Capítulo 2: Monstros à Espreita

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Ela estava na minha frente novamente, dessa vez vestindo uma jaqueta de motoqueiro que deveria ser dois tamanhos acima do dela. Não se dando por satisfeita, Lalisa jogou um dos capacetes na minha direção. Ela sorriu ao me ver agarra-lo com facilidade e ergueu seu polegar para cima.

— Muito bem! Pelo visto seus reflexos estão ótimos. Sente alguma dor?

— Não.

— Seus ferimentos estão cicatrizados e seu corpo não reagiu a nenhum efeito colateral, excelente — Lalisa colocou seu capacete e ligou sua Harley Davidson — Vamos, suba.

Encarei a moto com atenção, notando o quão radical e perigosa ela parecia ser.

— Tem certeza que sabe pilotar essa coisa?

— Essa "coisa" é uma Cruiser Fat Bob, mais respeito, por favor.

— Ok, então espero que você não exploda essa Fat Bob Esponja Cruiser em uma bola de fogo gigante assim que virarmos a esquina.

— Só suba, Jurema.

Obedeci, afinal queria ir pra casa o mais rápido possível, mesmo que isso significasse andar na garupa dela. Confesso que assim me sentei, tentei fazer a fina, deixando minhas mãos descansando sobre o meu colo, porém assim que Lalisa arrancou com a moto, meus braços se seguraram na cintura dela por puro reflexo e desespero. Ela me olhou por cima do ombro, com um sorriso convencido nos lábios.

— Molenga. — Ela disse, me fazendo querer soca-la.

Seguimos caminho com Lalisa obedecendo as sinalizações de velocidade, o que me fez ficar imensamente agradecida. Apesar do vento frio da estrada, o abdômen da garota tinha um calor um tanto agradável. Me senti tentada em apoiar minha cabeça nas costas dela, mas me segurei, o nível de vergonha deveria parar comigo segurando em sua cintura.

— Pare de se remexer, é desconfortável para pilotar.

— Desculpe.

— E não fique tão tensa. Você está pegando na minha cintura e não na minha bunda.

— Como você consegue falar essas coisas tão facilmente?!

— O que? "Bunda"? Deve ser porquê todo mundo tem uma.

— Eu desisto.

Lalisa tinha uma face angelical, mas seu comportamento era idêntico ao de um brutamonte de meia idade, o que tirava metade de sua atratividade. Eu digo que se deixassem essa garota no modo "mudo" e a fizessem praticar algumas normas de etiqueta, ela até que ficaria apresentável, mas do jeito em que está, duvido muito que ela consiga manter uma conversa descente com alguém.

A vizinhança do lugar onde Lalisa morava era monótona. Tirando alguns animais de rua, o bairro estava completamente deserto e frio. As casas eram velhas e gastas, assim como o asfalto lotado de folhas e rachaduras. Me pergunto por qual motivo ela escolheu viver em um lugar assim. Tudo era tão triste que chegava a ser assustador. Mas, de certa forma, Lalisa também podia ser bem assustadora com aquela espada, então acredito que ela se sinta confortável em um ambiente assim. Falando da espada, a arma ainda continuava presa na bainha, nas costas da garota. O punho da mesma era enrolado com tiras de couro, ela era bem longa, ia até mais ou menos o final da coluna de Lalisa. Eu poderia estar errada ou apenas imaginando coisas, mas podia sentir um leve calor emanando da bainha de cor escura, quase como se o metal da espada fosse quente.

— Preciso que me diga seu endereço.

— Moro próximo ao centro empresarial, condomínio cansas.

— Mora em um apartamento com seu cachorro peludinho de raça, que amor.

Hunter Angel | JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora