I

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Sasuke encarava a tela em branco, tentando encontrar algo que o motivasse a pintar. Qualquer inspiração, por mais boba que fosse.

Suspirou, derrotado, se levantando e pegando seu casaco que estava jogado em seu velho sofá manchado de tinta. Vestiu a peça negra e saiu, batendo a porta atrás de si. Tudo o que precisava era de uma caminhada noturna.

Antes de sua esposa morrer há um ano, ele vivia inspirado. Estava sempre pintando algo diferente e a grande maioria de seus quadros eram vendidos rapidamente. Mas, Mei (sua esposa) faleceu após adoecer. 

Desde então, eram poucas as vez em que Sasuke se sentia inspirado. Suas telas quase não vendiam e, consequentemente, seu dinheiro era pouco. Mas ele ainda tinha o suficiente para se manter, pois pelo menos duas vezes por semana, tocava flauta em alguns restaurantes famosos.

Naquela noite, não era possível ver nem as as estrelas nem a lua. Quando começou a chover, ele se amaldiçoou por não ter pego seu guarda-chuva. Mas apesar disso, estava com um bom pressentimento. Estava todo molhado, olhando para o céu. E sentiu alguém se chocar contra ele. Era uma mulher.

 Ela caiu no chão, se sujando de lama. Seu vestido comprido e cinzento estava um pouco rasgado na barra. Uma das mangas parecia ter sido rasgada e ela estava imunda. Ela estava cabisbaixa, mas Sasuke sabia que ela chorava. Os longos cabelos rosados um pouco sujos de lama lhe cobriam o rosto.

-Perdão, senhor! -ela se apressou em dizer.

-Ei -Sasuke chamou, mas ela não o olhou. 

O único som audível eram os seus soluços. Sasuke se agachou ao lado dela, que virou o rosto para o lado.

-Por favor... não faça nada comigo! Por favor!

-Não vou lhe fazer nada -ela continuou a chorar -Olha... está chovendo muito e está frio aqui fora. Se quiser, venha comigo. Tenho uma lareira em casa, onde pode se aquecer.

-Por que eu iria com o senhor? Nem sei quem é. 

-O meu nome é Sasuke. Sasuke Uchiha. E você, como se chama?

Ela não respondeu. Ele bufou e, ouviu um sussurro:

-Me chamo Sakura Haruno.

-É um nome bonito. 

Ele se levantou, ainda olhando para a mulher sentada no chão lamacento. Sakura. Ele estendeu a mão para ela, esperando a resposta. Ainda sem deixar ele ver seu rosto, Sakura pegou em sua mão, levantando-se em seguida.

-Está com frio? -Sasuke perguntou.

-Não -ela respondeu, mas foi traída por seu próprio corpo, que tremia sob as gotas grossas e geladas de chuva.

Sasuke despiu seu casaco e o jogou sobre os ombros da rosada, que ainda tremia. Devagar, ele começou a fazer o caminho de volta à sua casa, sendo seguido por Sakura, que mantinha a cabeça baixa.

Alguns minutos depois, chegaram ao seu destino. Uma casa pequena e simples, mas aconchegante. Relutante, Sakura entrou na casa, seguindo Sasuke. Ela olhou para trás e, vendo que deixara um rastro de lama por onde passara, sussurrou um pedido de desculpas à Sasuke, ainda não deixando que ele visse sua face.

-Não se preocupe com isso -foi o que ele respondeu -Você quer tomar um banho? Tenho roupas femininas que eram da minha falecida esposa. Eu posso fazer uma sopa enquanto isso. O que acha?

-É muita gentileza, mas...

-Aceite, por favor. A chuva vai demorar para passar. Vou pegar uma toalha para você e um vestido de inverno de Mei. Espere aqui.

Ele. entrou em seu quarto e segundos depois, retornou à sala, segurando uma toalha branca e um vestido longo de mangas compridas azul claro. Ele entregou tudo a ela e lhe mostrou onde era o banheiro.

Ele se virou para ir à cozinha para começar a fazer a sopa, quando Sakura o chamou.

-Sasuke?

Ele se virou automaticamente e pela primeira vez, viu o rosto daquela mulher de cabelos róseos. Sua pele era branca como porcelana e estava um pouco suja de lama. Ela tinha a testa um pouco avantajada, mas isso era um detalhe sem importância quando se olhava em seus grandes olhos verdes como esmeraldas.

-Sim? -ele perguntou.

-Obrigada.

Minutos depois ela saiu do banheiro vestindo o antigo vestido de Mei e com os cabelos molhados escovados.

Vendo-a daquele jeito, tão bonita, Sasuke não pôde deixar de ficar encantado. Sakura era uma das moças mais belas que ele já vira em todos os seus vinte e três anos de vida. Ele simplesmente precisava pintar seu rosto.

-A sopa já está quase pronta -Sasuke anunciou.

 E mais tarde, eles jantavam à mesa. Sasuke morria de curiosidade para conhecer melhor aquela moça tão bela.

-Você é de onde, Sakura? -perguntou, sem conseguir se conter.

-Sou daqui mesmo. Nasci e fui criada aqui em Konoha.

-Eu queria te pedir um favor -ele falou.

Na mesma hora, Sakura largou sua colher, que fez um barulho alto ao bater no prato. Ela deveria ter adivinhado. Um homem não ofereceria abrigo de graça. Ela teria que lhe pagar de algum jeito.

-O que é?

-Deixo você ficar aqui durante algum tempo. Mas em troca, vai me contar sua história e posar para que eu faça uma pintura sua.

-Uma pintura?

-Sim. Aceita?

 Devagar, ela assentiu.

-Ótimo! Amanhã mesmo começamos.

Terminaram de comer em silêncio e depois, Sasuke lhe mostrou o quarto de visitas onde ela ficaria. Lhe desejou boa noite e foi para seu quarto.

 Deitado em sua cama, ficou idealizando como seria o retrato de Sakura. Ele mal podia acreditar.

Depois de tanto tempo, estava inspirado.


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