Logo que amanheceu o dia, Lucius levantou-se da cama e foi até o banheiro lavar-se afinal, apesar de tudo, tinha que agir como o dia importante que era, aguardando todos aqueles que fossem selecionados para a Classe dos Heróis, o que provavelmente levaria o dia todo, afinal eram 5 mil candidatos para passarem por avaliações individuais de seus níveis de poderes e aptidões para evolução.
O Imperador entrou no chuveiro e enquanto lavava seu corpo, memórias de um tempo há muito esquecido passavam por sua mente.
Ele já havia passado por muitas turbulências nesses 500 anos, tendo que aprender a sobreviver e evoluir por conta própria, aprendendo Magias e como controlar sua Mana para não ser descoberto até que estivesse pronto para dominar o mundo.
Esse processo havia demorado 25 anos. Durante esse período de isolamento Lucius havia aprendido o máximo que conseguia observando através das montanhas, ouvindo com sua audição aprimorada, caçando os monstros que ali viviam. Aquilo o tornara um verdadeiro caçador, sabendo analisar friamente as forças e fraquezas de seus inimigos, conseguindo medir friamente seu potencial para acabar com qualquer um que fosse em segundos, sem dar tempo de reação.
Mas o tempo o ensinou que essa não era a melhor opção.
Quando você dá esperanças para as pessoas e depois a esmaga como se não fosse nada, isso é o mais eficaz, pelo simples fato de acabar com expectativas, com realizações, gera submissão e aceitação, as pessoas param de contrariar e entendem que é aquilo que possuem, sem outras alternativas elas começam a prosperar naquele sistema e veem que não é tão ruim, veem que dá para crescer mesmo com o Imperador no poder, pois basta andarem conforme o ritmo da música que nada precisam temer.
Lucius havia conseguido isso de forma efetiva na maior parte do mundo. Apenas antigos Reinos ainda o desafiavam pelo simples fato de que não gostavam de admitir que existia alguém acima deles comandando o mundo inteiro, algo que eles mesmos queriam, bando de hipócritas.
Ao sair do banho, o Imperador vestiu o uniforme dos exames de admissão, era um conjunto de camisa e calça brancos com as listras douradas e o símbolo de Saint Royal. Junto a esse havia uma jaqueta cinza com o brasão estampado em branco nas costas.
Lucius desceu as escadas, ninguém havia acordado ainda, deviam ter ido dormir tarde com toda a algazarra da noite anterior, ainda havia muito tempo até a hora dos exames começarem, mas ele queria estar lá a frente.
Dessa vez não foi a dona do estabelecimento que veio atendê-lo, mas sim seu filho, parecia ter uns 20 anos, pelo porte físico já havia se formado em Saint Royal.
Ele sorriu e indicou para que Lucius se sentasse nas cadeiras encostadas no balcão: “Bom dia, Sr. Ace. Eu não esperava que alguém acordasse tão cedo depois da festa de ontem, mas fico feliz que o senhor esteja bem e disposto, torço pela sua classificação. Ah, peço desculpas por não ser minha mãe o atendendo, mas ela foi dormir tarde atendendo todo mundo, creio que muito não irão conseguir acordar a tempo dos exames pela hora que foram dormir e o tanto que beberam”.
“De fato, eu acredito que esse já é o primeiro teste, afinal, alguém que bebe tanto e não acorda na manhã seguinte para uma batalha como pode ser chamado de Herói?”, ambos riram.
Passou pouco tempo com os dois conversando até que a segunda pessoa a acordar desceu as escadas, e era ninguém menos de que Liam.
“Ora, parece que acordei antes de nosso querido Liam, isso que, pelo que disse, havia ido dormir àquela hora, teve algum desvio no caminho de seu quarto?”, Lucius cutucou com o braço o filho da Dona, para que ele entrasse na brincadeira.
Liam riu: “Quem dera ser alguém tão galanteador como você, esquentadinho, aí talvez eu tivesse a mesma sorte em ter pegado a Dama das Águas”.
Lucius se engasgou com o argumento e tossiu: “Como soube? Já não havia ido dormir? Ou será que devo a honra de estar sendo espionado por alguém tão importante?”.
“Não, não precisa se achar tanto, eu não estava espionando, acaba que meu quarto ficou ao lado e foi bem difícil não ouvir ou não sentir a explosão de vapor”, Liam deu de ombros enquanto ria de Lucius.
Mas não tinha motivos para Lucius se abalar, ele riu também: “O que posso dizer se eu dou conta do recado bem até demais?”.
Liam se sentou ao lado de Lucius e pediu um café-da-manhã: “Já que acordamos cedo, o que acha de darmos uma volta por aí antes de irmos para o centro de exames? Eu estou à procura de uma nova espada para o exame de cavaleiros e pelo visto você não parece ter uma arma”.
Lucius achou a ideia interessante, poderia sair algo produtivo disso: “Sem problemas por mim, o senhor teria alguma indicação de onde poderíamos achar armas boas para o exame?”, outro motivo que levava Lucius a gostar da ideia era o fato de que ele não poderia usar as armas de sua dimensão da escuridão, afinal, a grande maioria era do nível de Excalibur, já que ele havia feito questão de recolher o máximo possível de armas sagradas, evitando que elas fortalecessem os futuros Heróis.
O filho da dona apontou em direção a uma das ruas: “Aquela é a Rua de Arquimedes, nela existem diversas lojas e ferrarias, não recomendo a entrarem nas mais luxuosas, eles vendem boas armas, mas dificilmente encontrarão algo que realmente valha o preço que eles cobram. A ferraria que mais possuo recomendações positivas é a ferraria de Ganimedes, fica mais próxima daqui inclusive”.
Ambos agradeceram e assim que Liam terminou de comer, eles se levantaram e foram em direção da loja indicada pelo estalajadeiro.
Liam foi o primeiro a perguntar: “Diga me, Ace. O que te motivou a vir para Saint Royal e tentar entrar na Classe de Heróis? Sei que é filho de um Duque e teve treinamento para isso praticamente, mas quero saber se você tem alguma motivação mais específica, afinal, você fala sempre com convicção que entrará, mas já ouvi que muitas pessoas poderosas falharam em entrar nessa Classe, como se poder não fosse o que bastasse”.
Lucius sorriu, sabia que acabaria tendo essa conversa, e tinha a resposta formulada: “Eu quero me tornar um Herói, quero devolver a liberdade aos Reinos, sei que isso pode custar novas guerras no futuro, mas penso que os Reis poderiam entrar em comum acordo depois de tantos anos sendo oprimidos por um Imperador, e se necessário for, quero ser esse mantenedor da paz, assim como os demais Heróis que se formarem comigo. Sei que não basta ser poderoso, creio que o segundo fundamento seja ter convicção sincera, independente de qual seja. E você, Liam, qual seu desejo em entrar para a Classe?”.
