A casa de Alissa era uma das maiores construções do nosso bairro.
Seguia um modelo antigo, toda em tons de branco, com pilares enormes marcando a porta de entrada.
Quando eu era pequeno, pensava que Ali morava num castelo. A casa, diferente da minha, era do tipo que você nunca via nada fora do lugar. A Sra. Ross estava sempre correndo pra lá e pra cá, garantindo que tudo estivesse em perfeita ordem. Apesar disso, nunca me senti desconfortável aqui. Alissa sempre conseguia tornar o ambiente agradável.
Estar com ela era fácil. Sempre fora. Eu duvidava que minha infância seria tão divertida se não tivéssemos nos tornado próximos.
Tentando ser o mais silencioso e comportado possível, me aproximei devagar da grande porta de mármore, tocando a campainha. Pude ouvir o som familiar reverberar pelas paredes no interior da casa, e, instantes depois, a porta se abriu.
Fiquei um pouco assustado com a visão que encontrei.
A Sra. Ross estava de roupão, o cabelo louro preso em um rabo-de-cavalo baixo. Ela tinha olheiras abaixo dos olhos, parecendo cansada e doente.
— Mattew! Que bom que chegou — disse ela formalmente, abrindo um sorriso que não combinava com o resto de sua aparência conforme dava um passo para o lado. — Vamos, entre.
Limpei os pés no tapete, torcendo para estar fazendo tudo certo, e entrei devagar, tentando não olhar muito ao meu redor.
A casa de Alissa sempre fora gelada. Talvez fosse pelo piso frio.
— E então, tudo bem lá em casa? — perguntou a Sra. Ross com normalidade, fechando a porta e tentando manter o sorriso no rosto; mas eu conseguia notar sua dificuldade em fazer isso. — Como vai a mãe?
— Tudo certo — eu murmurei, assentindo com a cabeça e enfiando as mãos no bolso da calça.
— Que bom. Fico contente. — Ela esfregou uma mão na outra, olhando para os lados. — Bom, o que acha de uma xícara de chá? Cida pode te servir enquanto vou buscar suas coisas.
Ela olhava pra mim com tanta esperança e alegria forçada que eu não pude fazer nada além de confirmar com a cabeça.
— Pode ser.
O sorriso dela aumentou, mas só consegui enxergar a tristeza presente em seus olhos azuis.
— Maravilha. Venha comigo, então.
Segui-a pelos corredores, incapaz de não olhar para o ambiente agora. Os móveis permaneciam todos no mesmo lugar, e tudo continuava exatamente do mesmo jeito. Mas era estranho estar aqui sem Ali. Eu nunca tinha vindo na casa dela sem ela estar presente. Era bizarro. Parecia que ela iria surgir detrás dos móveis a qualquer momento, dando-me um susto e dizendo: "surpresa! Era tudo uma grande pegadinha!"
Como eu queria que isso acontecesse. Como eu queria que toda essa situação anormal não passasse disso: um pesadelo.
Mas a cada dia que passava, o choque de realidade me atingia mais. E a verdade cruel de que Alissa estava mesmo desaparecida começava a se tornar mais permanente.
É engraçado como, de uma hora pra outra, a nossa vida normal e tranquila sofre um solavanco inesperado; mudando tudo de forma completa e definitiva. Você nunca sabe quando esses momentos vão chegar, você nunca sabe como prever isso. Mas uma vez que acontece, não tem mais como voltar atrás. Estamos refém das consequências, escravos de algo que não podemos controlar.
E só nos resta aprender a lidar com isso.
Bem que as pessoas dizem que a vida é cruel. Ela não costuma ter piedade.
Parei por um instante quando alcançamos a cozinha, me deparando com um banquete servido sobre a mesa de vidro. Croissants, jarras de suco, frutas, bolos de chocolate, tortas, pães frescos...
Olhei assustado para Sra. Ross, mas ela estava ocupada demais avisando a cozinheira de que eu cheguei. Logo uma mulher baixinha surgiu da cozinha, me convidando para sentar enquanto amarrava o avental nas costas.
De imediato me senti meio preocupado. Ela fez tudo isso pra mim? Nem se eu estivesse há três dias sem comer conseguiria ter tamanho apetite.
Não vendo muita opção, me sentei à mesa, meio envergonhado de ficar sozinho nesse lugar enorme.
— Fique à vontade pra comer o que quiser, tudo bem? — disse a Sra. Ross com delicadeza, sorrindo conforme dava tapinhas em meu ombro. — Irei buscar suas coisas e volto logo.
— Tudo bem. Obrigado — eu murmurei, olhando para a mesa e pensando no que pegar primeiro. Precisava ser uma escolha consciente.
Por fim, decidi começar pelos croissants. Eles eram os favoritos de Alissa; foi ela quem me ensinou a gostar tanto, também. Não importava as opções que estivessem em uma mesa: se houvessem croissants, Ali sempre iria escolhê-los.
Sorri com a lembrança, tentando não pensar muito na estranheza que era estar ali sem ela.
Você faz muita falta, loirinha, eu pensei conforme colocava um croissant sobre o prato. Você nem imagina o quanto.
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60 Dias Sem Você
Misteri / Thriller"Por que eu tive que te perder pra descobrir que te amava?" Após o trágico desaparecimento de sua melhor amiga, Mattew Bryce começa a escrever bilhetes para ela, como uma forma de liberar toda a dor da saudade e do mistério da situação. No entanto...