Prólogo
Henrique
Um ano antes.— Caramba!!! Será que dá para você parar de me ligar por um segundo??? Faz o que achar melhor, eu só quero respirar direito!!! Tive um dia super cansativo, só quero um pouco de paz. Eu não estou em um bordel se é isso que quer saber. — jogo o celular no balcão da cafeteria com certa força, eu não sou de agir dessa maneira grosseira com ela, mas hoje minha esposa parece ter tirado o dia para me atormentar.
— Maldita crise dos sete anos. — ouço uma voz feminina e me viro para o lado. Observo uma mulher loira que eu sequer tinha notado antes de chegar. — Desculpa, não tive como não ouvir a conversa... — ela dá um pequeno sorriso.
— Eu devo ter falado um pouco alto demais. E sim, deve ser a crise dos sete anos mesmo. — tecnicamente temos sete anos juntos já que namoramos por três e temos mais quatro de casados.
Bufo ao rejeitar outra chamada de Amanda. Minha esposa.
— Ela é insistente.
— Ela quer saber onde eu estou.
— Por que não fala? Você está apenas em uma cafeteria.
— Ela chegaria aqui em 15 minutos.
— Isso é complicado...
— E sufocante. — suspiro, sem saber exatamente o o motivo de estar desabafando com uma completa desconhecida. — Você não tem ninguém que encha seu saco assim não?
— Graças a Deus, não.
— Então não case. É um conselho valioso.
— Eii, não fale assim. Não destrua meus sonhos, eu ainda quero muito me casar.
— Espero que encontre alguém legal então.
— Você não encontrou? Ela não é legal?
Que mulher curiosa...
Isso certamente me irritaria vindo de alguém que acabei de conhecer, mas estranhamente me sinto confortável em estar conversando com ela.
— Ela é. É gentil e amorosa, minha família a adora. Mas a nossa relação não é como antes, acho fomos desgastando com o tempo.
Não conto que há dois anos eu queria me divorciar de Amanda porque infelizmente demorei tempo demais para perceber não somos o amor da vida um do outro. Tínhamos nos tornado tóxicos. Estranhos dividindo a mesma casa. Nos machucávamos o tempo inteiro com palavras.
E é difícil admitir que ainda continuamos assim.
Mas nesses dois anos Amanda descobriu um câncer. Isso mudou tudo. Não poderia pedir o divórcio. Minha única preocupação era que ela ficasse bem.
— Se tá tão ruim assim, por que não se divorciaram ainda? — fala como se um divórcio fosse a coisa mais fácil do mundo.
Queria que fosse simples assim.
— Achamos que ainda dá para recuperar as coisas boas do nosso relacionamento. — ela assente e analisa meu rosto por alguns segundos, o que me constrange um pouco.