Liam sorriu: “Minha motivação é parecida com a sua, mas eu teria uma forma melhor de manter a paz... o Rei de Imortus quer que eu me forme como Herói e case com sua filha, dessa forma eu assumiria o posto de novo Rei de Imortus. Desde que exterminei um Dragão de Terra que invadiu nossa Vila há alguns anos ele tem me visto com cada vez mais carinho e acolhimento, fora meu pai ser seu guarda mais fiel há vários anos...”, dessa vez o sorriso dele não parecia ser tão verdadeiro, não irradiava o calor costumeiro.
“Tem um mas oculto nessa sua fala, tem algo que te incomoda nisso tudo, não tem?” Lucius sorria por dentro, pelo visto havia algo que poderia se utilizar caso decidisse apagar a memória de Liam e torná-lo seu servo.
“Bom, na verdade tem sim...” Liam ia continuar, mas eles olharam para frente e viram que haviam chegado até a ferraria que havia sido recomendada.
Ela era bem imponente apesar de não ser a mais luxuosa da rua, sua vitrine e estrutura eram construídas de madeira talhada em ornamentos belíssimos, sendo decorados por inúmeras armaduras e armas diferentes.
Pela hora, a loja ainda estava vazia e parecia ter apenas mais uns 2 clientes fora ambos.
Eles começaram a olhar ao redor, procurando algo que agradasse. Lucius tinha a vantagem por conseguir identificar os espectros das armas, isso era o que dizia se elas poderiam ou não se tornarem armas sagradas dependendo de quem as empunhasse.
Geralmente era o que ocorria nesse mundo, não importava muito o estado atual da arma, se ela possuísse um espectro embutido pelo ferreiro, dependendo de quem a manuseasse ela poderia evoluir e tornar-se uma arma sagrada.
Liam estava olhando fixamente para uma espada meio enferrujada, Lucius decidiu olhar com mais atenção. Seu sobressalto quase foi nítido, ele mesmo procurava por essa espada há gerações, não imaginara que estaria sob seu nariz, à venda em Saint Royal.
Mas a emoção tomou conta e falou mais alto que a lucidez: “Liam, compre essa espada que está encarando, mas não a toque enquanto estivermos dentro da loja”.
Liam o olhou com dúvidas: “Eu realmente me senti tentado a comprá-la para treinamentos por ela ser bonita, mas não a tocar? Você por acaso consegue ver espectros das armas, Ace?”, Lucius ficou tenso, novamente Liam percebia mais do que devia, mas ele ignorou esse fato.
“Sim, os Magos que me treinaram conseguiam fazer isso e me ensinaram qual a técnica para tal, demorei quase 10 anos para conseguir finalmente dominar e não me confundir”, Lucius teria que expor um pouco do que sabia, “Essa espada é de uma época muito antiga, antes mesmo da criação da Profecia, ela foi forjada pelas mão de um ferreiro mestiço entre as raças dos Demônios e dos Anjos, acreditavam que ela era apenas uma lenda ou que havia sido destruída quando o Imperador Demoníaco derrotou seu último portador, que foi Leon Serc Victorius, o Primeiro Herói. Eu digo para não tocá-la aqui, pois caso a toque e você tenha os pré-requisitos para empunhá-la, o vendedor jamais a venderia por preço tão singelo”, Lucius precisava ser precavido, aquela espada quase o matara uma vez, mas ele precisava testar se Liam estava a altura de Leon.
Liam acenou concordando: “Senhor ferreiro, poderia embalar esta espada para mim por favor, irei utilizá-la para treinamento já que perdeu seu fio”, o vendedor veio até eles e a pegou, ele de fato não parecia dar a mínima para a existência daquela espada.
Com aquele problema resolvido, Lucius decidiu verificar ao redor, para se certificar de que não havia mais nenhuma outra espada com o espectro de uma arma sagrada.
Foi então que ele bateu o olho em um cetro de pé no canto, parecia ser feito de uma madeira frágil com um simples globo de rubi em seu topo, mas assim que o viu se alegrou. Aquele era o Cajado do Dragão Ancião que havia batalhado com o lendário cavaleiro São Jorge, uma arma capaz de absorver a Mana da Lua e do Sol para usá-las em conversão de magia.
Como de se esperar de uma arma forjada por Dragões, ela facilmente mudava de forma dependendo da vontade e do poder de seu portador.
“E eu levarei este cajado, Sr. Ferreiro, fora aquela espada celeste pendurada no mural. Ainda estou iniciando meu domínio na Magia, creio que esse cajado antigo sirva até eu atingir o próximo nível”, Lucius precisava disfarçar e comprar algo de valor, para que o ferreiro não suspeitasse e os julgasse mal.
Assim que finalizaram o pagamento, se dirigiram para a praça central da cidade, as pessoas começavam a aparecer conforme a hora avançava.
“Ace, você não comprou esse bastão à toa, não é? Se você consegue ver o espectro das armas deve ter visto algo de interessante nele, conta aí o que foi?”, Liam parecia bastante curioso para saber.
Lucius riu: “Calma, vamos por partes. Eu não sei se você gosta de chamar a atenção, mas porque não testa empunhar sua espada nova?”, ele sabia o que estava para acontecer, a espada só era ativada com estigmas, e no caso, Liam possuía um estigma bem interessante.
“Ok, mas assim que vermos o que vai acontecer, você vai me contar mais sobre esse cajado estranho”, Liam riu e desembrulhou a espada em cima de um dos bancos.
Ele cautelosamente foi aproximando sua mão do cabo da espada e assim que o agarrou uma explosão de energia emanou daquele ponto.
A força do vento foi tão poderosa que Liam precisou segurar o cabo com as duas mãos. Quanto mais forte ele segurava, mais forte o vento ficava, ele teve que ativar sua Magia do Tempo para reverter o fluxo temporal do vento ao seu redor para se manter no lugar a segurando.
Até que o cabo da espada começou a brilhar cada vez mais intensamente, irradiando para toda a lâmina. Em uma enorme rajada de luz para cima, ela finalmente parou.
Agora em suas mãos Liam não mais segurava a antiga espada enferrujada, agora ele possuía uma verdadeira relíquia.
