o seu rosto encontrou a luz do sol. Se escorando numa pilha de pneus, você inclinou a cabeça para trás e respirou fundo. Estar ali em Barcelona, durante a pré temporada, coordenando os testes de aerodinâmica era um sonho profissional seu.

No entanto, depois de toda a confusão que tinha acontecido no ano anterior, você esperava nunca mais pisar num paddock na sua vida. Especialmente considerando a surpresa que você recebeu no fim do mês de dezembro, poucos dias antes do Natal.

Suas mãos tremiam.

Erguendo a tira de papel próxima ao seu rosto, você sentiu o seu estômago afundar.

O resultado era claro como o dia.

— Dois tracinhos — você balbuciou, erguendo o olhar pra Brooke, que estava buscando na caixinha do teste o que aquilo significava. Entretanto, você já imaginava a resposta que ela daria. Você já tinha visto mulheres fazerem aqueles testes em séries de televisão. Dois traços só podiam significar uma coisa.

— Positivo.

O silêncio preencheu o quarto. Seus olhos se encheram de lágrimas.

"Merda", você pensou.

— Y/N, você precisa falar com ele — Brooke sussurrou, largando a caixa em cima da cama e se aproximando de você. Ela era a única pessoa que sabia da sua história inteira com Toto, desde a proposta de Christian até o momento em que você pediu demissão, naquela noite gelada em Brackley.

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