Míriade e o Mundo Místico

Capítulo 20

                – Muito bem, por onde começar, os Orguies são parecidos com os trolls, das histórias do seu mundo, são criaturas grandes e feias, com quatro olhos e uma boca enorme de grandes dentes pontudos, como gigantes monstruosos e assustadores, não são do tamanho de gigantes, mas são maiores que todas as criaturas daqui, eles possuem garras, muitos pelos disformes e orelhas pontudas como as de um lobo, andam sempre encurvados e com pouca roupa, somente uma tanga pequena os cobre, estão sempre com armas construídas por eles mesmos, como machados e assim como as bruxas, andam sempre em grupo, nunca separados, mas costumam ser menos discretos que elas sobre isso, a maioria não tem grande inteligência ou não faz o uso frequente do cérebro, mas o mais importante, são horríveis e perversos, conhecidos como a escória do nosso mundo – o pai de Logan diz, agora já sentado como nós na ilha da cozinha, depois que ele chegou todo sério e preocupado, eu resolvi tirar o bandeide logo e descobrir quem são os Orguies, já que Verônica e Logan não estavam entrando em um consenso sobre o que me contar, então ele sentou aqui e começou a explicar

– Aha! eu disse! Viu só? E você me recriminando! – Verônica grita dando um pulo do seu lugar e assustando a todos nós, apontando para Logan com uma expressão vitoriosa em seu rosto, fazendo com que ele coloque a mão no rosto, enquanto suspira fortemente – Desculpe – ela murmura baixo, após Bill dar uma olhada certeira em sua direção, com o que vou considerar ser sua expressão de repreensão, fazendo com que ela volte ao seu lugar e todos voltem a prestar atenção nele outra vez

– Tudo o que tem que saber, é que não quer se meter com eles, não sem saber usar seus poderes ainda, já é bem difícil para o resto de nós os vencermos, você sendo uma novata nisso tudo, seria ainda pior, então deixe que nós resolvemos tudo ok? São assustadores, mas não invencíveis – Bill diz dessa vez olhando diretamente para mim, me fazendo concordar com a cabeça, ainda sem palavras para toda essa confusão que eu causei a eles, com esses Orguies vindo até aqui, eu claramente os coloquei em risco

– Muito bem, já está tarde, acho melhor vocês comerem e irem descansar, amanhã é um novo dia e precisamos todos estar dispostos – Bill termina de dizer, acenando para todos nós em seguida e saindo pela porta que eu tina visto dar para o quintal, deixando antes um clima agradável e descontraído, agora pesado e penoso

– Não tem com o que se preocupar! Nós damos conta desses Orguies idiotas e eles não vão chegar perto de você, está bem? Só passando por cima do nosso cadáver – Verônica diz também se levantando e olhando para mim, dando o que eu imagino ser um sorriso confortador, me fazendo suspirar e levantar também

– É justamente isso que me preocupa – é a ultima coisa que digo a eles, saindo da cozinha e indo em direção a mesma porta pela qual o pai de Logan saiu, precisando urgentemente de ar, para minha surpresa e alívio ninguem me segue, saindo por uma porta lateral encostada, que da direto para fora do terreno, me deparo com uma cena que me aquece o coração, Melanie, Gigi e Adam, sentados em volta de uma fogueira, junto com pessoas que imagino serem da matilha de Logan também, estão rindo e se divertindo como a muito tempo não os vejo fazer, assim como Verônica e Sophie na cozinha agora de pouco

Eles só se divertiam assim antes, se tinham tomado pelos menos três latas de cervejas ou cinco taças de vinho, e saber que posso ser a responsável por estragar essa felicidade, por tirar a paz dessas pessoas, dessas famílias que nada tem a ver com essa história toda, me entristece demais, não queria que fosse assim, mas o que posso fazer? Como posso ajudar se não sei fazer nada com minha magia e a primeira conexão que tive com ela foi aterrorizante?