A espada havia se tornado completamente dourada e branca, com incríveis arcos de luz expandindo-se de seu cabo formando uma espécie de empunhadura como engrenagens de um relógio, a lâmina havia se tornado gigantesca, irradiando uma poderosa aura branca em torno da lâmina dourada.
“Parabéns, Liam, você oficialmente conta com uma espada lendária em mãos”, Lucius estava mais excitado e ansioso do que surpreso, a forma assumida pela espada era totalmente diferente de quando ele a enfrentara quando estava em posse de Leon, refletindo bem a personalidade e compatibilidade de Liam.
Todos ao redor olhavam abismados para o feito, mas ao mesmo tempo pareciam não entender o que havia acontecido. Ninguém ali devia conseguir enxergar o espectro da espada, muito menos reconhecê-la como a lendária Durandall.
“Agora que ela é sua, você pode guardá-la de forma mais fácil, a vantagem de espadas Sagradas é que elas são incorporadas ao corpo de seu portador, só sendo expelidas ou perdidas quando este ordena ou quando ele morre. Então simplesmente a aproxime de seu peito, ela irá desaparecer e fundir-se com seu corpo, sempre que precisar dela basta esticar a mão ou puxá-la de seu corpo”, Lucius precisou ensinar isso logo a ele, para que parassem de focar tanta atenção neles.
Liam aproximou a mão de seu peito e sentiu a arma Sagrada fundir-se ao seu corpo: “A sensação é mais estranha do que parece ser, mas não incomoda. Estou realmente surpreso, parece que ao portar ela meu poder se elevasse dezenas de vezes. Enfim, vamos à próxima questão, quero ver o que vai acontecer quando você tocar nesse seu cajado estranho”.
“Para você se situar, este cajado também é uma Arma Lendária, porém não posso dizer que seja Sagrada, pois não foi forjada por anjos e demônios. Este foi o cetro forjado e utilizado pelo Antigo Dragão Ancião Deus da Lua e do Sol, era com o poder deste cetro que ele era capaz de absorver Mana e energia destes astros. Este cetro também havia sido considerado como destruído por São Jorge, mas pelo visto ele o manteve, tentando usufruir de seu poder, porém, possivelmente ele não sabia qual a maneira de usar seu poder”, Lucius sorriu, em suas mãos aquele cetro era muito mais poderoso e eficiente que qualquer arma Sagrada. Afinal, a Mana Lunar era de total característica da Escuridão, nenhum humano era capaz de usar essa característica, provavelmente por isso São Jorge escondeu que esse cajado não havia sido destruído.
“E com certeza você sabe o segredo para usá-lo, ou estou enganado? Afinal, vindo do poderoso e sábio Ace, não é possível que aja algo que você não saiba” Liam riu, gostava de mexer com o ego de seu novo amigo.
Lucius sorriu: “Eu já ouvi histórias sobre este cetro, convivi muito tempo com os lordes Dragões, e por vezes eles contavam mitos sobre como o Ancião deles havia conseguido masterizar e canalizar a energia Lunar e Solar, afinal, ambas são opostas. Eles contam que o próprio sangue de Dragão foi a resposta para a equação, devido serem seres místicos sem propriedades primordial Yin e Yang, dessa forma eles neutralizam a bipolaridade e repulsão de ambas. Vamos ver se a teoria dele estava correta”.
Lucius puxou um frasco de vidro de dentro de sua bolsa mágica, o líquido dentro era de um vermelho viscoso e brilhante. Liam o olhou surpreso: “Como você tem tanto sangue de Dragão guardado consigo? Isso geralmente custa fortunas”.
O Imperador deu de ombros, isso ele não iria contar para Liam: “Isso realmente é o mais importante nesse momento? Vamos ver se a teoria deles estava correta”.
Lucius pingou umas gotas de sangue em cima da bola de rubi. Após alguns segundos sem nada ocorrer, o globo começou a absorver o sangue e brilhar, mas não era o mesmo brilho da espada Durandall, era menos luminoso, mas com muito mais pressão de absorção, era como se estivesse sugando a Mana de tudo que estava ao redor.
Mas principalmente de Lucius, ele sentia como se aquele cetro quisesse engoli-lo por inteiro. Até que ouviu uma voz em sua mente: “Ora ora, parece que temos algo interessante dessa vez, você com certeza é dezenas de vezes mais poderoso que Jorge e do que eu jamais fui, somente assim conseguiria resistir para que eu não o absorvesse, logo eu, o Grande Dragão Ancião que dominei a Lua e o Sol”.
Agora Lucius entendia o motivo de São Jorge não haver dito nada, o cetro havia drenado toda sua vida e seu corpo.
Da mesma forma que lhe foi dito, ele devolveu para o Dragão: “Você já percebeu a situação, recomendo que pare agora de tentar me sugar, caso contrário não terei mais piedade e irei destruí-lo junto a este cetro”.
O Dragão engoliu em seco, Lucius havia emanado sua verdadeira natureza para ele, e mesmo sendo um Dragão poderosíssimo que vivera milênios, ele não chegara nem perto de conseguir o que o Imperador conquistou.
“Claro, Mestre. A partir deste momento este cetro e este humilde Servo, com toda minha inteligência e conhecimentos, pertencemos ao senhor”, o Cetro parou de brilhar e começou a soltar uma nuvem de fumaça, diminuindo de tamanho até tornar-se um anel em forma de dragão.
“Ótimo, assim está bem melhor”, exclamou Lucius, colocando o Anel em seu dedo, só de colocá-lo ele conseguia perceber a corrente de Mana emitida pelo Sol e pela Lua pairando ao redor de tudo ali presente, era como se fosse uma energia totalmente diferente em plena suspenção, sem utilização até aquele momento, só aguardando que alguém a usasse.
Liam o olhou impressionado: “Caramba, o anel combinou com seu estilo, incrível como até nisso você tem sorte”, ele riu e cutucou Lucius com o cotovelo.
Lucius sorriu: “Olha quem está falando, o cara que conseguiu uma arma Sagrada considerada um mito. E não só isso né, o preferido do Rei mais poderoso da Guilda Mundial... isso te faz o que? Um príncipe quase? Você tem jeito de príncipe, aparência também”, finalizou com uma piscada de olho.
Liam ficou meio envergonhado, mas disfarçou: “Ah... sim, praticamente isso, a boa e velha pressão em se tornar o herdeiro do Trono, casar-se com a Princesa e blá blá blá. Isso é o que torna tudo mais difícil e complicado, se eu pudesse apenas ser o Herói que quero ser e libertar os Reinos já seria o bastante para mim, servindo como pacificador em torno do globo, e não apenas em um único Reino. Isso tornaria as coisas complicadas como eram antes do Imperador”.
