1979

390 46 10
                                    

o frio intenso me faz estremecer, dessa vez, o cenário que nos cerca está lotado de neve fofa, que se estende para todos os lados. cerro os dentes, tentando inutilmente parar com a tremedeira.

— céus, vamos sair daqui antes que morramos congelados. — Sirius me puxa pela mão, e dessa vez, me sinto grato pelo toque dele. pode parecer irônico vindo de mim, mas sempre odiei o frio, quando o inverno chega, passo todos os dias "rezando" para que o verão chegue, gosto de sentir o sol batendo no meu rosto, de não precisar usar um bocado de roupas para me proteger do frio, e é claro, do fato de que o verão é a melhor época para se preparar poções. é também a temporada em que várias plantas com propiedades mágicas importantes desabrocham. Regulus passou cinco minutos rindo de mim quando contei a ele esse fato, levando em conta que eu cai numa casa que tem o salão comunal mais frio de toda hogwarts até mesmo no verão, e de que sou extremamente pálido, não pareço ser do tipo que curte o sol e qualquer coisa que exale calor. mas eu sou.

— você... sabe em que lugar estamos? — pergunto.

— perto de hogsmeade. já estive aqui antes com James. — seus lábios se franzem tentando segurar o sorriso, seus olhos brilham ao falar do melhor amigo. ele parece gostar muito de Potter, igual eu gosto de Regulus. então consigo entender essa reação. por isso, freio minha vontade de fazer uma piada de mal gosto com ele. amizades é uma área que evito abordar em qualquer discussão, prefiro atacar as pessoas com insultos pessoais. é mais justo. pelo menos na minha visão.

a imensidão branca parece não querer dar trégua a nós. andamos pelo que parece uma eternidade, até que vejo o primeiro resquício de civilização.

solto um suspiro aliviado ao ver as casas e as lojas de hogsmeade. apesar do frio, as ruas estão lotadas de pessoas animadas e conversas altas, as lojas estão funcionando a todo vapor, e aqui e ali escuto gritos de vendedores animados. nós nos misturamos facilmente entre a multidão.

estou com tanto frio que deixo Sirius me guiar entre as ruas sem reclamar. depois de alguns minutos, paramos em frente a uma casa pequena com uma insígnia de uma flor negra na porta. ele bate na porta em uma sequência que não consigo entender, a porta se abre sozinha. não há ninguém lá dentro.

quando entramos, a primeira coisa que faço é ir em direção à lareira, que está convenientemente acessa. levo minhas mãos para perto, e quase solto um gemido de prazer quando meu corpo congelado começa a se aquecer aos poucos.

— toma. — Ele sai de dentro de um aposento, que acho ser a cozinha, carregando duas xícaras com chá fumegante. ele estende uma das xícaras para mim e se senta em uma poltrona perto da lareira. tomo um gole.

o chá esquenta o que o fogo da lareira não foi capaz. depois de um tempo, resolvo quebrar o silêncio.

— essa casa... é sua? — é estranho conversar com Sirius sem estar brigando ou o insultando com algum xingamento. vejo em seus olhos que está pensando o mesmo que eu nesse momento.

— é sim, não é exatamente minha, mas da família Black. é um refúgio, era para ser um refúgio, mas na maior parte do tempo é usada como uma casa de descanso. — ah, então deve ser aqui que Regulus vem quando está matando aula ou quando some durante nossos passeios em hogsmeade. e provavelmente também deve ser usada por Sirius e seus amigos. olho para a casa com curiosidade, não é grande, como se esperaria de uma casa da mui nobre família Black, também não é luxuosa, todos os móveis são medianos. se eu não soubesse que essa casa pertence aos Black, acharia que ela pertence a um bruxo qualquer.

ao perceber minha expressão, acrescenta, com o que eu acho ser vergonha:

— essa casa foi feita para ser um refúgio para os membros da família Black que... foi feita para servir de esconderijo, para os membros que estivessem com problemas judiciais... se é que me entende, existem muitas outras casas iguais a essa espalhadas por literalmente todo o Reino Unido. — agora a falta de luxo faz sentido. franzo as sombracelhas, sentindo a indignação crescendo a cada segundo em mim. eu estou acostumado a ver muitas demonstrações de riqueza por parte de outras pessoas desde que fui selecionado para a sonserina, mas essa aqui, de longe, supera todas. construir várias casas para servirem de esconderijo caso um dos membros ou vários membros da família burlassem alguma lei...
existe maior ostentação do que essa? ou maior desrespeito pelas leis? não que eu seja o maior fã delas, mas mesmo assim...

Don't blame me Onde histórias criam vida. Descubra agora