Essa não é nossa terra

Vince em rotina da paz

Rotina seria o hábito de fazer algo sempre do mesmo modo.

Quando se faz muito uma coisa ela acaba se tornando monótona. 17 anos é muito pouco tempo para dizer que a vida está se tornando monótona. Você olha para os jovens de hoje em dia e ou eles estão frustrados ou tão cansados que estão dormindo durante a aula de química. Ok isso foi autobiográfico, mas ninguém precisa saber que Vicenzo Dalasco acha a voz do professor William tão rebuscada e vagarosa que sente sono toda vez que ele fala um A.

Ninguém precisa saber também que Vicenzo passou a noite acordado porque tem medo de dormir e sonhar com antiga família. Mas qual diferença isso tem se o irmão dele ainda estuda na mesma escola que ele e pega no pé dele o tempo todo, todo dia e sem falta. Nem mesmo Liliê sua melhor amiga saberia disso então todos os dias ele inventava histórias mirabolantes para ela e fingia que seus sonhos eram essas histórias sem pé nem cabeça.

Segunda feira chegou, ela recomeça o ciclo da vida de Vicen só que de uma forma diferente.

Daqui a pouco vai ser 7 horas da manhã. Estou com um ótimo para pressentimento para o dia de hoje.

Ainda bem que não podem ouvir meus pensamentos, pois eu com certeza seria julgado com tanta positividade às 7 horas da manhã. Queria muito acordar Liliê só para ouvir ela falar "man, são 7 horas da manhã". Eu até poderia tirar uma foto dela com a cara amassada e o cabelo bagunçado e mandar no grupo dos nossos amigos.

Quando eu decido que finalmente vou fazer isso, saio da minha cama e ajusto meu pijama azul e vermelho ao meu corpo, abro a porta e ando pelo corredor até os quartos das irmãs Palaster. Meu plano vai por água abaixo quando eu vejo que José, o pai delas, já está batendo na porta das mesmas. Então o que me resta a fazer agora é voltar para o meu quarto e me arrumar para um belíssimo dia na escola.

Já são 7:20 dessa segunda-feira positiva, e no momento estou sentado na ilha da cozinha tomando meu toddynho. Como não tenho que me preocupar em pentear os cabelos sempre estou 15 minutos adiantado em relação as minhas amigas. José foi o primeiro a chegar na cozinha e me dar um bom dia.

- bom dia victor- disse o homem pegando alguma coisa no armário.

Eu tô morando aqui há mais de três meses e esse corno continua errando meu nome, Vicenzo Renan De Dalasco, não é tão difícil de decorar, é?
Liliê disse que ele só tá implicando comigo e que é para levar na esportiva, na minha cabeça "levar na esportiva" é devolver o ato na mesma moeda então meu bom dia foi assim.

- Bom dia, Josebiso- disse tentando segurar a risada ao perceber que provavelmente esse nome não existe e eu acabei de inventar.

Logo Loren chegou dando bom dia e servindo-se um copo de achocolatado. eu fiz um misto quente pra ela mais cedo porque sou uma pessoa legal e tudo, como os Palaster dizem.

Devem estar se perguntando o que molesta eu tô fazendo morando a três meses na casa dos Palaster? eu não tenho casa, não? Bom, na verdade não, não tenho. Não podia ser quem eu era sob o teto da minha própria família, também não podia confiar em ninguém. Minha mãe não sabe o que é privacidade, meu pai não sabe resolver as coisas no diálogo e meu irmão é um puta homofóbico de quinta categoria que não sabe fazer porra nenhuma sozinho. Enfim eu não podia ser gay na casa da minha mãe e como ela mesma disse: "pode correr para os braços da sua amiguinha Liliê". E essa foi então a última ordem que ela me deu.

Livre estou, livre estou não posso mais segurar
Livre estou, livre estou eu sai pra não voltar.

Foi melhor decisão que eu tomei em 16 anos de vida.

-bom dia, bela adormecida- comprimentei Liliê que descia as escadas apressada segurando um sapato rosa na mão.

- estou mais para Cinderela- disse num tom irônico e mal humorado que daqui a pouco será substituído por trocadilho sem graça do Batman.- Lore, viu meu outro sapato?- indagou para a mais nova.