Aquilo era interessante, Lucius via ali uma grande possibilidade no futuro, de tentar convencê-lo assim como fizera com Leon, lutar contra ele era inútil, então por que não o ajudar a manter a paz no globo sem maiores perdas e consequências?
Essa era a forma que o Imperador via sua supremacia. A salvação e prosperidade eram apenas consequências da demonstração de todo seu poder. Isso era o que ele queria que todas aquelas criaturas entendessem, que o poder dele havia se tornado tão grande e exponencial, que havia superado toda e qualquer chance de a Profecia ser cumprida.
Lucius olhou para Liam e o animou: “Liam, para de se preocupar com o futuro, nada está definido, lembra que temos que entrar na Classe de Heróis primeiramente, e sobreviver aos 5 anos de rígido treinamento deles. A taxa de mortalidade dessa turma é extremamente alta, até acho que eles matam propositalmente alguns alunos para que não tenham que admitir que eles não tinham todo o potencial para estarem naquela turma”.
Liam riu: “De fato, mas se eles matam os alunos por isso, automaticamente eles não estão admitindo que esses alunos não deveriam ter sido selecionados?”.
Lucius fingiu coçar a barba imaginária: “De fato, mas eles alegam serem assassinos poderosos enviados pelo Imperador que matam esses alunos desavisados, que geralmente são pegos em lugares que não deveriam estar, então já fique avisado Liam, não sentirei pena de você se for pego por um desses assassinos enquanto estiver no Distrito dos Bordéis”.
O Herói o retrucou: “Fala sério, Ace, a maior probabilidade de alguém ser morto naquela área é você, Senhor Promíscuo”.
Lucius ia retrucar, mas uma pessoa pulou entre ambos agarrando-os pelo pescoço e rindo disse: “De fato, Ace, você é o mais possível de ser morto por lá, Senhor Promíscuo Esquentadinho”.
Lady Mia os largou e se sentou entre ambos, abraçando seus braços: “Ora, vejam como já estão super amiguinhos, vocês podiam me incluir nesse clube de vocês dois, não é? Quem sabe um dia isso possa ficar mais interessante?” ela deu um sorriso malicioso para ambos.
Lucius riu: “Isso vai depender de nosso querido Herói, ele parece ser muito certinho, você não acha? Eu acho que ele não teria culhões suficientes para se aproximar de uma garota bonita como você por conta própria”.
Liam riu e se defendeu: “Olha aqui, Ace, o fato de eu não ser um galanteador como você não me torna um santo. Ficando aqui entre nós, vocês acham que por acaso a Princesa Elizabeth de Imortus é virgem ainda? Eu só jogo nesse nível, caro Ace. Por isso não duvide se um dia Lady Mia não se interessar mais por você e só quiser saber de mim”.
A Dama das Águas riu: “Olha só, você viu isso, Ace? Eu fui comparada ao nível de uma Princesa tão linda quanto Liz, acho que ele tem razão sobre você me perder”, ela abraçou mais forte o braço de Liam.
“Bom, eu só vejo duas pessoas tentando me provocar, mas nenhuma conseguindo comprovações para suas alegações, afinal de contas, ambos sabem do que meu charme todo é capaz”, Lucius emanou uma suave aura de calor que atingiu os dois.
Ambos riram e bufaram. Mia o apertou: “Você não sabe brincar, Ace. Não precisava me atiçar assim logo antes dos exames. Falando nisso, por que já não nos dirigimos para a entrada da Academia? Eu quero tentar ficar o mais na frente possível, quem sabe consigo chamar atenção de Ezequiel, vocês já viram quão lindo ele é?”.
Ela se levantou e os puxou para fora do banco, empurrando-os em direção à rua principal que levava até a entrada da Academia.
Assim que chegaram de fato eram uns dos primeiros, devia ter somente mais umas 50 pessoas até aquele momento. Uma em especial chamou a atenção de Lucius, que com um estalo, fez um laço de fogo chegar até ela e conseguir que o notasse.
Nina se virou ao ver o laço de fogo, pulando de alegria assim que viu Lucius. Ela foi correndo até onde ele e os outros dois Heróis estavam.
A situação para Lucius não poderia ser melhor e mais irônica, ele estava literalmente rodeado por seus inimigos mais mortais e eles o adoravam.
Como o mundo é patético, as pessoas sempre irão atacar aqueles extremamente mais poderosos, mas sempre irão respeitar aqueles que podem derrotar caso necessário.
A crença em um mundo pacífico onde existe mais de um comandante é patética, pois sempre haverá a ânsia por mais, o desejo de conquista e dominação é inerente ao ato de existir.
“Nina, que prazer encontrá-la tão cedo nos exames. Estes são Liam e Mia, da mesma forma que você, acabei virando amigo de ambos por acaso do destino. Espero que todos nós nos dêmos bem”, Lucius a introduziu para os outros Heróis, quanto mais amigos fossem, mais interessante seria ver o desenrolar dessa história, afinal, a chance de um ou outro ficarem aliado a ele e inimigo dos outros era muito alta.
“É um prazer conhecê-los, conto com o auxílio de vocês, e podem contar comigo para o que for necessário”, Nina sorriu, apesar de Mia ter o corpo mais atraente, Nina tinha um calor e atratividade diferenciados, gerados por sua simpatia e alegria.
Mia sorriu: “O prazer é todo meu, Nina, espero sermos colegas de quarto, eu amaria uma irmã mais nova como você para te ensinar tudo que sei”, Lucius sentiu um pouco de malícia naquela frase, mas preferiu não comentar nada.
Liam foi o próximo a cumprimentá-la: “De fato o prazer é nosso de conhecer tão simpática dama, Nina. Pode contar comigo para o que precisar, tenho certeza de que seremos bons amigos”.
Pronto, agora Lucius já havia apresentado e conhecido todos os Heróis mais poderosos. Possivelmente ainda haveria outros com estigma na Classe dos Heróis, mas nenhum deveria gerar grande preocupação, no máximo teriam seus poderes retirados e absorvidos por Lucius.
Eles passaram a hora restante até o início dos exames conversando e se conhecendo melhor, sobre seu passado, sobre histórias que já haviam passado, entre outros assuntos.
Até que enfim chegou a hora do início dos exames.
A grande maioria das 5 mil pessoas já se encontravam ali, mas houve muitos que não compareceram, a grande maioria havia sido pela gandaia da noite anterior, afinal, haviam exagerado no consumo de bebidas.
