3 - Eco de escuridão

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A forma como Mathias ofegou fez Leila ter certeza de que a situação era mais grave do que parecia

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A forma como Mathias ofegou fez Leila ter certeza de que a situação era mais grave do que parecia.

— Por que não consigo me lembrar de nada?

Com cuidado, ela deu mais um passo para perto da cama, observando-o através de seu olhar clínico e analítico.

— Provavelmente, por causa de algum trauma dos ferimentos. Você recebeu um golpe na cabeça. Irei solicitar uma ressonância para ter certeza.

Os olhos dele, grandes e escuros, buscaram pelos dela.

— Como cheguei até aqui?

— Você foi jogado para fora de um carro, bem aqui na entrada do hospital. Não conseguimos ver quem te deixou aqui. Você estava muito ferido e foi socorrido da mesma hora. — Leila tentou relatar a verdade do jeito mais delicado possível. Não queria que ele se exaltasse. Apesar de ter um corpo forte e cheio de músculos, Mathias ainda estava muito fraco.

— E onde exatamente estou? Que cidade...?

— Itatiaiuçu, interior de Minas Gerais.

Mathias contraiu o rosto, como se estivesse caçando por alguma referência na memória, e Leila imaginou, diante da expressão atônita e desolado, que tudo o que ele encontrou foi um eco de escuridão e silêncio.

— Quando foi isso? Que... Que me jogaram do carro?

— Algumas horas atrás. Ainda era madrugada.

Ele grunhiu algo que Leila não entendeu.

Ela o olhou por debaixo de seus cílios longos, segurando um suspiro cansado. O dia já havia amanhecido e ela ainda não tinha voltado para a casa. Simplesmente, não conseguira deixar aquele homem ali sozinho, com a falta de pessoal no hospital, e tomara para si a tarefa de zelar por seu sono e por seu estado até que ele recuperasse a consciência.

— Enquanto estiver aqui, cuidarei de você, Mathias.

Os olhos dele, ao se erguerem e se encontrarem com os dela, absorveram uma centelha da luz que se esgueirava pela janela.

— Eu me lembro da sua voz... Dos seus olhos e da sua voz... Da promessa saindo dos seus lábios.

Leila prendeu o ar.

"Você vai ficar bem. Vou cuidar de você. É uma promessa."

Os olhos dele continuavam firmemente presos aos dela.

— Por que sua voz é tudo o que consigo lembrar?

De uma forma inesperada, o coração dela falseou dentro do peito.

— É bem provável que seja porque fui eu quem te socorri. E sempre cuido de todos os meus pacientes.

Mathias baixou o rosto, fitando as próprias mãos.

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