Aquele dia não poderia ficar pior.
O sol mal havia aparecido no horizonte quando Izuku saiu do dormitório, era o primeiro de pé, algo bem raro de se acontecer, já que ele, naturalmente possuía o espírito de uma coruja. Preferia ficar acordado até altas horas e dormir o máximo possível pela manhã, beirando o limite do atraso, até ser, literalmente, chutado da cama por um "Kacchan" puto da vida. Não havia despertador mais eficaz, por sinal.
Porém, hoje, foi diferente, como não havia pregado o olho na noite anterior, por estar ansioso demais, permaneceu rolando na cama até o relógio dar seis da manhã e levantou resoluto. Não sentia sono, nem cansaço, a adrenalina pulsava em suas veias, queria ir logo para a sala dos professores encontrar o Aizawa-sensei.
A notícia que recebeu de seu professor era esperada, mas não a que ele desejava com todas as suas forças. Tentar anular uma condição de Unmei, depois que esta já havia sido firmada, seria o mesmo que querer anular os efeitos de um soco, já desferido contra alguém, não tinha mais volta. Mas, aquilo não era o pior, não... Aizawa ficou possesso quando descobriu o que tinha acontecido no dia anterior, principalmente, porque, Izuku, levou tempo demais para ir procurá-lo, e tanto ele quanto Unmei foram parar na diretoria, naquela manhã.
Como esperado, a garota fora punida, ficaria de castigo depois das aulas, todos os dias, limpando a escola, até que Midoriya voltasse a falar, ou seja, por tempo indeterminado. Haviam, indiretamente, colocado um grande peso em seus ombros, ele, a partir daquele momento, era responsável pelo que acontecia com ela. Caso não se declarasse, não poderia falar e Unmei permaneceria de castigo, por pelo menos, conhecendo bem a personalidade do diretor Nezu, até a formatura dele. Sentia-se pressionado a resolver logo a situação.
E para piorar tudo, ainda mais, a notícia de que estava mudo até se declarar para a pessoa que gostava, correu pela escola como fogo queimando em capim seco. Um verdadeiro desastre. Do dia para a noite, tornou-se o principal tema das fofocas da U.A. Podia ouvir os burburinhos e murmúrios sempre que cruzava os corredores, os olhares curiosos, o súbito silêncio quando adentrava repentinamente um local... Gente desconhecida vinha falar com ele, a fim de tirar a prova, e outros, que nunca havia visto antes, cruzavam seus olhares com os dele, cheios de sorrisos sugestivos e acenos cúmplices, deixando-o terrivelmente envergonhado. Como integrante do big three, junto com "Kacchan" e Todoroki, estava até acostumado com certo grau de atenção, porém, nada comparado com aquilo. Não sabia que era desejado por tanta gente, nem era o mais popular dos três, romanticamente falando.
Ser disputado por um número considerável de pessoas o incomodava, estava odiando tudo aquilo. Porém, Izuku percebeu, frustrado, que não era a atenção recebida que o irritava mais, e sim, o fato de ter caído a sua ficha de que era, sim, um belo de um gostoso, e a única pessoa que ele realmente queria, estava cagando para isso.
Os dias seguintes foram sufocantes. Izuku não conseguia mais dormir ou se concentrar em qualquer outro assunto que não fosse amor, ninguém parecia estar disposto a deixá-lo focar além disso. Sua situação não mudara, e nem parecia que ia, continuava sendo insistentemente importunado por pessoas desconhecidas, os rumores sobre quem seria sua paixão rolavam soltos pelo colégio e as histórias mais absurdas eram passadas adiante, desde a estar romanticamente envolvido com um professor, a terrivelmente apaixonado por algum vilão qualquer. Além, claro, de ser constantemente pressionado por Aizawa-sensei e Nokoe-san a resolver logo a sua situação. Aparentemente a ideia de aprender linguagem de sinais, não agradou muito a estes dois.