Lucius e os Heróis haviam conseguido ficar bem à frente dos outros candidatos, praticamente na porta de entrada do saguão.
Ezequiel surgiu na mesma plataforma que o Diretor havia utilizado no dia anterior, sendo ele dessa vez a dar as boas-vindas e iniciar a aplicação dos exames.
“Sejam todos bem-vindos a Academia Saint Royal. Espero que suas viagens e estadias tenham sido confortáveis e tranquilas no dia de ontem, pois todos irão precisar dar seu máximo no dia de hoje. Como todos sabem, a Academia não os avalia somente pela demonstração de suas forças, isso com certeza interfere, mas o que de fato os classifica é a capacidade máxima que vocês têm para evoluir e crescer. Cada um de vocês já é um aluno de nossa Academia apenas por estarem pisando aqui, agora a decisão de permanecer onde o alocarmos ou não caberá única e exclusivamente a vocês. A desistência é válida e sempre será permitida, porém, lembrem-se que são oportunidades únicas que terão em suas vidas, de tornarem-se Magos e Cavaleiros reconhecidos oficialmente pelo Reino de Imortus e pela Guilda Mundial. Agora iremos realizar os exames com bases na medição de poder base de vocês. Todos devem entrar no Salão Da Glória, na entrada existe uma bola de cristal, coloquem a mão sobre ela, dessa forma os avaliadores ao lado conseguirão medir seu nível de absorção e conversão de mana, assim como sua maior compatibilidade. E para finalizar, uma salva de palmas para todos vocês, damos início agora ao Exame da Academia Saint Royal”, Ezequiel puxou as palmas e após breves segundos os portões da Academia se abriram, os Exames haviam iniciado.
Como eram quase os primeiros da fila, logo havia chegado a vez dos 4. Lucius deixou que fossem na frente, queria ver com exatidão como os aparelhos reagiriam aos Heróis.
A primeira a passar pela medição foi Nina.
Ao colocar a mão sobre a bola de cristal ela começou a refletir uma enorme tempestade com relâmpagos e trovões retumbando por todos os lados.
Pela magnitude da tempestade é como sua capacidade máxima poderia ser medida, ou seja, em um futuro ela seria capaz de criar tempestades cataclísmicas.
Logo a professora avaliadora a encaminhou para a sessão A, para os prosseguir com os próximos testes.
Em seguida foi a vez de Mia, quando ela colocou a mão, a bola inteira foi preenchida por água, em seguida foi possível ver diversas partes do continente sob esta água, inundados em um poderoso tsunami.
A Dama das Águas foi encaminhada para o setor A também.
Liam era o próximo. Lucius estava intrigado em como seria a demonstração de capacidade máxima de sua compatibilidade com o tempo.
A bola brilhou em uma luz dourada por instantes, em seguida mostrou quase todo o mundo congelado no tempo, incluindo pássaros e peixes, o próprio vento havia cessado, as folhas que estivessem caindo permaneciam no ar.
Lucius sorriu, então ele seria capaz de congelar o tempo no mundo inteiro se preciso, isso é interessante.
A professora ficou espantada, nunca havia visto tal representação por alguém. Ela logo o encaminhou para a sessão A, era a primeira vez que encaminhava 3 pessoas seguidas para a sessão mais difícil de ser preenchida.
Enfim havia chegado a vez de Lucius, o que era bem problemático, afinal, ele tinha que conter a visão da bola para 10% de seu poder para se assemelhar ao que haviam visto com os outros Heróis.
Ele colocou a mão sobre a bola, por um instante tudo ficou escuro, “Droga, foi demais de poder”, pensou por alguns segundos, até que a visão de cidades sendo dizimadas atomicamente surgiu na tela. Graças a seu controle não haviam sido muitas cidades, se fosse mais que aquilo já o olhariam como um monstro, mas proporcionalmente ele havia atingido o mesmo nível que os demais.
A professora o olhou espantada: “Essa é uma das primeiras vezes que vejo a compatibilidade da destruição. Acho que teve apenas mais uns dois ou três alunos que obtiveram sucesso com essa compatibilidade em toda a história da academia, boa sorte, pode ir para a sessão A”.
Lucius a corrigiu mentalmente: “Na verdade foram 4, tola, mas 1 deles era muito perigoso para que eu não o detivesse antes que ele fosse capaz de dominar totalmente esse poder”, Lucius se lembrava ainda quando encontrou aquela criança, ele havia destruído todo seu vilarejo por acidente quando espirrara, e quando o Imperador o encontrou chorando, quase foi desintegrado, por sorte seus poderes ainda eram maiores que o da criança, sendo fácil absorver seus poderes e matá-lo.
O Imperador se dirigiu até a sessão A, sentando-se juntos aos outros 3. Demorou mais meia hora até que os 5 mil houvessem sido distribuídos entre as sessões que iam desde H até a A, sendo 8 sessões classificadas de acordo com seu nível, sendo A o nível Armagedon e H o nível Aprendiz. Ainda existia o nível de classe S acima de A, porém nunca havia surgido alguém a ir direto para o nível Celestial.
Na Sessão A deveriam ter entrado cerca de 100 candidatos apenas, ou seja, esses eram os que possuíam maior chance de tornarem-se Magos e Cavaleiros de classe Armagedon, mas não necessariamente seriam poderosos naquele momento, então havia mais dois testes, um que mediria o poder e aptidão mágicos, e o outro que testaria suas habilidades físicas e habilidades de luta, até mesmo os magos eram treinados para serem ágeis e especialistas em algum tipo de luta ou arma.
Uma das professoras da Classe dos Heróis realizaria a avaliação da sessão A, ou seja, ela já iria começar a reparar quem destes 100 poderia ser um possível Herói.
Lucius havia conseguido identificar Heróis em outras Sessões, mas seus estigmas não passavam de 10, então não teria importância, bastava matá-los e absorvê-los caso houvesse a possibilidade.
A professora os guiou por uma das várias saídas do Saguão, levando-os por entre os corredores gigantescos e bem arejados da Academia. Ela era realmente magnífica com todos seus ornamentos e jardins entre cada bloco, torre ou sala de habitação.
Eles chegaram até um dos diversos campos de treinamento ao ar livre preparados ao redor da escola, aquele parecia ser o mais reforçado magicamente, afinal, poderiam ainda não estar em sua capacidade máxima, mas todos ali deveriam ser capazes de um grande estrago.
