A Forasteira

Capítulo 2 - Westminster?

         Quando novamente acordei, me sentia ligeiramente melhor que antes, talvez por estar num lugar fechado e deitada numa cama.

         Nos primeiros instantes quase achei que aquele era meu quarto, mas logo vi que não, para minha infelicidade. O colchão era menos confortável e as cobertas mais ásperas. As paredes possuíam tijolos visíveis e havia uma lareira em frente à cama de madeira. Havia um criado-mudo simples ao lado da cama e uma banheira de madeira num canto. Uma modesta janela aberta indicava que ainda era de manhã, além de mostrar, pela paisagem, que eu estava muito longe de qualquer centro urbano.

         Naquele momento, eu já tinha quase certeza de ter sido sequestrada. O cavaleiro deveria ter me levado para aquele lugar. E eu não tinha idéia do porquê.

No criado-mudo, havia um copo metálico e cheio de água. Eu inicialmente desconfiei de quais substâncias podiam estar ali misturadas, pois eu estava muitíssimo convencida de que me sequestraram para motivos desconhecidos e provavelmente nada legais. Mas estava sedenta, e acabei por beber o líquido mais rápido do que eu julgava ser possível.

Ouvi passos do lado de fora. Involuntariamente sobressaltei-me com o som repentino da porta rangendo ao ser aberta.

Um homem jovem, talvez só uns dois anos mais velho que eu, ficou na entrada do quarto. Era alto, muito alto, com olhos claros, cabelos castanho-claros e uma barba curta. Vestia roupas estranhas: Túnica verde, calças escuras e sapatos meio pontudos, como se estivesse numa feira renascentista e quisesse imitar um senhor feudal. Poderia ser alguém intimidador se assim desejasse, pelo porte alto e forte, mas apenas me pareceu um pouco surpreso ao me ver acordada.

— Quem é você? — perguntei, um pouco temerosa de que ele fosse me fazer algum mal, embora não parecesse estar com jeito de ser uma pessoa má. Embora eu devesse manter a calma, uma torrente de perguntas saiu da minha boca. — Onde estou? Que dia é hoje? O que você quer comigo? O que aconteceu comigo?

Ele aparentou confusão, não parecendo compreender nenhuma das minhas perguntas.

— Senhora, eu não entendo o que dizes... — falou em um inglês meio estranho, num sotaque britânico com alguma mistura de francês. Embora eu não fosse fluente em inglês, estranhamente eu consegui entende-lo melhor do que faria normalmente.

Senti uma certa apreensão. Se ele não falava português, raciocinei, havia a possibilidade de eu nem estar mais no Brasil. Será que eu havia sido vítima do tráfico de pessoas?, me perguntei no momento.

— Quem é você? — perguntei novamente, agora em inglês.

— Edward de Woodstock, senhora — falou, curvando-se para mim.

Ok, embora seja educado, isso não é um gesto normal para um sequestrador e nem para pessoas comuns no geral, pensei. Achava que os hábitos da época dos meus avós — ou até mesmo de bem antes disso — já estivessem um tanto esquecidos.

— Woodstock não foi um festival de música? — A expressão de confusão total dele foi a resposta. Eu definitivamente deveria estar na companhia de gente estranha. — Tudo bem, melhor esquecer essa pergunta. Onde estou?

— No palácio de Westminster, senhora. Foste encontrada inconsciente enquanto eu e meus companheiros estávamos em uma caçada. Esteves dormindo por um dia inteiro.

Senti um certo alívio ao saber que pelo menos eu não tinha sido sequestrada, ou pelo menos era isso que o homem dizia, mas parecia ser confiável. Mas Westminster? Ele estava se referindo ao palácio real que fica que fica em Londres? As coisas ficavam cada vez mais estranhas. Mas estranhamente tudo se interligava. As roupas estranhas, o aspecto antigo do local, os gestos dele... meu cérebro começou a formular uma teoria do que podia ter acontecido. Era algo insano e que não seguia a ordem natural das coisas, porém parecia ser a única resposta que ainda possuía alguma lógica, mesmo que estranha, no momento.