Tomando uma decisão que pode ser considerada imprudente eu faço a única coisa que me cabe neste momento, sem permitir que ninguem me veja e atrapalhe esse momento, marcho em direção a casa ao lado, a mesma que estávamos em frente quando chegamos e tudo aconteceu, que descobri ser a casa do Bill

Chegando perto, percebo que a porta da frente que é feita em vidro está aberta, o que me faz pensar que isso é um tipo de permissão, sem querer analisar o quanto estou sendo invasiva agora, eu entro e passo direto pela sala de estar, assim como fizemos hoje mais cedo, que apesar de não ter se passado nem um dia, parece que foi a anos

A porta da biblioteca também está aberta, o que me permite passar sem grande alarde, assim que entro, vejo que não tem mais ninguem aqui, o que é bom, vai me ajudar na concentração e me poupar tempo de explicações do porque estou aqui uma hora dessa, vou na direção das prateleiras que são dentro das paredes e procuro os livros que preciso, gosto de ler, então não vai ser difícil, pego todos os livros com títulos que envolvam magia ou que fale sobre criaturas antigas, torcendo para encontrar algum que me ajude a conseguir o que preciso

Após fazer uma boa pilha de livros amontoados na mesa em que Bill esteve sentado mais cedo, eu começo minha busca através da leitura, páginas após páginas, capítulos após capítulos, livro após livro

Aprendendo mais sobre o passado dessas criaturas, mas não sobre o meu passado, aprendo sobre feitiços usados pelas bruxas, aprendo sobre materiais de construção do Arundas e sobre suas praticas de plantações, aprendo sobre a organização de hierarquia dos lobos e tudo que são capazes de fazer, aprendo sobre os Satantis e como foram os anos de sua liderança e tudo que são capazes e incapazes de fazer como criaturas místicas, aprendo sobre quão cruel e invencíveis os Orguies podem ser contra outras criaturas, tudo que pode me ajudar de alguma forma, a me conectar com o passado do meu mundo e me ensinar coisas, para que consiga me defender de todos eles, por conta própria

Porém não encontro nada sobre mim ou sobre as fadas, há de tudo nestes livros, sobre todas as criaturas, menos sobre as fadas, é como se elas fossem uma incógnita para todos, como se só quem viveu aquela época pudesse saber algo sobre elas ou as ter conhecido, é quase como se nunca houvessem existido, não existe nem a menor pista sobre elas nos livros, qualquer coisa que me ajude, nada, como se as mesmas criaturas que as mataram, quisessem também apagar sua existência

Mas quem foram afinal? Por que todos não se perguntam quem matou as fadas? Quem as está apagando e não deixando qualquer vestígio de que existem ou existiram em algum momento, nos fazendo pensar que elas são contos, passados de geração em geração, sendo nada mais que uma história para dormir

Quem são esses seres tão cruéis que foram capazes de dizimar uma espécie sem que ninguém nunca os cobrasse ou questionasse sobre isso, por que ninguém fala sobre elas, por que essas criaturas só resolveram esquecê-las?

Sem me dar conta estou debruçada sobre a mesa, chorando por não saber nada do meu passado, por não saber quem eu sou, chorando por pessoas que eu nem mesmo conheci e foram tão injustiçadas, chorando por um povo do qual eu vim, mas que não está aqui para me receber, chorando por eles terem sido assassinados e nada ter sido feito, chorando porque as criaturas daqui não são capazes de enxergar nada mais que a própria espécie

Não que os humanos fossem um exemplo sobre como viver em sociedade e como um todo, somos bem egoístas e nada empáticos, mas sabemos o que é ser família, mesmo não sendo do mesmo sangue, sabemos valorizar muitas das vezes, mais os nossos amigos que nossa família, sabemos acolher ao próximo quando nos conectamos a ele, mesmo que não sejamos nem mesmo parecidos fisicamente ou em personalidade, porque nos mundo humano apesar dos pesares, há pessoas que fazem a diferença e estendem a mão aos outros, pessoas solidárias, que se sentem injustiçadas se alguém do seu grupo em morre, e tudo o que precisam ter em comum é os ideais

Como eu e meus amigos por exemplo, apesar de sermos completamente diferentes uns dos outros e de virmos de lugares diferentes, somos uma família, somos a nossa família, e eles lutariam em busca de respostas se soubessem que me mataram por qualquer motivo que fosse, só para que não fosse largado a esmo, só para que o agressor fosse punido por ter me machucado, dariam suas vidas por mim e somos diferentes em tantos sentidos

É a última coisa em que penso antes de cair no sono, ali mesmo, sentada a mesa, com os livros que não puderam me ajudar ao meu lado, ainda sentindo lagrimas escorreram por meu rosto, eu caio em um sono profundo e a última coisa de que me lembro e sinto, é de ser carregada por alguém.