Save the Rock'n'Roll

ALL I HEAR IS DOOM AND GLOOM

Qualquer um que visse o estado do apartamento de Amor quando o mesmo acordou, com o corpo todo torto na cama, pensaria que a festa na noite anterior em homenagem à mudança de Frank havia sido feita ali, mas infelizmente essa afirmação não estaria apenas errada como, para melhorar a história, o próprio Amor havia perdido a confraternização. E ali estava um dos males de ser um workaholic, ele não conseguia parar de trabalhar enquanto não acabasse o que tinha que fazer, e na noite passada foi exatamente o que aconteceu: haviam mais entregas para serem feitas do que funcionários em sua loja de marijuana e outros produtos artesanais, então ele passou a noite fazendo o trabalho de cinco pessoas.

Ele daria um jeito de compensar os amigos por isso depois, sem dúvidas.

Na verdade, enquanto se olhava no espelho e lavava o rosto, sem qualquer disposição, ele pensou que seus amigos é quem deveriam compensá-lo por isso. Em primeiro lugar, se não fosse ele, não haveria drogas para nenhum daqueles rockeiros fudidos, e em segundo lugar, hoje era seu aniversário — e o dia da competição —, então tinha que estar calmo e centrado para que desse tudo certo.

E, por falar em calmo e centrado, talvez fosse uma hora boa para dar um...

— Mas o quê é isso? — Amor Yang estreitou os olhos já puxados conforme passava em frente ao espelho de corpo inteiro que tinha em seu quarto — Cadê minhas tatuagens?

A pergunta foi feita para ninguém em particular, mas o desespero era real. O baterista da Kravsnake se aproximou do espalhou, girando o corpo enquanto tentava encontrar, sem sucesso algum, os diversos desenhos em sua pele.

— Que porra é essa? Quanta coisa eu fumei sem saber? — perguntou, levando a mão aos cabelos e os jogando para trás — Isso só pode ser uma pegadinha de aniversário. Deve ser uma daquelas maquiagens de Lys.

Conforme falava em voz alta, tentando se convencer de suas próprias palavras, Momo — como era mais conhecido entre os amigos —, tirava as peças de roupa, se despindo na frente de seu reflexo, ainda tentando enxergar qualquer coisa.

— Acho que preciso de um banho. — disse, ainda meio grogue, enquanto pegava o celular e caminhava até o banheiro, pronto para colocar Novocaine do Fall Out Boy, para que pudesse se lavar e finalmente começar aquele dia de forma certa.

Porém, quando desbloqueou o aparelho, a quantidade exorbitante de mensagens e ligações perdidas o desnorteou. Adam havia ligado sete, repito, sete vezes apenas naquela manhã. Mensagens no grupo da banda (que estava estranhamente sem nome e sem foto) eram mais de mil, e até mesmo mensagens dos membros da Doomsday estavam pipocando em sua tela. Eram mil coisas desconexas e algumas mensagens estavam com um aviso que dizia que ela não podia ser carregada.

Aquilo estava oficialmente muito estranho, e justo no dia da competição.

Momo tomou um banho rápido e colocou um moletom qualquer que estava jogado em sua cadeira, antes de sair correndo para ir até seu carro encontrar os amigos na casa de Ethan. Quando saiu na rua, porém, a visão que teve o fez sentir até tontura.

Tudo parecia diferente e, ainda sim, ele não sabia dizer exatamente como, mas assim que seu telefone tocou novamente, ele soube que não tinha tempo de pensar, então entrou em seu carro e saiu em disparada até a casa do Haddock. O caminho foi rápido e durante o mesmo, Momo continuava notando coisas estranhas na rua: eram alguns posteres desconhecidos, a paleta de cores de tudo parecia muito estranha. As roupas também, os penteados, e até mesmo a música que tocava quando ele passava por algum lugar com a rádio aberta no último volume.

Tudo parecia... muito quieto de uma forma estranha, como se seus ouvidos estivessem cheios de areia, mas ele não sabia explicar o porquê.

Quando tocou a campainha da casa de Ethan, algo que ele simplesmente não entendeu o porquê de ter feito, o próprio dono da casa abriu a porta. E no mesmo instante, Amor começou a rir: o guitarrista tinha os cabelos curtinhos e estava usando uma camisa polo e uma calça jeans clara. No mesmo instante, ele foi puxado para dentro da casa e empurrado até a sala de estar. E foi aí que ele percebeu que não era uma pegadinha.