Em resumo, ele permanecia constantemente ansioso e perturbado, sentia-se impotente. E "Kacchan", não ajudava nem um pouco, o loiro não dava uma trégua, parecia até que sentia algum tipo de prazer sádico em vê-lo preso naquele problema. Katsuki não perdia uma oportunidade sequer de mexer com ele, porém, por mais cuzão que fosse, não conseguiria nem chegar aos pés de Kaminari e Mineta.
Aqueles imbecis tiveram a audácia de criar um bolão de apostas. Ganhava quem acertasse por quem Midoriya estava apaixonado. E além de envolverem a sala inteira nisso, tiveram a cara de pau de expandir o negócio para o resto da escola também. Izuku estava tão puto com aquilo, jurou, a si mesmo, que iria fazer aqueles dois se arrependerem de se divertirem às suas custas. Ah se ia.
Estava super concentrado, tramando mentalmente a sua vingança, quando sentiu, de repente, uma mão agarrar fortemente a sua cintura, puxando, de forma brusca, seu corpo para o lado e para trás.
Fora pressionado contra outro corpo, tendo seu rosto perfeitamente encaixado na curvatura do pescoço alheio, suas mãos encontraram um peito rígido, cujo coração parecia bater rápido demais. Um aroma doce conhecido, invadiu-lhe, quase ao mesmo tempo, que um barulho alto explodiu em seus ouvidos. Desnorteado e sentindo as orelhas zumbirem, percebeu o abraço sendo afrouxado.
- Deku! Cê tá querendo morrer, caralho?! -Berrou Katsuki encarando os olhos verdes perdidos. Não estavam mais abraçados, porém, mantinha sua mão apoiada na cintura do outro. Começara a se estressar com ele, havia notado desde o começo do treinamento, que Deku estava completamente fora do ar, mas aquilo já era ridículo. O idiota quase fora atingido. Como ele não havia percebido as chamas de Todoroki indo em sua direção?
- Presta atenção, porra!
Izuku, ainda meio em transe, só via a boca do loiro mexer, sem processar nada do que ele estava falando, toda a sua atenção concentrada na sensação de ter a mão dele em sua cintura, e em como seus lábios finos eram bonitos, o lábio inferior maior que o superior. Estavam tão perto, que se desse mais dois passos para frente, poderia beijá-lo... Qual seria a sensação? Queria tanto sentir o sabor daqueles lábios sobre os seus. Sentiu o corpo quente formigar, o cheiro doce ainda presente. Katsuki provavelmente era a única pessoa na face da Terra, que mesmo pingando suor, possuía um cheiro bom. "Ahh, merda... tô tão fudido..."
- Onde você tá com a cabeça?! Estamos no meio de um treino!! -Soltou o outro, sentindo-se cada vez mais frustrado. - O time do meio a meio vai acabar ganhando da gente!
Afastou-se um pouco de Deku, que parecia finalmente ter percebido onde estava. Observou impaciente, o menor, todo vermelho, procurar ansiosamente, por algo nos bolsos de seu uniforme. Revirou os olhos, cruzando os braços. "Um caderno, certeza. Ele quer se desculpar ou agradecer, ou os dois". A comunicação entre eles havia sido terrivelmente prejudicada, e ter de esperar Izuku escrever algo, sempre, desotimizava, e muito, o treinamento deles.
- Nem pense em escrever. Eu já sei. -Disse, aspero, dando as costas para ele, e entrando novamente na batalha. - Só foca, porra. -Tratou de encará-lo firme, por cima do ombro, antes de finalmente seguir.
Izuku engoliu em seco vendo-se ser deixado para trás, dividido entre auto frustração e tesão. "Mas que porra eu tô fazendo?"
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I love you, idiot.
FanfictionQuase três anos após a memorável briga de Izuku e Katsuki no Ground Beta, ambos estão prestes a se graduarem na U.A High School, e se consideram bons amigos. Satisfeito com a relação que possuem agora, Izuku está disposto a ignorar, completamente, o...