"Os covardes morrem muitas vezes antes de sua morte; os valentes morrem uma única vez." - Willian Shakespeare
Para os covardes, o medo de enfrentar seus próprios medos, faz com que eles vivam em constante ansiedade e pavor, experimentando a sensação de "morrer" repetidas vezes ao longo da vida. E eu era uma covarde, eu morria de novo e novo, a cada maldito dia que se passava, por que era covarde demais para aceitar a morte dele, para voltar a viver minha vida, para sair do buraco em que eu havia caído. Eu temia enfrentar meus próprios demônios, então vivia com eles, e com a sensação da morte todos os dias.
A brisa gelada da noite beijava meu rosto, enquanto eu observava a dança suave das árvores devido ao vento. O relógio piscava em vermelho marcando as três da manhã, como se me alertasse que mais uma vez eu estava acordada quando deveria estar dormindo. Faltava apenas algumas horas para que todos acordassem e eu voltasse para o inferno, a sensação de vazio que tomava conta do meu peito já era familiar, enquanto eu desajava com todas as minhas forças apenas sumir.
Apesar do meu desgosto por estar aqui, a luz da lua iluminava parcialmente o quarto escuro, criando um ambiente aconchegante, Selene estava enrolada em minhas pernas em um sono tranquilo, o canto dos meus lábios se contraem em um meio sorriso observando nossa semelhança. Os pelos brilhantes e pretos assim como meu cabelo e os olhos verdes Esmeralda, a personalidade também não se diferenciava muito da minha. Eu permaneci acordada por mais alguns minutos acariciando a gata em minhas pernas, e quando o relógio marcou três e mei, eu me forcei a silenciar minha cabeça, deitar e dormir.
O som do despertador tocou freneticamente me despertando do sono, eu coço meus olhos tentando os manter abertos, ao sentar na cama uma pontada atinge minhas costas fazendo uma careta se formar em meu rosto, eu me levanto e um choque percorre meu corpo quando meus pés quentes encontram com o chão gelado.
O ar gélido da manhã tomava conta do quarto, e fracos raios de sol atingem as paredes, eu havia esquecido a janela aberta, eu caminho para o banheiro, arrastando os pés, observando minha aparência no espelho, nada saudável a propósito, abaixo o rosto até a pia o deixando entrar em contato com a água gelada. Escovo meus dentes observando meu reflexo, e pensando o quão urgentemente eu preciso cuidar da minha saúde, caso contrário acabarei morrendo fraca em uma cama de hospital. Penteio meus cabelos com cuidado, os desembaraçando, talvez seja a coisa que eu mais aprecie na minha aparência, meu longos cabelos negros.
Voltando para o quarto eu visto um chinelo nos pés e observo Selene sentada na janela olhando para fora antes de sair descendo a grande escadaria de casa, meu estômago ronca de fome, e no meio da escada eu já consigo ver a mesa posta e minha família sentada, como se fossem todos felizes.
Meu pai está sentado na ponta da mesa, seu semblante sério enquanto lê distraidamente uma papelada, minha mãe está ao seu lado com um bule de chá nas mãos, apenas Lorenzo me vê, mas finge que não. Quando termino de descer o último degrau, meu pai ergue a cabeça dos papéis.
- Esmeralda, achei que não desceria para o café - Ele leva a xícara a boca, não foi uma repreensão, mas uma observação, eu forço um sorriso leve, e me sento.
- Suponho que devesse ter acordado mais cedo, não? - ao contrário do meu pai, minha mãe me observa com rigidez.
- Finalizei as malas muito tarde ontem - eu minto abaixando meu olhar para meu prato, e de canto de olho a vejo assentir.
Eu tomo meu café da manhã em silêncio e com a mente distante, ninguém faz questão de falar nada, e eu sou a última pessoa que quebraria esse silêncio, ao menos agradeço o clima neutro e não pesado. Eu termino de comer me escondo no meu quarto novamente, era nele que eu ficaria até o horário de sair, evitaria conflitos. Eu termino de arrumar as coisas que faltavam, com um pesar, por mais que eu odiasse ficar em casa, meu quarto era um cantinho seguro pra mim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre o Caos (+18)
Teen Fiction" - As vezes o que é proibido se rompe, quando sua esperança aparece em meio a nossa guerra, de qualquer forma o perigo sempre me atraiu de forma intensa, assim como seu amor me viciou como a mais bela droga "