Correria

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Hoje é o meu aniversário, mas o presente é para vocês! Minha primeira longfic... Espero que gostem!

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As escadas de madeira desgastada rangiam com a descidade de Arckeman, ter que morar no 12° andar era péssimo quando o elevador do prédio, que já não era dos melhores, quebrava.

Ele descia apressado, quase correndo. O cuidado que tinha que tomar era enorme, isso porque ele era um dos poucos que morava no pequeno edifício, caso caísse, só achariam seu corpo uma semana depois...

Ok, poderia não ser isso tudo, mas ele aparentmente era o único do seu andar, além de que a manutenção e limpeza das escadarias e elevador só acontecia uma vez por semana.

Se bem que – Levi pensava – seria uma ótima ideia despencar delas, essa vida solitária era agoniante, ele acordava com o ronronar de seu gato cinza, o Gray, e dormia com ele. Algo aconchegante, mas ainda sim imperfeito.

Queria pele humana o tocando, abraçando-o, mas não de forma sexual, amorosa.

Respirou fundo imaginando seu grande amor o ajudando a descer pelas escadas, como um duque estendendo a mão para que sua duquesa subisse ou descesse da carrugem que com certeza custava mais que o sextuplo do salário de Levi. A vida de pobre era difícil.

Quer dizer, ele não era exatamente pobre, possuía sim um ótimo salário. Suas roupas eram de boas marcas e seus sapatos eram engraxados toda sexta-feira por um menininho que ficava na esquina do edifício e fazia questão de abraçar o quadril de Levi sempre que ele passava. Claro que ele não gostava muito de receber um abraço das mãos sujas de pigmento preto, mas não iria negar a felicidade de uma pobre criança.

Era emocionante levar todos os sapatos usados na semana numa caixa de papelão velha pela construção, até chegar no menino e ver seus olhinhos cor-de-azeitona brilharem, imaginando os trocados que ganharia fazendo aquele serviço.

Enquanto o moleque engraxava seus calçados, Levi ficava sentado conversando com ele num banquinho de madeira, que o pequeno trazia apenas para Ackerman sentar. Eles falavam sobre as marcas dos carros que passavam na rua, sobre as viagens do maior, suas comidas favoritas, entre outros assuntos. O moreno já levou até mesmo uma marmita para que comessem juntos!

Era uma relação boa, mas com um tempo determinado.

As pessoas que passavam ficavam confusas ao ver um belo homem de terno escuro ao lado de uma criança toda suja e engraçada. Mas eles não davam a mínima e eram felizes assim.

Levi trabalhava como balconista num motel bastante popular em seu bairro, sua carga horária era das vinte e uma da noite até quatro horas da manhã, ele ganhava um pouco mais que um salário mínimo e conseguia viver bem com aquilo.

Devido ao seu trabalho, era comum ver cenas vergonhosas que o fazia ficar vermelho até a ponta dos pés. Algumas pessoas que entravam na recepção a fim de reservar um quarto, vinham de uma boate com seu "parceiro temporário" e já entravam no estabelecimento de pau duro, o que fazia o menor morrer de vergonha ao ter que lutar para olhar nos olhos embriagados do cidadão e não para o pênis marcado na calça, era difícil.

Ele também detestava ter que atender aqueles casais de namorados que só apareciam quando estavam bêbados.

Dava pra ver que a mulher se sentia uma rainha em estar indo com o seu namorado para um motel, mas era pura ilusão. O típico "casal" que só se via para fazer esse tipo de coisa e que quando não era assim, foi porque ela insistiu muito para que eles dois fizessem outra coisa que não era sexo.

Tinha dó dessas meninas... Pobrezinhas, pensando que estão vivendo um amor. "Isso que dá ser gostosa demais e pensar de menos" Levi pensava.

Esse tipo de coisa pode parecer amor, afinal, pessoas famintas comerão qualquer coisa.

Haviam também os pedófilos, era frustrante a sensação que ele sentia ao ter que falar para um marmanjo de aparentemente 40 anos que ele simplesmente não poderia entrar com a sobrinha de 14 anos dentro de um quarto.

Em 100% dos casos ele chamava a polícia, mas eram raros os momentos em que ela chegava, então tinha que resolver essas coisas por conta própria.

Foi assim que ele "operou" dos sisos de forma gratuita.

Havia até mesmo vezes que o moreno levava as crianças para orfanatos quando elas diziam "Eu não tenho pais, moço! O titio do hotel é meu único amigo", dava uma dor no coração...

Eram inclusive nesses dias, esses de muita violência e compaixão, que Levi paquerava os "galãs de novela" que entravam no hotel acompanhados geralmente de belas damas, apenas de vez em quando era algum homem. Quando eram dois homens, Levi deixava eles dois passarem para os quartos, mesmo sendo proibido. Afinal, qual é a ovelha que não quer beneficiar seu rebanho?

Havia um loiro que entrava todos os sábados às 12 horas da noite no estabelecimento, toda semana com uma menina diferente.

E em quase todas as vezes elas saiam 30 minutos depois gritando pelos corredores:

– Eu não acredito que você é gay! Me fez perder o meu tempo!

Era engraçado, mas ao mesmo tempo triste. Parecia que ele simplesmente não aceitava isso, prefiria fingir do que assumir pra si próprio que era daquele jeito.

Ele só saia umas 2 horas depois, geralmente fumando um cigarro e com os olhos marejados.

Ah, estava acontecendo denovo, lá vem ele.

Sapatos carmesim e uma camisa social da mesma cor, uma calça preta jeans. Era um sonho, como se todos os desejos da cabeleira morena se resumissem ao loiro de aparentemente 190 centímetros de altura.

Ele passava em frente ao balcão com seu cigarro na boca, esse que aparentemente não era o primeiro e muito menos o último.

Ah... O vício.

– Ei, quero falar com você – Levi disse ao ver o homem quer fazia menção de abrir a porta. Viu ele virar o pescoço num ângulo de 45° em sua direção.

"Oh, é o balconista. O que caralhos o balconista tem a falar para mim?" - pensou Erwin.

–  Sim? – respondeu num tom másculo.

– Venha aqui – Levi fez um gesto com a mão, dando a entender que queria que o maior se aproximasse –  Eu quero falar com você.

Erwin, ainda confuso, se aproximou do balcão e olhou forçadamente para baixo, apoiando seus cotovelos na madeira escura e encarando o homem que mais parecia uma criança.

– Quantos anos você tem, loiro?

– Tenho 33 anos, porque?

– 33 anos e você ainda fica insistindo em comer algo que odeia? Parece um adolescente... Não quero me intrometer, mas puta que pariu né? – Levi dizia em um tom risonho – Dá vergonha ver gente dessa idade fingindo ser alguém que não é.

– O que você tem haver com que isso?

– Só estou falando isso pois te entendo, entendo como você se sente: confuso e perdido. Mas não precisa ficar insistindo, se maltratando. Aqui tá o meu número e meu endereço, me liga ou aparece lá em casa amanhã... – Ele anotou seu número numa folha de papel do pequeno caderninho que o motel disponibilizava para reservar os quartos, dobrou e puxou a mão do outro, colocando o papel nela e a fechando, mandou ele guardar bem.

Erwin só obedeceu e, ainda com semblante raivoso, saiu do motel e pegou seu carro, indo finalmente para casa.

– Ei moço... Quanto que tá a pernoite?

Outro homem de pau duro, lá vamos nós... Se bem que esse era grande.

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Nas esquinas desse apartamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora