Nunca saia sozinho

Capítulo 15: Descobertos

O silêncio permaneceu. Todos me encararam de uma forma que pareciam que iam me furar com seus olhares. Comecei a suar frio. A mulher falou ainda mais alto e em um tom mais rígido ainda.
- Joe, me responda. Você quebrou o toque de recolher?
- Joe? - Minha mãe fala enquanto olha pra mim.

Eu tentava falar. Mas não saia nada. Não sabia se eu podia falar a verdade, não conhecia essas pessoas, o que elas podem fazer comigo se eu falar que quebrei o toque de recolher?
Engoli em seco e disse:
- Não. Eu não quebrei a regra do toque de recolher.
Os olhares não pararam. Parecia que essa minha resposta apenas comprovou a verdade. Eles guardaram os papéis que estavam lendo e se levantaram. Isso de alguma forma parecia algo ruim.
O padre pediu pra falar com os meus pais. Então pediram para eu subir até meu quarto.
Merda, eles sabem. Como eles sabem?
Pensava enquanto subia as escadas. Fui até minha cama e procurei meu celular. Tinha apenas algumas mensagens. Uma delas era de Matheus.
" Oi "
" Oi, como tá? "
" Tô bem, meu pai disse que logo logo posso sair daqui. "
" Ainda bem. "
Antes que Matheus me respondesse outra mensagem. Digitei uma bem rápido.
" Cara, tem umas pessoas estranhas aqui em casa. "
" Como assim? "
" O padre veio com três pessoas aqui em casa para fazer uma limpeza espiritual. Algo assim. "
" Hum "
" E ferrou pra nós viu "
" Pq? "
" Eles de alguma forma sabe que eu, tu e a Alicia quebramos a regra das 9 horas "
" Que??? "
" Pois é "
" Vc disse oq? "
" Que a gente não quebrou a regra "
" Mano, fudeu "
" Sim. "

Assim que mandei a mensagem. Minha mãe me chamou do andar de baixo. Comecei a entrar em pânico. Desci as escadas e fui até a sala. O padre estava sentando em uma cadeira a frente dos meus pais. E as outras pessoas não estavam mais ali. Minha mãe me encarou e disse:
- Joe, nós conversamos com o padre sobre a regra do toque de recolher. E ele acha que o espírito que esteja atormentando essa casa seja motivo dessa regra ter sido quebrada.

Concordei com a cabeça. Ela continuou.
- E mesmo se você não tiver quebrado. Você precisa estar mais protegido, sabe?
Já não sabia onde essa conversa ia dar.
- Agora, todo final de semana você tem que ir para a sessão de rezas. Junto com a gente.
Merda. Pensei. Nunca fui muito de ir a igrejas. Mas não é porque não acredito em Deus ou algo assim. É apenas porque não gosto de ficar muito tempo parado em um lugar junto com outras pessoas.
Mas não podia fazer nada agora. Eles com toda certeza sabem que eu menti quando disse que não quebrei a regra. Eu tive que concordar. Eles não falaram nada sobre Alice ou Matheus.

Dito e feito. Final de semana chegou em um piscar de olhos. Meus pais ficaram ainda mais super protetores comigo. De manhã, me arrumei e fui a igreja com meus pais. Assim que chegamos. Meus pais logo começaram a conversar com outros adultos que estavam ali. Eu entrei para ver se tinha muitas pessoas. E não tinha. Tinha apenas eu com minha idade.
Fui obrigado a ficar andando pelos bancos antes da missa começar. Acabei ficando frente a frente com um homem que logo o reconheci. Ele estava na minha casa junto com aquelas duas mulheres e com o Padre. Ele olhou pra mim e pediu pra mim não ficar andando entre os bancos. Me desculpei. Alguma coisa me parecia muito estranha com esse homem, parece que eu já vi o rosto dele em algum lugar.
A missa começou.
O tempo passou MUITO devagar. Mas então acabou. Todos estavam se despedindo. Eu já estava andando em direção de casa. Mas então um barulho muito alto aconteceu. Foi um piscar de olhos. Tinha um cara andando de moto muito rápido, ele passou por mim e um som alto de pancada foi escutado. O homem foi jogado para trás. Bem na minha frente.
Sua cabeça estava cortada. Muito sangue saía desse corte. Uma das pernas estava para o lado, mas seus ossos não. Ele me encarou com seus olhos vazios enquanto tossia.

Continua....