A professora se apresentou: “Meu nome é Margareth, se por acaso forem bem em suas demonstrações eu permito que me chamem de Maggie. Hoje iremos avaliar as classificações de suas habilidades, foram colocados aqui por terem capacidade de serem Magos e Cavaleiros nível Armagedon, porém isso não significa que já estão nesse nível, para tal usaremos uma classificação secundaria de 1 a 5, sendo o 1 o mais forte, e 5 o mais fraco. Essa classificação será medida com a média da pontuação de vocês tanto em magia quanto em aptidão física”.
Ela passou encarando cada um deles, até que chegou na frente de Ace: “Bom, você parece ser bem forte, vamos começar com você, para dar exemplo do que seria um classe 1”.
Margareth o puxou para frente e o colocou sobre o pedestal que havia na frente do campo de prática mágica: “Para fazermos a métrica dos poderes, usaremos o feitiço básico de fogo, a explosão incendiária. Vocês devem mirar o feitiço no centro do campo e fazer com que ele seja projetado para cima, mesmo quem possui compatibilidade com o fogo não se destaca além dos demais nesse feitiço pois ele é de uso comum. Por isso o utilizamos, e outra coisa, quem não conseguir realizar ao menos essa magia, não tem por que sonhar em ir para a Classe de Heróis”.
Ela realmente era uma ótima professora, pensava Lucius, afinal, sabia bem como trabalhar a ambição desses alunos, pois todos ali sabiam que a Classe teria no máximo 30 alunos, ou seja, 70% da turma já estava fadada a ingressar apenas na classe Armagedon.
Nesse caso Lucius iria elevar um pouco o nível dessa competição, chegando em um nível que ele tinha certeza de que somente Liam o superaria e que Mia e Nina chegariam próximas.
Lucius ergueu a mão a sua frente e canalizou uma boa fração de seu poder em direção ao centro do gramado, iria fazer o chão ficar praticamente ileso, apenas chamuscado, mas ia quase romper a barreira mágica acima deles.
Eu um instante ele liberou toda a Mana canalizada em uma enorme explosão que formou uma coluna de chamas gigantesca no centro do campo se elevando até a barreira mágica o que fez esta estremecer, e só não quebrou pois o fogo espalhou-se e formou um enorme cogumelo no ar.
Quando passou o show, o solo estava praticamente intacto, com apenas um buraco bem no centro do campo e a grama chamuscada.
“A partir de agora pode me chamar de Maggie, eu realmente não esperava que fosse quebrar a barreira, se não tivesse espalhado o fogo você com certeza a teria destruído. Muito bem, temos nosso primeiro A1. Vamos aos próximos, pode voltar ao seu lugar, Ace”, Lucius voltou para o lado de Liam após a professora o liberar, todo mundo o olhava espantado, menos Liam.
“Como você gosta de se aparecer, não é, Ace?”, ele balançava a cabeça em tom de desaprovação.
Lucius riu: “Ora, não diga como se você não pudesse fazer o mesmo, você está sendo hipócrita, e se não usar seu poder máximo assim como eu, vou achar que você é só um falso que gosta de manter as aparências”.
Liam o olhou de canto de olho, parecia emburrado: “Você sabe como me provocar, não é? Pois bem, vou destruir essa barreira, assim você ficaria feliz?”.
Lucius riu: “Você não faz ideia do quanto”, era bom saber que ele tinha toda essa influência sobre o Herói.
Mia e Nina só olhavam assustadas para ambos, não acreditavam que eles estavam discutindo com tanta facilidade o fato de destruírem uma barreira mágica colocada pelos professores.
Os 3 heróis acabaram ficando por último para se apresentarem pelo fato de estarem junto a Lucius, a professora não quisera correr o risco de destruírem a barreira antes que todos fossem testados e, aparentemente, eles pareciam ser os que mais dariam trabalho.
Nina foi a primeira dos 3 a ser chamada.
A explosão dela foi gigantesca, mas não muito bem controlada, acabou destruindo metade do chão, fora a coluna ter atingido a barreira também.
Em seguida foi a vez de Mia, mas como a especialidade dela era a água, e ela quase não usava a magia de fogo para não correr risco de explodir seus navios, a explosão dela foi segura, acima da média dos demais, mas não se comparava com a de Nina ou Lucius.
E por fim foi a vez de Liam.
Ele fez o mesmo processo que Lucius, canalizando bem no centro do campo a Mana de fogo que ele queria, após alguns segundos ele a liberou, a coluna não foi tão espessa quanto a do Imperador, porém, foi muito bem focalizada, subindo tão alto e forte que facilmente rompeu a barreira mágica e subiu além da torre mais alta de Saint Royal, fora que o buraco no chão do pátio estendia-se por alguns metros dentro do solo.
Margareth suspirou: “Eu tinha certeza de que isso ocorreria, que bom que deixei você para o final. Muito bem, agora que todos foram analisados por sua magia, temos até agora um total de 10 A1, 15 A2, 25 A3, 20 A4 e 30 A5, isso é uma média muito boa até o momento, e iremos realizar os testes de aptidões físicas agora, para enfim finalizarmos as classificações e decidir quem irá para a Classe de Heróis e quem permanecerá na Classe Armagedon”.
A professora estendeu a mão a frente de seu corpo, os alunos foram erguidos por uma plataforma de mármore, sendo espalhados como em uma arquibancada, abrindo espaço para o campo de treinamento que se formara onde houvera um buraco no chão.
“O teste de aptidões físicas de vocês será realizado com base em treino de batalha simulado, ou seja, se realmente querem permanecer nessa turma é bom que tenham treinado pelo menos uma mísera parte de vocês, ou acabarão morrendo no processo”, a forma que ela havia sentenciado sua frase não fora ameaçadora, mas sim como um alerta, era impossível que ficassem naquela sala se não tivessem despertado ao menos seu espírito de luta.
Espíritos de luta são uma manifestação física no corpo que transmuta as características físicas de alguma besta afim de aumentar as habilidades físicas de uma pessoa.
Lucius conseguia sentir por sua experiencia de batalha que havia uma dúzia de candidatos que ainda não haviam despertado seus espíritos, o que era o contrário dele, que possuía doze espíritos a seu dispor, um para cada tipo de situação desfavorável.
“Como sou uma entusiasta do esporte, deixarei Ace e Liam por último, afinal nós merecemos um bom espetáculo após demonstrações tão interessantes”, Margareth sorriu, apesar de ser uma professora ela era no mínimo muito excêntrica em seus gostos sadistas.
Havia diversas histórias sobre como ela já havia se relacionado com alunos apenas para satisfazer seu desejo por conhecimento e tentar entender mais a fundo como se era escolhido um Herói.
