5. discussões aleatórias em diferentes pontos do bairro

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Se alguém entrasse no quarto esssa manhã, veria aquela luz amarelada típica do verão entrar pela janela que foi esquecida aberta. Trazendo consigo um vento paradoxal quente e refrescante ao mesmo tempo, que passava pelas cortinas sacudindo-as num balançar suave e chegava numa cama com lençóis completamente bagunçados.

Veria nossas pernas entrelaçadas, minha mão magra sobre seu peito, o braço nu dele em volta do meu pescoço. Eu acordando e me distraindo sentindo seu cheiro doce e reparando como seu maxilar fica travado quando está adormecido - porque tenho costume de despertar cedo mesmo em dias de cansaço e não queria correr o risco de incomodá-lo se tentasse me desgrudar.

Veria que cem por cento de mim naquele momento não estava dedicado em ver o que acontecia em redes sociais ou se alguém apenas me ligou enquanto eu dormia, estava nele; assim como notei que cem por cento da atenção do moço com as ondulações do cabelo completamente bagunçadas estava em mim quando acordou e me abraçou mais forte. Dessa vez, de frente pra mim. Com um olhar caído e sonolento, mas com o sorriso rotineiro nos lábios.

- Eu pensei que me forçar a ser mais animado me transformaria automaticamente nessa pessoa aventureira, mas não foi o que aconteceu... aliás, só me deu dor de cabeça e fome, e agora eu tô com ódio - solto um riso bufado. - Talvez o meu destino seja ser esse homem certinho, que ama ser professor do primário, gosta de ler poesia e não curte beber até perder o juízo.

- Tá tudo bem, isso até combina com você - acaricia minha costa com movimentos circulares. - Apesar de o Noah que conheci ontem ser bem diferente disso que 'cê tá falando.

- Acho que eu tava fora de mim - ponho a mão meu rosto pra tampar a cara de vergonha que estou só de imaginar o tanto de barbaridades que fiz ontem.

- Mas você se divertiu?

- Pela primeira vez em muito tempo... - olho pra ele pelo espaço entre meu dedo indicador e o dedo do meio.

- Então é isso que importa - me dá um abraço rápido como conforto.

Mais cedo, enquanto eu arrastava o Jay até a padaria mais próxima que achei numa pesquisa rápida no Google Maps para comermos algo substancial, o ar pareceu menos denso e fácil de ingerir. Parece que fizeram esta manhã de maneira planejada só para eu esquecer qual dia da semana é ou em qual mês do ano estamos. E eu viveria nesse espaço-tempo para sempre, me sinto leve.

Coisa que é anormal, porque constantemente me sinto num loop infinito de quartas-feiras. Sabe aquela sensação de estar cansado dos dois primeiros dias úteis e já estar pensando no fim de semana? Pois é. O estranho é que me sinto diferente hoje, parece que acordei num sábado, e nem sei afirmar o porquê.

- Obrigado, Universo, por me proporcionar a melhor Banoff que já comi na vida - Josh levanta as mãos pro alto quando come o primeiro pedaço do seu pedido.

Encaro-o com uma careta involuntária.

- Você acredita mesmo nesse lance de Universo, manifestações ou sei lá mais o quê? - questiono, depois tomo um gole do meu café preto sem açúcar.

- Eu acredito que suas ações geram reações proporcionais ao que você faz, então... sim, eu acredito nesse lance de Universo, manifestações ou sei lá mais o quê - diz com boca cheia da torta.

- Então você acha que eu mereço tudo o que o "Universo" tá fazendo comigo? - perguntei apenas para provocá-lo, mas realmente fiquei esperando uma resposta.

- Poder ser... - ele estreita os olhos - Eu não sei que tipo de pessoa você era antes de nos conhecermos.

Eu vou considerar isso um ataque!?

something different  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora