Capítulo 11 - O dia após o aniversário de Fergus

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CONSTANCE P.O.V

    Depois daquela conversa sem noção com William, liguei para o meu pai e pedi para ele me buscar. Ele disse que já estava a caminho antes mesmo de eu ligar, então não tive que esperar muito tempo. Fui embora sem me despedir. Fergus estava bêbado demais, William, eu estava evitando e Harry estava me evitando.
    Voltei para a casa e menti que a festa tinha sido ótima. Não tinha sido. Harry estava estranho e William veio com umas conversas esquisitas. Tudo tinha sido muito estranho e esquisito.
    Tomei um banho e relaxei, convencida a esquecer tudo o que tinha acontecido – principalmente o que William tinha tido no final da festa.
    No dia seguinte, William começou a me ligar. Ligava freneticamente, uma vez atrás da outra. Eu ignorava todas as ligações e mensagens, ainda não estava pronta para encará-lo. Mas ele parecia estar nem aí, pois continuava ligando. Eu me cansei de ignorar e desliguei o meu celular. Agora ele não conseguiria falar comigo.
    Desci para a sala e abracei minha mãe, feliz por tê-la em minha vida.


Casa
18 de novembro de 2012

—Cadê o papai?

    Perguntei depois de me sentar ao lado de minha mãe e estranhar a ausência de meu pai. Eles sempre estavam juntos.

—Foi mostrar a estufa para o nosso convidado –mamãe falou dando uma risadinha suspeita.
—Convidado? Quem é o nosso convidado? –perguntei serelepe, na expectativa.

    Mamãe não teve tempo de responder, assim que finalizei a minha pergunta uma voz suave chamou a nossa atenção, respondendo ao meu questionamento.

—Senhoritas, bom dia.

    Olhei em direção a voz e, à minha esquerda, encontrei William parado ao lado da porta de vidro, acompanhando de meu pai. Ele sorria de maneira galanteadora, quase inocente. O meu sorriso sumiu na hora.

—O que você está fazendo aqui? –perguntei de maneira nada educada.
—Constance! –meus pais me repreenderam.
—Não briguem com ela, é maneira de falar. Temos intimidade suficiente para ignorarmos a formalidade –William tentou suavizar.
—Mesmo assim... –mamãe discordou.
—Desculpe-me se soou grosseiro, não era a minha intenção –voltei atrás —É só que eu não esperava encontrar William... Er... Tão cedo.
—Eu realmente fui dormir tarde ontem por causa da festa –ele falou para os meus pais.

    Fuzilei-o com o olhar. O loiro sabia muito bem que o "cedo" a qual eu me referia não era o horário daquele dia, muito menos o horário que ele tinha dormido no dia anterior por causa da festa.
    Um silêncio pesado se instalou na sala.

—Se me permitem, temos algumas coisas para resolver –mamãe falou se levantando da poltrona de couro que estava sentada.
—Eu te acompanho –papai falou entendendo o que minha mãe estava fazendo.
—Com licença.

    Os dois falaram ao mesmo tempo e andaram em direção à porta de vidro que dava acesso ao jardim, local de onde William e meu pai tinham vindo. Eles queriam nos deixar sozinhos.

—Ah!

    Mamãe falou parando de andar e virando para trás, pegando a todos de surpresa. Ela nos olhou.

—William, você almoça conosco? –ela convidou.

"Não!!!", gritei mentalmente. Eu estava tentando fugir da presença de William, saber que ele ficaria para o almoço só aumentava o meu pânico.

—Claro, será um prazer –ele respondeu educado.

    Olhei brava para o loiro, que sorriu vitorioso. Por que ele estava fazendo aquilo comigo???

—Com licença. Se precisarem de algo, peçam para algum funcionário.

    Mamãe falou saltitante e deixou o cômodo junto com meu pai. Observei os dois se retirarem antes de começar a falar com William.