A instrutora provavelmente conseguia sentir aqueles que não possuíam um Espírito de batalha, pois foram os primeiros a serem mandados para o campo de batalha e imediatamente desclassificados da turma de Heróis, porém não eram de todo fracos, duas pessoas haviam se destacado, pois mesmo não possuindo Espíritos derrotaram candidatos com Espíritos do Licantropo, um dos mais comuns se tratando de novatos, mas poderosos da mesma forma.
Kyera era uma garota de pele morena e cabelos azuis como o oceano, possuía diversas tatuagens pelo corpo, provavelmente era de uma das tribos élficas, seu manejo com adagas era impecável, a ponto de permanecer com sua pontuação em 1ª.
Varsak era um descendente de anjos, sua habilidade com o florete era divina, ele não havia desenvolvido seu Espírito ainda pois dedicara-se a masterizar sua habilidade em combate, e havia dado certo, ele conseguiu derrotar sem nenhuma dificuldade seu oponente. Fazendo com que este fosse colocado em uma posição bem desfavorável, afinal, alguém com Espírito perder para alguém que não possui é raro de acontecer, a diferença de habilidades físicas geralmente é gritante.
O anjo se aproximou de onde Lucius e os outros estavam e sussurrou para o Imperador, “Eu não sei quem você realmente é, mas tenho certeza de que não é apenas humano. Eu não sou uma ameaça, quero poder, quero força, quero acabar com os desgraçados angelicais que mataram minha família, me leve contigo... eu prometo que serei útil”.
Lucius olhou profundamente nos olhos de Varsak, sentia uma estigma dentro dele, mas não era como a dos Heróis, parecia corrompida, era a primeira vez que via algo assim, pareceu interessante.
“Eu não sei do que está falando, mas espero que entre na Classe dos Heróis, seria interessante ver alguém com sua habilidade se desenvolver ou morrer”, Lucius tocou no ombro do anjo, um choque percorreu o corpo deste, era a magia de servidão implantada.
Varsak entendeu o que aquilo significava, a partir daquele momento não tinha mais caminho de volta. Sua vida estava na palma da mão de Ace.
O garoto se prostou atrás de Ace, dando espaço para ele e as duas meninas, assim como Liam que estava do seu lado direito.
A professora por fim anunciou a batalha de ambos: “Liam, Ace, entrem na arena por favor, como são amigos sei que não preciso dizer para não se matarem, mas agradeceria se não matassem a todos como efeito colateral de sua luta, então, por favor, limitem suas habilidades para somente ataques físicos usando seu Espírito”.
Liam se alongou na frente de Lucius, arrancando alguns suspiros da plateia ao retirar seu cabelo do rosto e arrepiá-lo novamente, como se isso já fizesse parte da disputa, Ace arrancou a camisa e se alongou, o que arrancou gritos além de suspiros.
O Herói riu: “Então é assim que quer jogar, Ace? Acho que não consigo competir com seu ego, se é isso que quer saber”.
Ace sorriu ironicamente: “Eu não sei o que quer dizer, eu só não posso sujar uma camisa tão bonita que ganhei”, ele deu de ombros e jogou a camisa para Nina, que ficou vermelha dos pés até a ponta de suas orelhas pontudas.
Mia riu baixo e sussurrou para Nina: “A noite te mostro o que mais da pra se fazer com algo assim”, isso fez todos os pelos do corpo da pequena elfa se arrepiarem e bater na mão de Mia para se afastar.
Ace riu e estalou os dedos: “Acho que já dá para começarmos”, Lucius tinha que se controlar nesse momento, tinha que parecer forte, mas se demonstrasse seu Espírito de luta real, todos ali morreriam pela simples pressão, pois seu espírito era uma Hidra Dracônica amaldiçoada, um ser único que até mesmo Lucius havia tido dificuldade para lidar, por ser novo na época.
Então ele evocou outro Espírito, não tão poderoso, mas igualmente surpreendente, uma Fênix Paladina. Seus braços foram envoltos por uma aura flamejante que se assemelhava a asas, assim como suas pernas possuíam um rastro dessa mesma aura flamejante.
Liam olhou surpreso, “Eu sabia que ele possuía um Espírito poderoso, mas imaginar que seria uma besta lendária... isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto, como eu luto contra um cara desses”, seus pensamentos flutuaram em desespero por alguns segundos até se reestabelecer e evocar seu próprio Espírito.
Uma aura dourada começou a envolver seu corpo como um todo, com garras pontudas projetando-se de suas mãos, e espinhos de seus braços.
“Ora ora, pelo visto veremos o embate de uma Fênix contra um Urso Espinhoso, não é algo que se vê todos os dias, mas a diferença de um para o outro é muito grande, por mais que o Urso seja uma besta rara, não se compara a uma Fênix, eu nem sabia que um aluno da idade dele poderia ter poder para aguentar tal espírito”, Margareth coçava o queixo, estava em total êxtase pela batalha que se iniciaria.
O primeiro movimento foi de Ace, por mais que a tática mais segura para uma batalha fosse esperar, não era do feitio de Lucius, e Liam sabia disso.
A velocidade foi absurda, em um segundo ele havia quebrado todo o espaço que havia entre eles, seu punho foi direcionado diretamente ao rosto de Liam, acompanhado por toda a rotação de seu corpo para levar a força ao seu máximo, mas o Herói confiou em seus instintos e foi capaz de desviar se esquivando para trás.
Porém Ace esperava por isso, continuando o movimento e usando o impulso para gerar uma rotação poderosa o suficiente que atirasse sua perna na coluna de Liam.
O garoto pressentiu que viria uma sequência de golpes intermináveis se desviasse novamente, então ele adiantou um passo e ficou na altura da coxa de Lucius, agarrando a perna ao sentir o impacto, sem interromper o movimento ele usou a própria velocidade do golpe para girar seu corpo e arremessar Ace contra o chão.
Mas Lucius interrompeu sua queda curvando seu corpo e apoiando suas mãos no chão, usando a força do movimento para afastar-se do Herói, mas esse não esperou uma recomposição e avançou com suas garras em direção a Lucius, porém sua velocidade não se comparava a da Fênix.
Ace agachou e avançou chocando seu corpo contra a lateral de Liam, e usando sua outra perna, retirou o chão da base do Herói, levantando-o ao ar, para em um milissegundo lançar uma poderosa cotovelada em seu estomago e amassá-lo contra o solo, uma cratera formou-se espalhando uma enorme onda de poeira pela arena.
Por um segundo todos acharam que havia acabado, pela força do impacto qualquer um ali teria sido nocauteado, mas em outro segundo a poeira foi afastada pela onda de choque gerada de uma intensa troca de golpes.
