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Marilia

Três anos depois.

Meu contrato como médica voluntária se encerra hoje, o coração já aperta de saudade de todas as coisas que vivi nesse tempo. Sou uma Marilia totalmente diferente de quando cheguei, continuo com a mesma essência, mas com certeza estou mais madura e mais segura agora. Hoje entendo com clareza que as coisas não poderiam ser nenhuma vírgula diferente do que foram.

— Vou sentir tanto a sua falta. — Mauricio lamentou enquanto me observava fazer as malas. Acho que ele vai ser médico voluntário para sempre, não tem pretensão alguma de voltar.

— Você vai superar isso, meu bem. — Dei um sorrisinho para ele.

Não éramos namorados e nem pretendíamos. Maurício entendeu com o tempo que nós dois nunca rolaríamos. Mas tínhamos uma amizade com benefícios, sem cobranças e sem qualquer interesse de transformar em algo sério.

— Você adora esse estetoscópio, não é? — eu encarava fixamente o presente que Henrique havia me dado no aeroporto. Acho que foi uma má ideia ter aceitado, pois mesmo como todo esforço que eu fiz para não pensar nele nesses três anos, parecia que ele estava ali, impregnado naquele objeto.

— É porque é um ótimo estetoscópio... — eu não gostava de falar sobre Henrique com outras pessoas. As coisas que me submeti me deixavam vermelha de tanta vergonha. Então prefiro guardar tudo dentro de mim.

— Hum...

— Chega de conversa! Você não acha que merecemos uma despedida? — propus mordendo o lábio.

— Eu adoraria...

— Então vamos aproveitar o tempo juntos porque temos... — olho meu relógio de pulso — Quatro horas antes de você me levar no aeroporto. — Beijo sua boca com intensidade, puxando sua camisa para cima.

— Vou sentir falta disso também, puta que pariu! — ele me arrastou para a cama.

Era uma amizade com belos benefícios e zero sentimentos.

*****

Quando depois de muitas horas de viagem, o piloto avisou que pousaríamos em Palmas, meu coração deu uma cambalhota de felicidade. O tempo fora foi crucial para mim, mas a sensação de voltar para casa é única.

Assim que coloquei meus pés para fora do avião, percebi que sentia mais saudades do que imaginava.

Pedi um táxi e fui direto para o meu apartamento, eu tinha alugado, mas a pessoa teve que deixar a cidade há alguns meses, então decidi não alugar mais até que eu voltasse.

****

Não faço a mínima por quanto tempo eu dormi desde que cheguei em casa, suponho que tenham sido longas horas pois pela janela, já me parece manhã. Ainda preciso me acostumar com o fuso horário. Levanto da cama e a primeira coisa que faço é tomar um belo banho, depois preciso sair e comprar algumas coisas pois não tenho nada aqui.

Saio de casa faminta, preciso de um café urgentemente! Ando um pouco e de longe observo a cafeteria que costumava ser a minha preferida. A mesma em que conheci Henrique. Ela foi a peça chave para todas as coisas que aconteceram na minha vida nos últimos anos. Às vezes penso em como eu estaria se nunca tivesse vindo aqui aquele dia. Com certeza teria me poupado de muitas dores e traumas, disso tenho certeza.

Sentimento loucoOnde histórias criam vida. Descubra agora