—O que você pensa que está fazendo?? –ataquei-o.
—Precisamos conversar, Cons –William falou tranquilo.
—Conversar o quê??? –respondi brava.

    Nada do que precisássemos conversar era sério o suficiente a ponto de ele vir até a minha casa no final de semana ao invés de esperar a segunda-feira chegar.

—Como "o quê"??? Você sabe muito bem e não adianta se fazer de desentendida –foi a vez de William ficar bravo.

    Respirei derrotada. William, diferente de mim, não estava disposto a ignorar tudo o que tinha acontecido. Ele queria resolver a todo custo.

—Will...

    Comecei a falar, mas parei por falta de forças. Eu não estava pronta para ter aquela conversa. Eu não estava pronta para perder William. Ele era o meu melhor amigo e nunca seríamos mais que isso, simplesmente porque eu não era como as garotas que ele estava acostumado a sair. Eu não tinha a liberdade de sair a hora que eu quisesse, com quem eu quisesse, eu tinha que pedir permissão para os meus pais – que sempre me acompanhavam e me buscavam cedo, porque eu não podia ficar até tarde na rua –. Eu não era uma super modelo que fazia os caras suspirarem quando me viam, assim como não estampava capas de revista. Eu não tinha um corpão, cheio de curvas. Eu sequer tinha peitos grandes. Eu era apenas uma garota normal, que amava a família acima de tudo e nunca tinha beijado. Como eu falava aquilo para William, que já estava falando de transar comigo? Seria vergonhoso.

—O que foi, Cons, você não gosta de mim? –ele falou se aproximando de mim.
—Gosto, Will... –falei baixo, sem olhá-lo.
—Então qual o problema? –ele perguntou tocando a minha bochecha.
—Eu não estou pronta para ter essa conversa –respondi negando com a cabeça.
—Cons, sou eu... William... O seu melhor amigo –ele falou triste.
—Por que você está fazendo isso comigo? –criei forças para perguntar.
—Eu gosto de você, Cons, e achei que tinha deixado isso claro ontem –ele levantou o meu queixo.
—Assim... De repente?
—Eu vinha tentando reprimir esse sentimento. Eu juro que tentei ser só o seu melhor amigo, mas a verdade é que eu quero mais, só isso não basta.
—Até ontem éramos melhores amigos... –entrei em estado de negação.

    A verdade era que eu estava muito nervosa. Toda essa aproximação e declaração inesperada faziam o meu coração disparar e a minha mão soar. Eu não conseguia deixar de pensar no desastre que seria se ele tentasse me beijar.

—Qual o seu medo? Por que você me renega tanto? Você não gosta de mim da mesma forma que eu gosto de você?

    A tristeza em sua voz me destruiu. Eu quis protege-lo de todo o mal do mundo.

—Não, Will, não é isso... Eu garanto que gosto de você muito mais do que você gosta de mim, mas eu tenho muitas inseguranças. Eu não sou como as garotas que você está acostumado –criei coragem de dizer.
—O que você quer dizer? –ele perguntou sem entender.
—Você já conheceu meus pais, viu como eles são. Tive uma criação muito regrada, com eles sempre por perto. Eu não vou poder sair contigo na hora que você quiser, preciso de permissão e... –fui interrompida por ele.
—É sério que você quer falar de criação muito regrada justo comigo, que não posso escolher nem a cor da camisa que vou usar?
—O que eu estou tentando dizer é que as coisas comigo são diferentes –ignorei tudo o que ele falou.
—Se você está se referindo a sexo –ele começou a falar, mas foi a minha vez de interrompê-lo.
—William, eu nunca nem beijei –falei de uma vez por todas.

    Pela primeira vez em toda a conversa, William ficou em silêncio, sem saber o que dizer. Ele foi pego de surpresa, era nítido, mas eu não imaginava que ele ficaria tanto tempo estático.

