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A mãe estava sorrindo para Johnny.

Ele sorriu de volta.

Ela parecia com saúde, até meio gordinha. O cabelo, cheio, fora deixado solto, naquela manhã de sábado.

D. Laura tinha um cabelo bonito, preto, volumoso. Johnny mal conseguia se lembrar de como ele ficara depois, quando...

A ironia é que não foi a doença que destruiu os cabelos dela, tornando-os quebradiços, como arames finos e sem vida, para finalmente caírem como folhas mortas durante um outono rigoroso. Foi o remédio, a quimioterapia, que matou suas mechas, mas que também lhe possibilitou passar mais alguns meses junto daqueles a quem amava.

Johnny agora sentia que a visão começava a se turvar de um outro líquido quente, desta vez salgado. Segurava com esforço as lágrimas, e, quando a mãe virou-se para começar a arrumar a cozinha do café, levantou-se, correndo para o quarto.

Finalmente sozinho, deixou a emoção transbordar. Durante um longo tempo ficou deitado, no escuro, chorando.

O que era tudo aquilo? Por que estava revivendo o passado? A última coisa de que se lembrava era atravessar a rua e ver um carro já em cima, porque o sinal estava fechado para pedestres. Então, uma cortina caiu.

Agora, começava a pensar. E se tudo aquilo não fosse sonho? E se em algum momento acordasse?

Talvez despertasse no quarto branco do hospital. Uma enfermeira diria: "O senhor quebrou uma perna e deslocou..."

E ele ouviria tudo, aliviado.

Então, apareceriam alguns amigos, colegas do trabalho. O pai ligaria, preocupado, mas Johnny diria que estava tudo bem e que logo voltaria para casa.

E se não fosse sonho?

E se...

E se ele realmente tivesse voltado no tempo?

Por quê?

Com que propósito?

Johnny não acreditava em Deus. Não após o que Ele deixou que acontecesse com a mãe. Não após ela murchar como uma flor delicada até caber em uma urna pequenininha.

Então, por que estava de volta?

Seria obrigado a reviver tudo aquilo de novo?

A doença, a morte?

Seria o inferno.

E justo quando achou que o passado ficara para trás, que podia seguir em frente...

Mas, não, o passado nunca ficara para trás.

Então, ele entendeu.

A Aventura de JohnnyOnde histórias criam vida. Descubra agora