4

2 0 0
                                    


Ou achou que entendeu.

Porque só podia ser isso.

Ele voltara por uma razão. A despeito de não haver Deus ou sentido para a vida ou a morte, existia uma razão para ele estar ali, naquele exato momento, revivendo o passado.

Johnny saiu do quarto.

Foi atingido por Elis Regina, cantando de uma caixinha:

"... e ainda somos os mesmos, e vivemos..."

A mãe estava fazendo almoço.

- Mãe...

- Tico, você descasca essas batatas pra mim? Nossa, eu perdi a noção do tempo, enquanto ouvia essas músicas antigas...

- Mãe... Eu preciso te pedir uma coisa.

- Claro, filho.

- Você precisa fazer uma coisa bem cedo, na segunda-feira. Precisa ir no médico.

- No médico? Mas eu estou bem, Tico. Espera... É por causa do começo glaucoma do seu pai?

- Não... Também... Sim...

Ele respirou fundo. Então, falou, cuidadosamente:

- Durante a semana, você marca um oftalmo para ele. O pai não vai gostar, mas é importante que comece a acompanhar a vista, a partir de agora. Mas eu estava falando de um médico para você, mãe. Você precisa fazer um check up geral e especialmente um ultrassom no abdômen. No fígado, entendeu?

Desta vez, ele conseguiu assustá-la. Já não estava sorrindo, quando murmurou:

- Nossa, Tico. Que horror. Você está tão esquisito!

- Desculpa, mãe. Eu só preciso que a senhora jure que vai. Por mim.

Houve um silêncio. Depois, ela respondeu:

- Nossa... Eu vou... Mas, sinceramente, Tico, que jeito de falar...

Ela tinha razão. Era muito estranho o jeito de falar de Johnny. Ele se expressava como um adulto pela boca de um pré-adolescente.

Ele então a abraçou, mergulhando profundamente naquele doce e quente afeto, com a sensação de que era a última vez que podia fazê-lo.

A Aventura de JohnnyOnde histórias criam vida. Descubra agora