CAP4: Corte Cego

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  O barro exalava uma sensação úmida ao ser pisado pelas cinco crianças descalças. Feito com madeira e cipós, o cercado impedia da única galinha ali sair e se perder. Três crianças com as suas roupas rasgadas moíam os cereais, enquanto o resto limpava o local.

   Uma moça encapuzada segurando uma cesta se aproxima do amontoado de cipós e estacas, parando e olhando as crianças trabalharem.

— Boa tarde crianças! — disse a moça, revelando o seu rosto.

  As crianças correm para perto da cerca rapidamente para olharem melhor, não estavam acreditando que Amice tinha retornado mais uma vez para vê-los.

— Olá Amice! — falou o mais velho dos cinco.

  Um sorriso preencheu mais uma vez o rosto das crianças ao ver a cesta, eles lambiam os lábios e um ronco veio da barriga fazendo eles a alisarem.

— É bom vê-los! Trouxe comida. — Entregou a cesta para o grandinho.

  Sem demora, o mais velho pegou os bolinhos recheados e distribui com os outros, a satisfação em seus rostos era impagável. Estavam sentados ali mesmo no barro, sem reclamações.

  Amice sorriu e logo enxugou uma lágrima que lentamente desceu seu rosto. Virou-se de frente para o caminho de terra e mato e pós sua mão no peito.

A cesta se preenchirá toda vez que a fome soar ... — Sussurrou para si mesma.

  Deu de frente para as crianças que comiam sem houver amanhã. Puxou do bolso do capuz um papel.

— Entreguem esse bilhete para os pais de vocês, tudo bem? — Expremiu Amice.

— Pode deixar! — O grandinho pegou o papel.

   Amice se despediu das crianças e foi embora pelo caminho cercado de arbustos e árvores.

   A menina moveu na cama pondo os pés encima da colcha. O relógio de coruja teve o ponteiro mudado de lugar. Em pé estava Nissarah olhando o lugar atentamente, enquanto segurava um caderno.

— E essa mancha escura? — apontou Nissarah, para o canto do quarto.

— Foram eles ... Os vultos. — respondeu  Eduarda, com a voz trêmula, enquanto se ajeitava na cama mais uma vez.

  Nissarah sentou na cama e pegou na mão de Eduarda. Olhou bem para os olhos da garota e balançou a cabeça.

— Olha, eu vou fazer tipo uma reza que minha vó fazia. Tudo vai ficar bem. — disse Nissarah, com pouca importância.

   Eduarda concordou com aquilo. Nissarah se põe de pé e anda para lá e para cá no quarto, não sabia para onde olhava enquanto tentava passar seriedade para Eduarda.

A força mística protegerá essa casa do ... mal azar! — Falou Nissarah.

   A luz piscou e o vento que antes estava fraco aumentou tanto que fez a janela do quarto bater. As duas assustaram-se com aquilo e se olharam.

  Não comentaram sobre a estranha coincidência que tinha ocorrido. Eduarda agradeceu pela ajuda que tinha recebido na escola e em casa e se despediu.

  Nissarah não tinha percebido que a tarde tinha se transformado em noite. A rua em que estava era bem mais distante que sua casa.

  Olhava para as placas sem entender nada pela baixa iluminação do lugar, o caminho parecia ser algo de dia e totalmente outro a noite.

— Rua estranha ... Os postes tão tudo com as luzes quebradas. — Indagou, enquanto alisava o braço.

   Apressou o passo quando percebeu que a frente teria somente um poste funcionando, engoliu seco e seguiu. Ao se aproximar, arrepios subiram e a vontade de voltar para a casa de Eduarda bateu.

   Nissarah estava se aproximando de um galpão com as luzes apagadas, parecia abandonado visto que os portões estavam quase caídos e com ferrugem.
— Não esperava ter uma noite divertida hoje! — Disse um homen, saindo de dentro do galpão e ficando no meio do calçamento.

  Suas pernas ficaram trêmulas ao ponto de não conseguir se mover dali, uma falta de equilíbrio para se esparramar com tudo no chão. Os olhos do cara brilhavam no puro breu que estava ali.

— Fic... Fica longe de mim! — gaguejou Nissarah, se afastando sem tirar o foco dos olhos brilhantes.

  De repente aquelas duas bolas brilhantes desaparesseram, Nissarah correu voltando em direção da casa da Eduarda. No caminho amedrontador, os únicos pontos de iluminação foram tendo as lâmpadas explodidas.
   Nissarah estava sentindo algo a perseguir, caiu a ficha que aquilo não era um ser físico. Por um breve momento lembrou dos relatos de Eduarda.

  Estando perto da casa da menina, Nissarah tropeçou com influência daquela coisa. Arremessada no chão com a testa cortada tenta levantar, mas o joelho tinha levado todo o impacto da queda.

Socorro! Eduarda! — Gritou Nissarah, com sua respiração ofegante e dores pelo corpo.

  A rua estava deserta, as casas estavam completamente fechadas. Não havia sinal de vida naquela rua.

  Nissarah em meio ao desespero escutou uma porta abrindo, quando subiu a vista percebeu que era Eduarda correndo em sua direção com uma luminária.

 

Nissarah: Em Brixtia Onde histórias criam vida. Descubra agora