Capítulo 12

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- Boa noite.

Minhas palavras vieram acompanhadas de um sorriso, em parte grato, em parte pesaroso.

Meus olhos seguiram o caminho que ela fez, do sofá até as escadas, e dali até sumir de vista, e no instante em que não pude mais vê-la, meu peito ardeu de saudade.

Não sei por quanto tempo fiquei observando os degraus, talvez rezando para que ela reaparecesse, talvez rezando para que ela nunca o fizesse.

Algumas horas haviam se passado desde minha chegada, preenchidas por algumas conversas tímidas, porém revigorantes.

A tensão havia se dissipado consideravelmente, permitindo que nos comportássemos como velhos amigos, o que não era de todo inédito entre nós, mas foi uma boa surpresa, considerando o contexto em que nos encontrávamos.

Lisa sempre conseguia me surpreender da melhor forma possível. Isso eu aprendi a jamais subestimar.

Quando enfim pude desgrudar os olhos das escadas, eles caíram sobre o canto do sofá no qual ela havia se encolhido por boa parte da noite, e de onde ela conversou comigo, riu comigo, existiu comigo.

O nível de saudade que eu sentia era insuportável, beirando o patológico. E não era apenas no aspecto amoroso.

Sim, eu a amava.

Ao posicionar meu travesseiro sobre o local antes ocupado por ela e então repousar minha cabeça sobre ele, nenhum outro pensamento restava em minha mente a não ser esse: eu a amava.

Demais, até demais. E era exatamente por amá-la tanto que eu não me importei com o fato de não poder tocá-la, como sempre adorei fazer.

Era estranho demais poder conversar com ela de uma forma tão tranquila e não poder puxá-la para mim, acomodá-la em meu colo (onde ela já admitiu, mais de uma vez, que prefere ficar, ao invés de simplesmente ao meu lado), ou então deitar minha cabeça sobre o dela e deixar que seus dedos fizessem uma bagunça nos meus cabelos... Tudo era muito estranho quando havia uma barreira invisível entre nós.

E eu era o único responsável pela existência dela.

Respirei fundo, tentando lutar contra os sentimentos ruins que já começavam a se aglomerar em meu peito. Ela mal havia me deixado sozinho e eu já estava estragando tudo.

Forcei meus olhos a se fecharem, e com algum esforço, consegui relaxar um pouco. Dormir seria impossível, estando tão próximo dela num lugar onde não havia absolutamente ninguém a não ser nós dois.

Assim que meu cérebro chegou a essa conclusão, meus olhos se abriram repentinamente, e meu coração deu um salto, quase me escapando pela boca.

A situação era familiar demais.

*Flashback on – cerca de um ano atrás*

- Lisa?

Franzi a testa, sem tirar os olhos do trânsito quase inexistente. Estávamos nos afastando cada vez mais da casa de Joohyun, e ela ainda não havia me dado seu endereço.

Eu podia ter sido um canalha de marca maior e o descoberto por meios nem um pouco éticos há muito tempo, mas eu sabia que quando soubesse onde ela morava, acabaria cometendo uma loucura (por exemplo, encheria a cara uma noite qualquer e acabaria soltando o verbo para a primeira pessoa que aparecesse à porta depois que eu tocasse a campainha).

Já estava começando a me arrepender de ter contido minha curiosidade; decidi tentar novamente.

- Manoban?

Parei em um semáforo fechado, e aproveitei a oportunidade para me utilizar de métodos mais incisivos para fazê-la responder.

Virei seu rosto em minha direção, com todo o cuidado do mundo (ela bem que seria capaz de arrancar minha mão com os dentes se percebesse que eu a estava tocando), e confirmei minhas suspeitas.

Biology - Liskook (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora