A luz entrava timidamente pelas cortinas brancas do quarto, os raios de sol iluminando o chão de madeira escura. Abrindo os olhos lentamente, você demorou para focalizar o ambiente ao seu redor, ainda um pouco desorientada. Esfregando os olhos, você piscou os olhos com força, tentando ficar mais desperta.
Se virando na cama, instintivamente sua mão deslizou pelos lençóis brancos da cama a sua esquerda, procurando pelo calor reconfortante que você sempre se abrigava pela manhã. No entanto, você descobriu que o outro lado da cama estava vazio quando seus dedos não encontraram nada além de um travesseiro frio.
"Onde ele está?", você se perguntou.
Deitada na maca da ambulância, as suas têmporas estavam molhadas com as lágrimas que não paravam de escorrer dos seus olhos.
Eram lágrimas de dor.
Lágrimas de medo.
"Por favor, por favor, aguenta", você pensava, com os dedos apertando sua barriga, como se aquela ação pudesse manter o seu bebê dentro de si. Um esforço ingênuo, quase inocente. Mas você precisava tentar. Tinha que tentar.
Você amava aquela coisinha demais para deixá-la ir daquela forma.
De repente, você ouviu uma agitação do lado de fora do veículo. Vozes alteradas pedindo para que alguém se afastasse, dizendo que não tinha autorização para estar ali, que aquela era uma área restrita para a equipe e acompanhantes dos pacientes.
— Eu sou o parceiro dela — você ouviu uma voz familiar carregada de sotaque responder, um sorriso se abrindo nos seus lábios.
Pegando o celular na mesa de cabeceira, você ergueu uma sobrancelha ao olhar o horário, cedo demais para qualquer um naquela casa estar acordado, especialmente num domingo de folga. Desbloqueando a tela, você clicou no ícone do aplicativo de e-mail, olhando rapidamente o que você tinha recebido durante a noite.
Enquanto você lia uma mensagem de Paul sobre o planejamento dos próximos testes do W17 no túnel de vento, você ouviu o som de passos vindos do corredor, bem como de sussurros e risadinhas que você conhecia bem.
"Eles estão aprontando", você constatou, a sombra de um sorriso no seu rosto.
Encarando o teto estéril da sala de ultrassom, você estava inquieta. Isso era perceptível pela maneira como você tamborilava os dedos contra a sua barriga, a mente num turbilhão de pensamentos. "E se eu tiver perdido? E se eu tiver que fazer um procedimento? E se eu não conseguir mais ter filhos?", você se perguntava, cada cenário parecendo mais catastrófico que o outro.
— Schatzi — Toto sussurrou ao seu lado, pegando a sua mão, o polegar acariciando a sua pele — A médica disse que vai ficar tudo bem. Ele está bem.
Você olhou para ele, um nó se amarrando na sua garganta. Ele não tinha saído de perto de você em momento nenhum, nem mesmo durante os exames. Toto insistia a todo momento que ele não iria a lugar algum, que ficaria ali com você o tempo que fosse necessário, nem que significasse perder o resto dos testes do W13, como tinha dito em uma ligação com Bradley minutos antes de entrarem na sala.
— É ela — você sussurrou, observando a expressão dele se iluminar com as suas palavras. Você tinha descoberto o sexo do bebê duas semanas antes da viagem para Barcelona, por mais que sua intuição dissesse desde o inicio que, dentro de você, crescia uma garotinha.
— É uma menina? — Toto perguntou, apertando a sua mão.
Você acenou positivamente, os olhos molhados de lágrimas.
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Arrependimento
FanfictionA proposta era irrecusável. O desafio era simples. O problema é que você não esperava se arrepender amargamente.