Liam já estava de pé, sua boca tinha pequenos cortes onde os golpes de Lucius o haviam acertado, enquanto Ace possuía mínimos cortes em seu torso causado pelos arranhões dos espinhos e garras.
A luta se estendeu por mais 5 minutos em pé de igualdade, em sequências impressionantes de velocidade, agilidade e força, a cada tentativa de soco, uma esquiva era recebida junto de uma devolução, e dessa um contragolpe era aplicado pelo adversário.
Liam suava e sangrava mais que Ace, que suava, mas não parecia nem um pouco incomodado ou cansado. O Herói limpou um filete de sangue que escorreu de sua boca e atirou-se em direção a Ace, precisava terminar naquele golpe, ou não conseguiria se levantar depois disso.
Lucius abriu o braço e aguardou, Liam desferiu um soco em direção ao seu rosto, mas era apenas uma finta, que foi seguida de um golpe rasteiro, fazendo com que Ace saltasse, para que com o que restou de suas forças, Liam agarrasse seu pé e usando o próprio peso de Ace o jogasse com toda sua força em direção ao solo, mas antes que seu corpo atingisse o chão, Ace chutou o rosto de Liam com a sua perna livre e apoiou o impacto com o braço e o redirecionamento gerado pela força de seu chute, levantando-se facilmente após rolar.
Liam não se levantou, ele arfava deitado com as costas no chão e seus olhos fechados, não estava muito machucado, mas estava totalmente exausto.
Ace chegou próximo ao amigo e estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar: “Então esse é o Herói que acabou com dezenas de bestas? Você parece meio acabado, tem certeza de que não roubou esses feitos de outras pessoas?”.
Liam riu e aceitou a ajuda, levantando-se lentamente: “Acredite, Ace, enfrentar você é muito mais cansativo que matar um Dragão selvagem. Você nem está suado direito. Você é feito do que afinal?”.
“Se está tão interessado em saber não precisa achar desculpas, é só pedir”, Ace soltou um olhar afiado para Liam, que corou e riu, enquanto caminhavam em direção a professora que já definia em seu caderno aqueles que haviam se classificado e em qual posição.
“Foi uma batalha e tanto, mas imaginar que a disparidade seria tamanha em quesito força física, por essa eu realmente não esperava. Parabéns a ambos, creio que serão muito valorosos esses anos na Classe dos Heróis como Presidente e Vice-Presidente”, ela parabenizou a ambos.
Ace sorriu: “Nada menos que o esperado, não é mesmo meu caro vice? Acho que terá que trabalhar em dobro para me superar e virar presidente, a não ser que queira ter que me obedecer pelos próximos 5 anos”.
Liam olhou em desespero para a professora: “Professora, por favor, não me deixe como subordinado desse monstro, você viu do que ele é capaz, eu não vou durar os 5 anos assim”, ele estava brincando, mas seu rosto arrancou uma gargalhada de Margareth: “Não se preocupe, Liam, se ele exagerar pode deixar que eu o puno”, seu olhar foi feroz para Ace, que não vacilou por um segundo sequer e devolveu o olhar com uma intensidade ainda maior, fazendo a professora ceder e se recompor.
Ao retornarem para o lado de Nina e Mia, elas os parabenizaram: “Foi um show e tanto de fato. Nina até te devolveria a camisa, Ace, mas acho que ela gostou da sensação de tê-la, e como está todo suado, acho que seria melhor não a colocar, acho que posso me acostumar com essa visão de você sem camisa com cortes, fica selvagem”, Nina corou novamente, mas não desviou da provocação: “Realmente fica... selvagem, Ace, quando se limpar eu te devolvo a camisa...”, até mesmo Mia a olhou surpresa.
Ace riu e só agradeceu: “Fica tranquila, Nina, eu pego ela mais tarde com você”, o olhar dele deixou explícito o que ele quis dizer, mas uma cotovelada o atingiu pela direita, o surpreendendo. Liam pigarreou: “Ace, para de provocar ela agora, está todo mundo olhando, vamos deixar a professora terminar a explicação e separar cada um para suas turmas”.
Todos que estavam mais próximos riram, mas ninguém ousou atrapalhar, não é como se pudessem fazer qualquer coisa diferente de apenas observar a situação, apesar de que Ace correspondia todos os olhares e os provocava, incitando que tentassem o que quer que estivessem pensando.
Assim que terminou de falar, a professora os dispensou e disse que seguissem os corredores referentes à Classe em que estivessem, cada Classe possuía um prédio próprio que servia tanto de dormitório quanto de salas de treinamento, a única hora que as Classes se misturavam era durante os intervalos, onde era permitida a interação entre todos.
A Classe dos Heróis fora uma das maiores de todos os tempos para a surpresa de Ace, pois ele não via todo esse potencial em todos os escolhidos, mas concordou com a colocação de Kyera e Varsak, pois ambos tinham estigmas de Heróis, então seu potencial para o despertar de Espíritos seria em breve após as aulas.
“Enfim iremos começar os trabalhos”, pensou Lucius, enquanto soltou um sorriso perigoso, passando em sua mente estavam as melhores formas de eliminar quem fosse necessário para absorver mais estigmas e como manter aqueles preciosos ao seu lado, como os troféus de seu poder e conquista.
Ele passou o braço em volta de Nina, Mia e Liam, os trazendo para perto: “Vamos fazer esses 5 anos serem inesquecíveis pessoal”. Todos sorriram e concordaram, estavam animados, afinal, tinham o potencial para se tornarem os próximos Heróis de sua geração.
Ace olhou por cima do ombro para onde estava Varsak e soltou o sorriso mais maldoso que poderia, congelando o garoto.
Varsak congelou no lugar, apenas um pensamento rodou sua mente, “O que é esse ser? Ele está escondendo todo seu poder e ainda assim é capaz de fazer com que eu me afunde em desespero... nem mesmo a besta amaldiçoada me fez sentir assim”.
O Grupo de Ace apenas seguiu em frente, até que Kyera encostou em Varsak e o acordou de seu devaneio: “Vamos logo, querido anjinho, não adianta olhar, eles estão em um nível totalmente diferente”, a garota o agarrou pela mão e dispararam pelo corredor.
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A Profecia Do Apocalipse
AvontuurUma profecia de tempos antigos, proferida no Caos, foi a chave para que um Imperador surgisse, um ser tão poderoso que jamais poderia ser derrotado por meros mortais, apenas aqueles ditos como Heróis seriam os destinados a dar um fim em seu domínio...