Uma das minha mãos se mantinha firme em meu arco e a outra apontava e dava força para que atirasse a flecha sobre o animal a minha frente. Inspirei e soprei o ar lentamente. Era uma caça fácil e a levaria para a casa.
Sabia que não era necessário que eu mesma saísse de casa para tal, mas seguir os passos de animais e sentir a natureza se envolver ao meu redor de alguma forma conseguia me fazer relaxar. Sorri levemente e quando ia soltar a flecha um estrondo foi gerado em algum lugar. O animal fugiu.
Me levantei em direção ao som e percebi que vinha em direção a cidade. Merda!
Uma sensação de medo e paranóia tomou meu corpo. Joguei o arco sobre meu ombro e corri para sua direção. E em poucos segundos uma grossa camada de fumaça escura se estendeu sobre o céu. A explosão não teria sido pequena, não poderia ser e ter chegado tão rapidamente a floresta.
Encontrei meu cavalo onde o havia deixado, e agradeci aos deuses por tê-lo trazido dessa vez, sendo costumeiro não fazê-lo. Subi em sua montaria e o direcionei para a cidade.
Em alguns minutos já me encontrava no centro da cidade e na casa de minha família. O cavalo relinchou e afaguei seu pescoço, tentando emitir sons que o acalmassem. A casa estava em chamas e alguns funcionários e capangas de meu pai se encontravam em volta. Todos olhavam para o imenso fogo que parecia nunca ter fim. Desci do cavalo e entreguei a rédea a um que passava, que não hesitou em pegar.
Me aproximei ainda mais da casa, sentindo o calor se exaurar sobre mim junto a dor em meu peito.
— Ayla... — Escutei ser chamada e odiei o tom que a voz emitia. Pena. Essa terrível sensação de pena. Me virei para o som.
— Senhora Melan... — Juntei forças para continuar a dizer ao olhar para ela. Para a doce senhora que sempre foi gentil comigo, empurrando a vontade crescente de me jogar aos seus braços como uma pequena garotinha. — O que houve?!
— Parece que seus pais receberam a família secundária e... em poucos minutos eles estavam lá e em seguida... — Ela tocou meu ombro. Senti meu queixo vibrar e o desejo de vomitar tomar meu corpo. — O fogo começou. Não vimos ninguém sair de lá. Eu... eu sinto muito, Ayla.
Lágrimas escorreram em minhas bochechas. Nem seus corpos poderei enterrar... Que a grande mãe os receba em sua casa.
A mão de Melan afagava meu ombro, assim como eu fizera com o cavalo minutos atrás. Toquei em sua mão a apertando gentilmente e depois a tirei. Olhava fixadamente para o fogo enquanto enxugava minhas lágrimas. Não há tempo para luto agora. Me virei para Melan que me olhava com pena e medo.
— A família secundária. — Repeti e abaixei minha cabeça lentamente e comecei a me afastar. — Melan. — Disse em forma de despedida.
Me virei e saí procurando meu cavalo.
...
Havia passado em uma oficina de meu pai atrás da casa. Lá sempre era deixado alguns preparos para que os pedidos de nossos clientes fossem feitos, como: roupas, facas, comida e um pouco de dinheiro. Juntei em uma mochila e a joguei sobre as costas.
Subi em meu cavalo novamente e me coloquei em direção a capital. Sabia que a família secundária residia por lá e junto meu tio, que poderia ser de maior ajuda do que os que trabalhavam com meu pai, sendo a maioria sempre leal principalmente ao dinheiro.
Já estava fora da cidade. E como em um estalo homens apareceram pouco a frente. Que apropriado! Meus olhos viraram. Já sentia o ódio transparecer. Diminui a velocidade ao vê-los sorrindo para mim, provavelmente estavam a minha espera. Em um rápido movimento, um dos homens dispararam uma flecha, que consegui desviar, mas logo foi disparada outra e meu cavalo relinchou. O tinha atingido. Meu corpo foi jogado para trás e meu cavalo caiu ao chão. Escutei risadas soarem.
Pobre Eddie. Olhei para ele ao atingir o chão, não sentindo tanto dor por ter a mochila amortecido a queda. Voltei a vista para os que me encaravam e senti o vento de outra flecha ao cair em meu lado. Ri em escárnio. O bastardo nem é bom. Me levantei e corri para a vegetação ao redor do caminho e como era esperado me seguiram. Me ajeitei aos arbustos e aguardei.
— Ah, mas que merda! Você devia tê-la matado. Como pode ser tão ruim em uma arma que escolheu, seu idiota?! — Indagou um homem alto e cheio de cicatrizes no rosto.
— Ela estava muito longe! — Relutou o que tem a mira ruim e por um momento parecia que iria chorar.
— Calem a boca e a encontrem. Temos ordens para mata-la.
Os outros pareceram concordar com o homem, que parecia ter uns 80 anos de tão velho. No total eram 3 e todos pareciam não ter tanta vivência com a região, sorri com isso. Esperei eles se separarem.
Primeiro encontrei o de cicatrizes e em um movimento rápido apareci em sua frente e encravejei uma adaga em seu coração, não dando tempo para que sua voz saísse e avisasse aos outros. Seus últimos suspiros foram gemidos enquanto o segurava, para que não caísse ao chão com muito barulho. E pela primeira vez depois de tanto tempo fazendo isso, eu não senti nada. Nada ao ver sua vida se esvaziar em seus olhos. Puxei seu corpo para uma vegetação e saí de lá, a procura de outro.
O responsável por matar meu cavalo logo foi encontrado. Deveria ser um aprendiz, pois nem notou minha chegada a suas costas até que seu pescoço estivesse em contato com minha faca. Suas mãos apertaram o próprio corte e segurei seu corpo que caia para trás. O observei se debater, vendo que as vezes com a tentativa de fala ou desespero para se salvar, uma quantidade a mais de sangue jorrava. Até que um momento ela parou. Soltei lentamente seu corpo.
Me virei e dei de cara com o velho. Seu silêncio e aproximação me pegaram desprevenida e não consegui evitar o golpe de sua espada totalmente. Uma dor se instaurou sobre minha perna e não conti o gemido de dor que escapou de minha boca. Porra, seu velho! Deve ter ficado em volta do idiota em minha espera. Retirei minha espada e revidei o seu próximo golpe. Ele era bom, mas ainda sim, estava velho e lento. Suas investidas deixavam seu tronco do lado direito desprotegido, o que me ajudou quando enfiei, a mesma adaga que matei seus colegas, sobre ele. Ele se afastou e caiu de joelhos.
— Maldita! — Resmungou enquanto segurava e tentava parar o machucado.
Levantei minha espada, percebendo que o sol já estava se escondendo e um corvo entoou assim que cortei a cabeça do homem e continuou ao vê-la rolar pelo chão. Olhei para traz, algo parecia me observar. Caminhei, ignorando a dor em minha perna, com a espada em mãos, mas não havia ninguém.
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A FAMÍLIA PRINCIPAL
General FictionImagine crescer sendo treinada por uma família de assassinos e descobrir que nem tudo é como te mostraram. Acontece que a verdade nem sempre é dita, principalmente por aqueles que mais amamos. Ayla, enfrentará uma longa jornada após ter sofrido por...