7 - Sob o manto da noite

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Mathias olhou com desapontamento para a tigela de caldo que estava sobre a bandeja, em seu colo

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Mathias olhou com desapontamento para a tigela de caldo que estava sobre a bandeja, em seu colo. Havia alguns legumes boiando na mistura, perdidos no meio de pedaços de frango pálido.

— Faça um esforço e tente tomar toda a sopa — a enfermeira que lhe deu a bandeja orientou. — Seu corpo se recuperará mais rápido.

Ele não queria soar ingrato diante de todo o tratamento que estava recebendo, mas o cheiro e a aparência daquela sopa roubavam a fome de qualquer um. Assim como o restante da comida daquele hospital.

Suspirou, levando uma colherada do caldo à boca.

Como previra, sem sabor, sem graça, sem nada.

Já era horrível não se lembrar de absolutamente nada, não ter certeza do próprio nome, acordar todos os dias sem saber se recuperaria parte de quem era, sentir dor pelo corpo, aguentar exames e agulhadas, fazer fisioterapia, ficar enclausurado em um quarto hospitalar, desesperado para sair da cama, para fazer alguma coisa...

Alguma coisa que ficava cada vez mais distante conforme o tempo corria.

Bom, tudo aquilo já era frustrante demais.

E a comida não lhe dava alento nenhum.

— Boa noite. Vim checar o paciente.

Ele não precisou olhar para o lado para saber que era ela. Ele não precisaria nem ter escutado sua voz para saber que ela estava entrando no quarto. Algo mudava no ar com a presença dela; o cheiro, a ondulação, a temperatura, atingindo-o no âmago.

Mathias virou o rosto, a visão se enchendo com a imagem de Leila. Como sempre, ela vestia um jaleco branco por cima da roupa, que se desenhava e se moldava em suas curvas. Os cabelos permaneciam presos em um coque alto, salientando as maçãs de seu rosto, a cor chamativa dos olhos.

— Ele está jantando, doutora Fernandes — a enfermeira informou.

— Certo. Pode deixá-lo comigo.

A enfermeira assentiu e deixou o quarto.

Leila o fitou, abrindo seu sorriso de sempre.

— Boa noite.

— Boa noite, doutora.

Era desconcertante que aquele momento havia se transformado na melhor parte dos seus dias impotentes e borrados — o momento em que ela entrava no quarto para vê-lo.

— Como você está se sentindo hoje?

— Melhor, mas...

Frustrado por ainda não saber quem realmente sou.

Provação Suprema | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora