Capítulo 5

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Milão, Itália

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Milão, Itália

Carlos não se lembrava de ter tido alguma discussão como aquela em sua vida. Com absolutamente ninguém. Sempre teve uma personalidade mais forte, mas fechada, menos simpática e expansiva do que seus amigos, por exemplo, mas não tinha se dado ao desgosto de alguém como parecia acontecer com Eleanor. E ele simplesmente não conseguia entender o que exatamente acontecia e o que os levou a chegar até aquele ponto caótico. Não tinham tido um bom começo, era fato. Carlos estava absolutamente normal no dia em que a conheceu e teve uma fala isolada mal interpretada pela modelo que, sem sequer dar a chance de conhecê-lo, já tomou as dores para si mesma e se intrometeu em um assunto que não lhe cabia. E a partir disso, qualquer coisa parecia ser motivo o suficiente para Ellie o detestar. Parecia que a simples presença de Carlos na frente dela já ultrapassava um limite que ela mesma tinha se imposto, a ponto de incomodá-la tanto, que explodia.

Como havia explodido naquele dia.

Eleanor tinha ficado visivelmente desconcertada em vê-lo no desfile. Certamente pelos acontecimentos recentes, pelas fotos compartilhadas pelo mundo inteiro, pelo vídeo vazado. Carlos podia entender o ponto de vista dela na história, ele mesmo se sentiria da mesma forma, se fosse o contrário. Mas o que o incomodava era a confusão que sentia em tudo o que aconteceu depois daquilo. As palavras de Eleanor soavam em sua mente como murros que ele não conseguia parar de sentir. O tom acusatório, os gritos, o olhar magoado nele. A impossibilidade de deixá-lo ao menos se desculpar com ela, a visão que ela tinha dele. Carlos não entendia de onde vinha tudo aquilo. Não sabia o por que Eleanor o negava tanto, por que parecia que só via o lado ruim que ele aparentemente tinha, por que não baixava sua guarda por um único dia e, pelo menos, tentava entender o lado dele.

Estava ofendido por cada palavra que ela havia dito, estava se sentindo mal por ter dito coisas que não gostaria, pelo vídeo, pelo jeito que deixou toda a relação deles ser construída. Não gostou de ser chamado de segundo piloto, odiava quando jogavam isso em sua cara. Batalhou muito para chegar onde estava, sempre se destacou no que fazia e, por anos, vinha calando a boca de todos que diziam que era apenas um "piloto pagante". Eleanor sequer o conhecia. Não tinha o direito de avaliar sua vida e seu trabalho daquela forma, não tinha direito de expor ele em público, como ele, sem querer, havia feito com ela dois dias antes. Carlos estava ridiculamente confuso. Cansado de toda aquela situação, do jogo de dois pesos e duas medidas que estava jogando sozinho, desde que se sentou no banco do jato e decolou de volta para sua casa. Tentava colocar tudo o que fizeram um ao outro em uma balança para entender qual lado estava pesando mais, torcendo para que não fosse o dele.

Por mais que não tenha gostado muito do jeito que Charles construiu toda aquela cena para que ele fosse até Milão falar com ela, por um momento, enquanto procurava por Eleanor no final do desfile, Carlos realmente acreditou que, daquele dia em diante, pedindo desculpas, se deixando ser verdadeiro e se mostrando quem ele realmente era, tudo pudesse ser diferente entre eles. Mas não poderia. Nada podia mudar entre eles, porque aquela era Eleanor. Uma mulher absolutamente linda, forte, responsável, dedicada ao que se propunha fazer, mas reativa, teimosa e injusta também. Alguém que não se permitia errar, que não permitia erros também. Alguém que não daria uma chance em conhecer Carlos, mesmo que ele tentasse. E, depois daquele dia, ele já achava que não mais valia a pena tentar.

Headlights, by Jú. Serra e Gabe DickmannOnde histórias criam vida. Descubra agora