Prólogo

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LUCA

A questão com segredos e mentiras é que sempre vinham á tona. Horas, dias, semanas, meses, anos e mais anos, não adiantam de nada. Sempre emergiam do fundo do poço, despertava a curiosidade como se naquele baú estivesse guardado um montante de ouro e muitas mais pedras preciosas, fazendo com quê se cave e arrebente o cadeado, não importa quantos deles possuíssem, um aviso tão claro, mas ignorado. Quanta sujeira havia envolta, sem se dar conta de estar tirando uma sujeira ainda maior. Não fazendo ideia que aquela alma não estava somente perdida, vagando pela terra até que seu último dia lhe alcançasse ou fosse ceifada pelo inimigo, ou, toda a bebida da qual se envenena, ali dentro, daquele baú, fundo de poço ou um corpo humano que poderia muito bem ter alcançado seu último suspiro, aquela alma estava quebrada, como um vaso de cristal ao encontrar o chão... Aquela alma estava despedaçada.... Podre... Perdida!

Eu já tinha me acostumado com a ideia, mas, eles não. Nenhum deles!Principalmente, ela! Seus olhos azuis claros, que mudam de cor em dependência de seu humor, brilham em lágrimas e quando perde a batalha, deixando que a primeira lidere um esquadrão de outras lágrimas a escorrerem daquelas órbitas lindas e que nunca deveriam carregar aquele tipo de dor, ou qualquer outra, meus olhos ardem pelas minhas próprias lágrimas que não permito seguirem o mesmo exemplo das de Mary. Mary, a mulher que poderia ter conseguido catar meus pedaços e junta-los, no entanto, o quanto isso custaria a ela? A resposta mais provável: tudo! Eu veria, Mary desaparecer como aconteceu a Gabby, então, em uma noite, ela seria levada de uma vez por todas. Eu a amava, sempre a amaria, e por isso tinha que deixá-la partir.

— Espero que um dia volte a luz, Luca — deseja ela, suas palavras tão sinceras quanto suas lágrimas carregadas de dor — E, por favor, não me acrescente as suas cicatrizes. Eu fui muito mais feliz nesse tempo ao seu lado que infeliz — continua, se aproximando de mim — Não há porquê me acrescentar a sua lista de remorsos — deixa um beijo em minha bochecha — Faça isso por mim, se em algum momento signifiquei algo para você — pede, olhando no fundo dos meus olhos, sua espera por uma resposta é como cortes feitos com cacos de vidro em minha pele. Era a porra da minha culpa que seu rosto maravilhoso estivesse banhado em lágrimas — Por favor — volta a pedir, cheia de necessidade.

Como eu poderia manter uma mulher como essa em minha vida?

Não podia...

Não deveria...

Eu não mereço!

Monstros como eu mereciam nada mais que o vazio repleto de escuridão, dor e podridão.

Estar sempre em constante pedaços.

— Por você! — finalmente deixo ir. Mary merecia essa paz, ainda que eu não merecesse, se ela soubesse. Se qualquer um deles soubessem quem eu era de verdade — Você está livre da minha lista de culpa, Marilyn — forço aquele sorriso que nós dois odiamos — Mas, me garanta que irá me esquecer e vai encontrar um outro cara para pôr de joelhos — ela libera um pequeno sorriso tímido, as bochechas ficam vermelhas, por minhas últimas palavras. Se ela soubesse que eu seria capaz de matar o tal sujeito, aquele sorriso lindo não estaria ali — E, pelo amor de Deus, aceite que é deslumbrante, você é quem deve fazer os outros corarem, não ao contrário — ela nega com a cabeça, um sorriso carinhoso cobrindo o rastro da timidez.

— Você é inacreditável, Luca Moretti — me envolve em um abraço.

— E, eu não sei?! — a faço rir, apertando-a de volta, aproveitando o calor de seu corpo e seu aroma, de maneira tão próxima. Eu nunca mais teria Mary em meus braços! — Me avise se alguém a lhe incomodar em Chicago.

Afastados, ela bate continência.

— Pode deixar — afirma, a última chamada para embarque, ressoa por todo o espaço — Até algum dia, Luca!

— Até algum dia, Gata!

Mary para no meio do caminho.

— Já ouviu aquela frase sobre a lua? — nego com a cabeça.

— Preciso de mais detalhes.

— Não irei lembrar, mas, o ponto é: "mesmo que não a alcance, atingirá as estrelas." Não é um mal negócio, o ruim é ficar onde estar. Mova-se, Luca, apenas mova-se! — com isso continua a andar.

Suas palavras rondam por minha mente mais do que gostaria, então, quando um pequeno fragmento de luz se inicia, o afogo em uma dose generosa de uísque, do meu fiel cantil.

É uma pena que monstros vivam na escuridão, Mary, eu sempre gostei mais das estrelas que da lua.

LUCA - III Trilogia Irmãos Moretti Onde histórias criam vida. Descubra agora