—Você pode voltar atrás na proposta ou seja lá o que você estava tentando fazer –falei dura.

    Era isso, William riria da minha cara e nossa amizade acabaria assim.

—Eu posso ser o seu primeiro beijo se você quiser –ele finalmente falou algo.
—Como é? –falei por impulso.
—Constance Victoria Cunningham, você me daria a honra de ser o primeiro e o único cara a te beijar? –ele falou segurando o meu rosto com as duas mãos.
—Will... –falei fraca.
—Agora você não tem mais desculpas para não ficar comigo –ele falou com um sorriso lindo no rosto, que me desmontou.
—Mas e os meus pais? –falei insegura.
—Eu gosto deles... E acho que eles gostam de mim, então não seria um problema –ele falou calmo —E agora, qual vai ser a sua próxima desculpa?

    Mesmo sem querer, ri. William tinha conseguido reverter toda a situação e ainda estava conseguindo o que queria.

—Promete que não vai desistir de mim se eu beijar muito mal? –falei cheia de insegurança.
—Você gosta de mim, não gosta? –ele perguntou sério.
—Mais do que gosto de mim mesma –fui sincera.
—Então eu nunca vou desistir de você –ele respondeu firme.

    Os segundos seguintes passaram em câmera lenta. William colocou o meu cabelo atrás da minha orelha, acariciou o meu rosto e falou o tanto que eu era linda. Em seguida, me encheu de beijos pelo rosto antes de beijar a minha boca. Seus lábios macios pressionaram os meus e pude sentir a sua língua tentando me invadir. Com as mãos trêmulas, toquei o seu pescoço e senti os seus lábios se abrindo em um sorriso. Nesse momento, eu soube que tinha ganhado William e relaxei. Independente do que acontecesse ali, ele era meu.
    Sua língua voltou a me invadir e eu tentei acompanhar os seus movimentos, prolongando a sensação diferente que era beijar alguém.
    Em alguns momentos nossos dentes se chocaram, como acontece quando estamos aprendendo a beijar.

—Que beijo gostoso. Com certeza foi muito melhor que o meu primeiro beijo –ele falou assim que paramos.

    Senti o meu rosto ferver de vergonha. William estava sendo gentil, mas isso não me deixava com menos vergonha. Percebendo, ele me puxou para um abraço acolhedor.

—Para, Will –falei envergonhada, escondendo meu rosto.
—Linda –ele respondeu dando um beijo no topo da minha cabeça.

    Ficamos abraçados por mais um tempo até nos soltarmos e sentarmos lado a lado no sofá. Entrelaçamos nossas mãos.
    Eu estava me sentindo estranha. William tinha falado que gostava de mim e tinha me beijado, o que isso significava? As coisas entre nós mudariam de que maneira?

—Por que você veio aqui em casa? –perguntei brincando com as nossas mãos.
—Eu precisava falar contigo –ele respondeu simples.
—E não podia esperar até amanhã? Em Eton não teria os meus pais –rebati.
—Eu não conseguiria esperar até amanhã –ele falou em tom de urgência.

    Encaramo-nos por alguns segundos até eu desviar o olhar, sentindo um enorme frio na barriga.

—O que foi? –William me questionou.
—Am? –falei sem entender.
—Você está muito quieta e você não costuma ser quieta –ele falou parecendo inseguro.
—Não foi nada –sorri terna, tentando tranquilizá-lo.
—Tem certeza? –William insistiu.
—Sim, é só que... Isso tudo é muito novo para mim, não sei direito como agir –sorri torto.
—Então somos dois –ele respondeu também com um sorriso torto.
—Não, o que eu estou tentando dizer é que eu nunca tive um relacionamento antes –tentei me explicar melhor.
—Eu também não –ele afirmou.
—Você nunca teve uma namorada? –perguntei sendo pega de surpresa.
—Não, você é a minha primeira.

