1983

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Sirius abre a porta da pequena loja de chá para mim, o inverno chegou mais cedo esse ano, bem na época do nosso aniversário de namoro. eu queria ficar na nossa casa, estudando para a prova do ministério, mas Sirius insistiu que queria me dar um aniversário decente. às vezes é um saco ter um namorado amoroso e romântico.

— sei que isso é muito simples passar nosso aniversário aqui, mas no momento, é o melhor que consigo dar a você. prometo que ano que vem, nosso aniversário vai ser melhor. — os olhos de Sirius denunciam seu nervosismo, faz sete anos que estamos juntos. e nesses sete anos, Sirius sempre me deu os melhores e mais memoráveis aniversários de namoro. e em todos esses aniversários, ele sempre se culpa por não poder me dar uma vida melhor, desde que anunciamos nossa relação para o mundo, a primeira coisa que seus pais fizeram foi deserda-lo, quando terminamos a escola, alugamos um pequeno quarto em uma vila trouxa, e juntamos as nossas economias para sobreviver enquanto buscavamos emprego. os primeiros meses foram os mais difíceis, mas em nenhum momento perdemos a esperança de que as coisas iriam melhorar, e elas melhoraram, muito. eu ainda lembro do nosso aniversário de 79, tinha acabado de arrumar um emprego de garçom no beco diagonal, cheguei em casa extremamente cansado. porém, tive uma surpresa que nunca vou esquecer.

a imagem de Sirius todo sujo de farinha de bolo, com um avental que dizia "as esquisitonas."  e em cima da nossa mesa de jantar havia um bolo de chocolate com os dizeres "para o homem da minha vida" 
a letra não passava de um garrancho, e Sirius torcia suas mãos de nervoso, esperando eu dizer algo, porém eu estava tão atordoado de felicidade que esqueci de abrir a boca, só reagi quando ele perguntou:

— você gostou? eu juntei um pouco dos galeões que ganhei trabalhando e comprei os ingredientes para fazer para você. eu não queria deixar essa data passar em branco, anos atrás, esse foi o dia mais feliz da minha vida, e... bem, você sabe. — seu sorriso tímido se desmanchou quando viu as lágrimas caindo pelo meu rosto.

— amor, você está bem? — Sirius me abraçou com força. eu não sabia o que responder, então continuei chorando nos braços dele, molhando sua camisa.

— eu te amo.

sinto seus braços me apertarem mais ainda quando ele responde de volta:

— eu também te amo. muito.

eu uso essa memória para conjurar o meu patrono, nunca contei a Sirius, ele iria ficar se gabando por uma semana se soubesse.

saio de dentro dos meus pensamentos quando Sirius me puxa pela mão, e nós dois nos sentamos à uma mesa nos fundos da casa de chá. meu namorado parece mais ansioso ainda.

— feliz aniversário de namoro. — ele fala timidamente, o que não combina em nada com seu jeito habitual. sorrio. quero estapea-lo por causa desses pensamentos inferiores que ele tem de si mesmo. não comecei a namora-lo por causa de seu nome, status e riqueza, mas sim porque o amo, o amo tanto que daria minha vida por ele. só que esse idiota não percebe isso. e estamos há sete anos juntos. será que ele começar a notar isso quando eu o pedir em casamento hoje? torço para que sim. não economizei metade do meu salário por dois anos para comprar dois pares de alianças, e não usar nenhuma delas. sinto a caixinha pesar no meu bolso.
mal vejo a hora de mostrar ao mundo que Sirius Black é meu, mais do que já mostro.

— para. — Sirius fala de repente.

eu o encaro sem entender o que este quer dizer com isso. percebendo o ponto de interrogação no meu rosto, ele responde:

— você está com uma cara de que vai fazer um anúncio importante. pelo amor de Merlim, Sev. não me diga que você pretende me largar? — solto uma risada ao ver seu estado desesperado.

Don't blame me Onde histórias criam vida. Descubra agora