MAMA, WE ALL GO TO HELL

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O grande e abarrotado porão de Ethan Wyatt Haddock estava vazio, e o rapaz se encontrava sentado no sofá, trocando duas cordas de sua guitarra com uma precisão cirúrgica. Seus cabelos longos e escuros se agitavam conforme ele movimentava sua cabeça ao som de Chop Suey! do System of a Down, sem errar o que estava fazendo nem por um segundo, tamanha era sua familiaridade com o instrumento.

Não havia ninguém em casa, ele sabia, porque seus pais estavam em uma viagem de negócios, dando palestras ou seja lá o que cientistas fazem, exatamente o tipo de coisa que ele nunca se interessou. Como era sua folga do cinema e não tinha nenhum ensaio marcado — junto à falta de vontade de ir para a aula de manhã —, ele resolveu descansar durante todo o dia, ou seja, ele só saiu de seu sofá no porão para comer e ir ao banheiro, e por pouco não deixou de fazer até mesmo isso. Ele gostava daquele tipo de tempo para si e pelo menos uma vez ao mês ele tirava um "descanso", que consistia basicamente em algum tempo sem ver ninguém para recarregar sua já escassa bateria social.

Ethan se levantou após acabar de trocar as cordas, indo se jogar no colchão no chão enquanto a faixa mudava para Teenagers do My Chemical Romance, e ele fechou os olhos, pensando em cochilar, e sorrindo com o pensamento, porque ele sabia que depois que o relacionamento bom que tinha com os pais praticamente acabou — coincidentemente, ou não, na mesma época que ele colocou na cabeça que queria ser um rockeiro —, eles tinham medo de deixá-lo sozinho em casa, provavelmente temendo que ele destruísse a propriedade inteira e desse uma festa com as aberrações que chamava de amigos e, pior que tudo, tocasse rock alto para os vizinhos ouvirem.

Se eles percebessem que, ao contrário do que pensam, o filho era o tipo de pessoa que preferia ficar dormindo ao ir em uma festa, e se se dessem conta de que seus amigos eram mais normais do que pensavam, talvez não fossem tão insuportáveis, pensou, fechando os olhos com mais uma troca de música, porém, dessa vez o sono impediu que ele identificasse o que estava tocando, e ele pensou que não queria que nada atrapalhasse aquela paz.

Como sua sorte sempre durava pouco, o som de uma mensagem chegando em seu telefone fez com que ele abrisse um olho, pensando seriamente em deixar quem quer que estivesse chamando falando sozinho, mas quando o som se repetiu, ele suspirou, finalmente levantando o corpo e puxando o celular para perto, para poder checar as mensagens.

E haviam muitas. Algumas de Alfie e a maioria de Maelys, que o intimava ao Milkshakespeare naquele instante. O rapaz suspirou mais uma vez e se levantou, vestindo sua roupa rapidamente antes de pegar as chaves da moto e sair de casa praticamente correndo para saber o que eles queriam e, principalmente, porque o colega de trabalho não estava no cinema naquele momento. O caminho foi rápido, especialmente em cima das duas rodas, e logo ele estava estacionando na frente da lanchonete-biblioteca, entrando com o capacete em mãos.

Ethan escaneou o local com seus olhos até encontrar os amigos sentados em uma das mesas do canto, embora Lys devesse estar de pé, servindo mesas, mas ele ignorou esse detalhe e foi se sentar com eles.

— Finalmente! — Maelys Zhao Graham exclamou, exasperada, enquanto ele se aproximava, e o mais novo se sentou, percebendo que, ao seu lado, Alfie Kabir Mali Wright ainda estava com roupa do trabalho.

— O que aconteceu? — questionou, sinalizando as palavras para o amigo, mesmo que não fosse necessário, e ele respondeu prontamente, as mãos mais rápidas do que normalmente estavam, como se ele ainda estivesse sob o efeito da adrenalina.

"Você não faz ideia da confusão", começou, parando apenas para dar um gole de seu milk-shake, "dois adolescentes inundaram uma das salas e tivemos que interditar todas as sessões até resolverem o problema".

— Como fizeram isso? — continuou, sentindo vontade de rir da situação, antes que o amigo desse de ombros.

"Eu não faço a menor ideia, eu nem sabia que o sistema hidráulico passava pelas salas também, mas acredito que tenha a ver com os sprinklers para combater incêndio.", e deu de ombros mais uma vez, "a polícia estava com eles, e a menina não conseguia parar de chorar. O acompanhante dela disse que eles entraram embaixo da escada onde os assentos ficam para, você sabe, transar, e aparentemente eles são muito violentos, porque acabaram quebrando um dos canos lá e foi água para todo lado."

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