    Ele falou com tanta naturalidade que foi impossível não abrir um sorrisão. William me considerava a sua namorada.

—Que-quero dizer, você vai ser a mi-minha namorada se quiser –ele gaguejou e meu sorriso aumentou.
—Não sabia que você também ficava nervoso como nós, meros mortais –provoquei.
—Eu provavelmente fico mais, mas fui treinando para não deixar transparecer.

    Ele respondeu mais relaxado. Sorri e encostei a minha cabeça em seu ombro, gostando da sensação de ter William assim tão perto de mim. Fiquei ouvindo a sua respiração, enquanto ele fazia carinho em mim.

—Crianças –mamãe falou entrando no cômodo —O almoço está servido, vamos?

    Desencostei a minha cabeça do ombro de William e o olhei. Ele sorriu para mim e relaxei. Tudo ficaria bem.
    Levantamo-nos do sofá e fomos juntos até a sala de jantar principal. William puxou a cadeira para mim e eu me sentei, depois de agradecer. Ele se sentou ao meu lado e meus pais se sentaram à minha frente. Os funcionários nos serviram e tivemos um almoço muito agradável.
    Comemos a sobremesa e voltamos para a sala íntima.

—Senhor Cunningham, gostaria de falar contigo –William falou formal, atraindo a atenção de todos.
—Por favor, sem formalidades –papai falou tranquilo.
—Eu gostaria de fazer um pedido abusado, então não quero abusar da receptividade –William respondeu sério, ainda que estivesse meio risonho.
—Pedido abusado? –papai perguntou desconfiado.

    Conhecendo meu pai, provavelmente ele se questionava o que ele, uma pessoa normal, poderia oferecer a William, o príncipe herdeiro do Reino Unido.

—É. E provavelmente o senhor não vai gostar muito, porque se trata de algo muito valioso, mas tenho que arriscar –William insistiu, sentando-se na ponta do sofá.

    Foi a minha vez de ficar desconfiada. O que William queria pedir para o meu pai que o deixava tão nervoso assim?

—Estou escutando –meu pai falou sério.
—Gostaria de saber se o senhor autoriza que eu e a Constance namoremos.

    Engasguei com a minha própria saliva quando ouvi o tal pedido abusado de William. Ele estava doido ou o quê?

—Filha, você está bem?

    Mamãe perguntou parando na minha frente, depois de me ver tossindo freneticamente por alguns segundos. Eu tinha a plena consciência de que estava muito vermelha por causa do meu engasgo.

—Estou –respondi entre tosses —Só engasguei.
—Então, o senhor autoriza? –o loiro insistiu.
—Filha, é isso que você quer? –papai direcionou o seu olhar para mim.

    O pedido de William me pegou totalmente desprevenida – até por isso me engasguei –, eu não tinha tido tempo para pensar se queria ou não aquilo. Mas agora estávamos ali, eu, meus pais e William, conversando se eu queria ou não assumir um compromisso com o, até então, meu melhor amigo.

—É? –respondi parando aos poucos de tossir.
—Eu juro que só tenho as melhores intenções com a sua filha. Prometo cuidar bem dela –William falou todo feliz.
—É bom mesmo, porque se não cuidar, a mídia ficará sabendo –papai ameaçou.
—Entendido, senhor.

    Passado esse momento desconfortável, voltamos a conversar normalmente por um tempo, até William e eu irmos para a sala de cinema maratonar "High School Musical". Eu tinha o obrigado a assistir comigo.
    Ao final da maratona, já à noite, despedimo-nos.

—Boa noite, namorada. Te vejo amanhã em Eton –William falou me dando um beijo.
—Boa noite, namorado. Até amanhã –respondi envergonhada.

    Demos mais dois beijos de despedida e William entrou em seu carro e partiu pela escuridão, cercado por seguranças.
    Suspirei pesadamente, ansiosa e com medo. Como as coisas seriam em Eton?


CONTINUA...

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