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Marilia

Henrique me deixou em casa ontem à tarde. É segunda e ele não mandou nenhum sinal. Será que devo arriscar uma ligação? Melhor não, o clima na sua casa não deve tá nada bom. Mas estou um pouco preocupada com a reação de Amanda. Bom, mas não tenho tempo para pensar nisso agora, tenho plantão em um hospital e preciso sair de casa nesse exato momento. Provavelmente só terei tempo amanhã.

Já estou há algumas horas no hospital, é madrugada. Eu adoro trabalhar na clínica, muito mesmo. Mas a correria do hospital me fascina bastante. Só agora tive tempo de comer o lanche que havia feito em casa, depois de ter certeza que não tinha mais pacientes para atender no pronto socorro. Antes de morder meu sanduíche alguém me chama.

— Chegou uma pessoa. — avisa e eu faço um muxoxo, realmente estava com muita fome. Mas não posso negligenciar essas situações.

— Ok...

Recebo o prontuário da paciente e chamo. Estou cansada, mas ainda assim consigo abrir um sorriso para atende-lá. Mas foi só o instante de olhar para a porta que meu sorriso morreu no mesmo segundo.

Amanda e Henrique.

Era o meu pior pesadelo se materializando ali, diante dos meus olhos. Como eu não notei pelo nome???

Sinto o ar me faltar. Minha fome inteira se esvaiu. Parece que todo o meu sangue saiu do corpo, devo estar pálida como um papel. Henrique não parece muito diferente de mim, parece muito surpreso mesmo. Nunca comentei que trabalhava aqui. Fiquei alguns segundos tentando me recuperar do choque inicial, até que olhei para Amanda e ela parecia mal, tão mal que Henrique a segurava pela cintura porque parece que a qualquer momento ela vai desmaiar.

— Oi... — acho que eles nem escutaram minha voz de tão fraca que saiu. — O que aconteceu com ela? — pergunto diretamente para ele porque ela não parece ter forças para falar nada.

— Ela tá sentindo fortes dores abdominais desde ontem. Tanta dor que chegou a vomitar várias vezes. Chegou a sangrar hoje... — ele não olha na minha cara nem por um segundo.

— Certo... vou passar uma medicação para aliviar as dores e vou pedir alguns exames para saber o que tá acontecendo com ela. Não posso dar nenhum diagnóstico sem os exames. — ele assentiu com a cabeça. — Vai ficar tudo bem, Amanda. Fica tranquila que com a medicação vai aliviar as dores. Você deveria ter vindo antes.

— Meu marido tinha viajado, não quis preocupar ele... — falou fraco.

— Ah...

Juro, acho que vou morrer sufocada aqui na frente deles.

Eles foram levados para um quarto e eu fiquei ali tentando me recuperar do baque que foi isso que tinha acabado de acontecer. Me sinto culpada até os ossos por ter ido naquele maldito chalé com Henrique enquanto ela estava aqui com dores. Era como se eu tivesse sendo feliz às custas dela.

Passei pelo corredor e vi pela janela de vidro os dois juntos. Ele é tão carinhoso com ela que me dá vontade de chorar. Ela tomava o soro e ele estava o tempo inteiro apertando sua mão e fazendo cafuné na sua cabeça.

Mais uma da série de coisas que nunca terei.

Não que ele não seja comigo. Mas deve ser uma sensação totalmente diferente receber um carinho e um cafuné sem se sentir uma impostora.

Sentimento loucoOnde histórias criam vida. Descubra agora