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Marilia

O dia de ir embora está se aproximando e eu já estou ficando meio melancólica de saudades. Eu moro nessa cidade desde que nasci, nunca fiquei mais que duas semanas fora. Vou sentir tanta falta do meu apartamento, da cafeteria, da clínica, do hospital, dos meus pacientes, das minhas amigas... ontem elas fizeram uma festa de despedida na clínica para mim, foi emocionante. Fico feliz que aquele acontecido não tenha abalado minha relação com ninguém lá. Ninguém ao menos comenta sobre isso, o que me deixa bastante aliviada.

Estou encaixotando as coisas que não irei levar. Vou alugar o apartamento, então preciso guardar as coisas mais pessoais. Homens musculosos não fazem meu tipo, mas seria legal ter um agora para carregar essas coisas pesadas. Sou interrompida pelo barulho do meu celular tocando insistentemente, pego o aparelho mas vejo que não tenho o número salvo.

Deve ser cobrança...

Alô?

— Oi, esse número é da Marilia?

— Sim. Olha, moço, eu não tô devendo nada, então... — ele riu.

— Eu sou Juliano.

Fico sem reação pois único Juliano que eu sei que existe, é irmão do Henrique.

Ele sabe quem sou eu?

Mas porque ele ligaria para mim?

Aconteceu algo com Henrique? — pergunto preocupada. A última vez que o vi foi quando ele saiu daqui quase correndo quando descobrimos que eu não estava grávida. Até hoje não entendi muito bem isso.

— Aconteceu... aconteceu que ele não para de beber, de faltar no trabalho, se continuar assim ele vai acabar sendo demitido de novo. Ele tá se acabando dessa forma desde o dia que você deixou ele... Eu adoro Amanda e não concordo nenhum pouco com o que vocês fizeram com ela. Mas eu não te ligaria se não soubesse o quanto meu irmão te ama. Eu nunca vi ali assim por ninguém...

Me abalava muito saber que ele estava nessa situação. Mas eu não tenho o que fazer...

— Eu não posso ajudar nisso. Me desculpa...

— Você não o ama?

— Amo mais do que deveria...

— Então...

— Juliano, eu sinto muito por tudo que tá acontecendo com ele. Mas seu irmão não é mais problema meu. — desliguei o celular sentindo meu coração apertar.

Eu não consigo não fazer nada...

Merda, Henrique... eu te amo tanto que vou fazer algo que eu jamais pensei que me submeteria.

Continuo ali colocando minhas coisas na caixa, mas a verdade é que estou nervosa pra caramba com o que acabei de fazer. Penso em apagar a mensagem, mas ela já foi vista. Respiro fundo quando a campainha toca, fico alguns segundos ali parada na porta antes de ter coragem suficiente para abri-la e dar de cara com Amanda.

— Oi...

— O que você quer comigo??? — ela estava com muita raiva, não era para menos. Eu fiquei com o marido dela.

Sentimento loucoOnde histórias criam vida. Descubra agora