Sou uma pessoa muito reservada, e tenho meus motivos para isso. Quem me olha não imagina que carrego comigo um grande segredo. E precisa ser desse jeito, quanto menos falo, quanto menos pessoas saibam sobre mim, mais fico segura e tem sido assim desde aquela fatídica noite há cinco anos.
Quando minha vida sofreu uma reviravolta tão grande, que nunca, nem em meu pior pesadelo eu poderia imaginar. Era tudo perfeito, eu ia me casar, não amava meu noivo, mas o arranjo foi feito mesmo antes de nascer, que cresci sabendo, aceitando, e para ser bem sincera gostava da ideia.
Na minha família nunca foi valorizado o amor como critério de casamento, os interesses sempre estavam acima desse fato, por esse motivo nunca me iludi ou procurei.
E é por isso que nunca entendi essa necessidade que as pessoas têm de encontrar um grande amor, como se toda a vida dependesse desse fato. De certa forma isso me incomoda, só que não entendo direito o por que de me sentir incomodada.
Fui chamada a realidade quando um cliente chamou minha atenção ao ficar parado no caixa esperando ser atendido. Peguei a comanda dele e cobrei,
Gosto desse serviço de caixa, porque não exige que eu converse, preciso apenas ser cordial, dizer bom dia, boa tarde e obrigada. Em meu horário de almoço, busco ficar sozinha, meus colegas no início tentavam conversar, até respondia, mas logo perceberam que eu preferia minha própria companhia e se afastaram de mim. Passando assim conversar sobre o básico.
Hoje o dia está tranquilo, o que não é comum no Braz, e do nada senti meu estomago se revirar. Meu coração começou a martelar, e fiquei totalmente em alerta. Alguma coisa que dizia que algo estava errado, mas o que seria? sinceramente não fazia ideia.
-Victória?- Escutei Daiane me chamando. E de imediato minha cabeça se virou em direção a ela.
- Sim?- respondi rapidamente.
-Você está bem?- Eu estava prestes a dizer que estava, mas meu estômago deu mais uma reviravolta, e percebi que iria vomitar, não tive tempo de pedir para que alguém assumisse meu lugar, e tive que sair correndo para o banheiro mais próximo, e coloquei para fora tudo que comi.
-Nossa! você definitivamente não está bem. Vá para o medico.- Fui surpreendida pela voz da minha patroa. Eu ia protestar, mas uma nova onda de vômito me calou. Talvez, seja bom ir para casa mesmo.
Esta é uma sensação nova para mim: ficar doente. Desde que cheguei a essa dimensão nunca soube o que é isso. Mesmo sendo tão humano quanto qualquer outro, com minhas limitações é claro. Sim, eu tenho o meu pé de aquiles. Não posso chegar perto do fogo. Nem mesmo de uma pequena chama. E talvez você se pergunte como posso viver, se não posso chegar perto do fogo.
Talvez isso fosse um problema se não existisse toda a tecnologia que temos hoje, mas esse não é o caso, hoje tudo que o fogo faz, a eletricidade faz também. Então, consigo viver tranquilamente.
Depois de dar uma pequena melhorada, sai do trabalho e no caminho para casa fiquei tentando imaginar como atrai essa doença para minha vida. Tive a sensação que as coisas iam ficar bem difíceis, e foi esse pensamento passar pela minha cabeça, eu estava em meio a um tumulto de pessoas. Como não percebi antes, poderia ter trocado de caminho.
Levou uns instantes para eu perceber o que estava acontecendo para todos estarem ali parados naquele lugar olhando para cima. Busquei o centro de atenção de todas aquelas pessoas. Olhei para os fios de luz suspensos no ar, foi quando os meus olhos se encontraram com o fogo.
Os fios de luz estavam pegando fogo, sem nenhuma explicação plausível, e nesse momento foi tudo muito rápido, senti meus olhos queimarem, e minha mente foi atraída e por alguns instante pude ouvir a voz do meu pai a me repreender. Eu sabia que não tinha muito tempo, precisava sair correndo dali, antes que fosse tarde demais. Pisquei tentando interromper o elo, meu corpo já estava pinicando, era agora ou nunca, sem nem parar para pensar sai correndo e em minha loucura empurrei e derrubei algumas pessoas pegas de surpresa com minha reação. Eu não tive tempo de ver como a senhora que caiu estava, lamentava, mas precisava fugir.
Percebi que o fogo ia me seguir, o que me deixou em pânico. A minha sorte foi o corpo de bombeiro, que eu nem tinha percebido antes, mas que naquele momento ligou o jato de água. Eu não ia parar para olhar, não podia.
Cheguei em casa com o coração saindo pela boca, foi por pouco. Agora eu tinha certeza, não que não soubesse antes, mas era diferente. O fogo está me procurando.
Calma! Preciso manter a calma e os pensamentos sobre controle, foi isso que me manteve segura todos esses anos, e eu estava tentando entender o que tinha mudado. Só não consegui saber o que era.
O dia começou bem e tranquilo, bem diferente do que estava acostumada. Tentei reviver meu dia, cuidadosamente, para não cair na cilada de atrair para mim o que não desejo. Lembrei de cada instante até o momento em que comecei a passar mal. Aquele cliente, como não notei.
Antes de entrar no lupim de pensamentos que me faria viver tudo o que eu não desejava. Parei. Era preciso analisar com cautela. Para eu não ser encontrada.
De repente eu já não me sentia segura, eu não podia ter certeza de que aquele cliente era um caçador, mas era tudo muito suspeito. Ah, isso era.
Minha sorte foi ser precavida, e sempre guardei uma reservinha para uma necessidade, nunca planejei que algo assim acontecesse, mas sabia que poderia acontecer. E a única saída para mim era largar tudo e ir para outro lugar. Peguei caneta e papel e escrevi uma carta de demissão que a enviaria pelo correio mesmo.
Juntei minhas coisas sem saber que destino ao certo tomar, estava na rodoviária pensando quando um rapaz se esbarrou em mim.
-Me perdoe.- ele foi dizendo antes mesmo de olhar em meu rosto.-Você!- Fechei meus olhos entendendo que minhas férias tinham terminado definitivamente.
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A Herdeira do Fogo
RomansaPLÁGIO É CRIME! NÃO COPIE, SE INSPIRE-SE Victória fugiu daquele que considerava ser o pior destino de todos. E tudo parecia ir bem, mas nenhum plano por mais elaborado que seja é perfeito. E o dela certamente não era, e ela precisou descobrir na pel...