Capítulo 2

475 80 12
                                    

Era um dia ensolarado, o sol brilhava lá fora e o mundo parecia estupidamente alegre pelo que eu via da janela

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Era um dia ensolarado, o sol brilhava lá fora e o mundo parecia estupidamente alegre pelo que eu via da janela.

Ainda assim, aqui estava eu: enfurnado em meu quarto como em todo santo dia. Eu odiava o fato do mundo estar tão bonito e alegre enquanto algo horrível acontecia conosco. Ali estava desaparecida, mas isso parecia não fazer a menor diferença. As pessoas continuavam seguindo suas vidas, o mundo continuava amanhecendo colorido e vibrante.

Eu odiava isso.

Desde o desaparecimento, eu não sentia mais ânimo pra sair de casa. Não suportava ver o olhar de pena no rosto das pessoas, mas, mais do que isso: eu não suportava saber que, por onde eu andasse, aquela mesma pergunta continuaria corroendo o meu cérebro. Onde você está?

Era demais pra mim conseguir vadiar por aí enquanto minha melhor amiga poderia estar sofrendo. E como eu torcia pra estar errado sobre isso.

Fui arrancado de meus pensamentos quando alguém bateu na porta. Virei meu corpo em minha cadeira giratória, murmurando um "pode entrar".

Minha irmã abriu a porta devagar, apoiando-se na parede como ela sempre fazia; me observando com receio e preocupação, o que me irritava pra caramba. Molly tinha onze anos. Eu não suportava esse seu olhar pra mim, como se eu fosse uma criança passando por problemas e ela o adulto tentando resolver.

Bem que Alissa vivia dizendo que Molly era uma garota madura. Mas até pensar nisso fazia meu peito doer agora.

— A mamãe quer falar com você — disse Molly simplesmente. — Parece importante.

Girei minha cadeira para frente outra vez, olhando para o nada enquanto atirava uma bolinha de ping-pong para a parede e a pegava de volta. Havia encontrado ela na rua, e desde então eu vinha jogando essa coisa estúpida para o ar. Pelo menos me distraía.

— O que é? — eu perguntei tediosamente, já me desconcentrando da conversa.

Molly demorou um pouco para responder.

— Ahn... a Sra. Ross ligou.

Parei de jogar a bolinha imediatamente. Meu corpo todo ficou em alerta, e olhei assustado para Molly.

Eu sabia que aquela provavelmente era uma informação que minha mãe gostaria de me contar pessoalmente, mas só pela cara da minha irmã eu já conseguia notar que ela não conseguiria segurar a informação por mais muito tempo.

— Ligou? — Tentei fazer minha voz soar normal e despreocupada, mas até eu era capaz de notar a tensão em meu timbre. — Por quê?

Minha irmã começou a se mexer desconfortável, dando de ombros.

— Não sei. Mas a mamãe disse pra você ir lá ver.

Quando ela olhou pra mim novamente, com aqueles grandes olhos escuros idênticos aos meus, consegui enxergar a dor neles. Me deixava ainda pior saber o quanto essa situação afetava a Molly também.

Minha irmã amava a Alissa. E como poderia não amar? Ali era aquele tipo de pessoa que encantava a todos com sua presença. Ela parecia ter uma energia de outro mundo, uma coisa que só ela tinha. Era impossível você conhecer Alissa Ross e não gostar dela.

Quando vinha aqui em casa, Ali vivia falando sobre como minha irmã era linda e também tão parecida comigo. De fato, tínhamos características semelhantes. Os mesmos cabelos escuros, os mesmos olhos profundos, o mesmo queixo pontudo. Mas, por outro lado, Molly tinha um lado carismático e extrovertido que eu jamais teria. Ela tinha isso em comum com Ali.

Minha irmã continuou parada esperando pela minha resposta, os braços cruzados atrás do corpo. Ela arqueava as sobrancelhas, uma mensagem silenciosa de "você vai lá ou não?"

Eu gostava disso em Molly. Ela respeitava o meu espaço. Sabia o quanto eu estava sofrendo com essa situação, e, diferente das outras pessoas, não fazia perguntas inconvenientes.

Soltando um suspiro dramático, me levantei da cadeira e atirei a bolinha de ping pong na parede pela última vez, deixando-a para trás conforme saía do quarto. Quando alcancei a cozinha, minha mãe estava apoiada no balcão, revirando sua bolsa enorme em busca de alguma coisa.

— Por que a Sra. Ross ligou? — eu perguntei de supetão, colocando as mãos no bolso da calça e parando perto dela, esperando por uma resposta.

Minha mãe olhou para mim, parecendo cansada de ver o meu estado. Ela nem escondia a decepção por tudo o que estava acontecendo. Não decepção comigo em si, mas sim com o fato de ela não conseguir mudar isso.

— Bom, ela queria que você desse uma passada lá — disse minha mãe com um sorriso triste. — Depois da inspeção dos policiais, ela acabou encontrando algumas coisas suas. E te convidou pra ir pegar.

Desviei o olhar, pensando na coisa. Desde que tudo aconteceu, eu nunca mais fui na casa de Ali. Seria estranho estar lá sem ela. Mas, o que eu podia fazer?

— Tá, tudo bem — eu murmurei, já me preparando para fugir daquela conversa. — Eu passo lá mais tarde.

— Se quiser que a Molly vá com você...

Neguei com a cabeça.

— Não precisa, tá tudo bem. Eu vou.

Então, antes que minha mãe pudesse fazer outro discurso sobre as coisas ruins da vida, dei meia-volta e rumei em direção ao quarto novamente, fechando a porta o mais rápido possível enquanto pensava no que fazer.

Era isso. Pela primeira vez em dois meses, eu iria até a casa de Alissa.

 Pela primeira vez em dois meses, eu iria até a casa de Alissa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
60 Dias Sem VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora