Nós estamos vendo o vigésimo quinto ano do décimo segundo milênio de uma sociedade de vermes. Não existem deuses ou forças criacionistas, o caos agindo no infinito tempo gerou algo, e desse algo algum dia saíram vermes. Massas com "vida", sem sentido nem propósito, sem início aparente, e com súbito final. Precisam encerrar outras formas de vida para continuarem vivendo, e pararão de viver por que outras massas sem sentido existem. Por que o vigésimo quinto ano do décimo segundo milênio dessa sociedade? Por que algum ano seria, na infinidade do tempo e no caos do universo, e por acaso o ano é esse.
Esses vermes tem o que nós chamamos de olhos, bocas, narizes e ouvidos, na maior parte das vezes. E também na maior parte das vezes eles sentem o que nós sentimos, como nós sentimos. Mas as vezes não. Flui por esses vermes um líquido carmesim, mesmo naqueles que nada importam, e dentro dessa massa que nós chamaríamos de corpo existem máquinas macias que os mantém vivos.
A tecnologia dessa sociedade é com certeza mais evoluída que a nossa, apesar de que caso vista por nossos olhos parecerá totalmente alienígena. E pensando bem, para a maioria dos vermes o acesso a essa tecnologia é totalmente inexistente, ao ponto de parecer alienígena aos seus olhos também.
A linguagem que os vermes falam também difere de qualquer coisa que ouvido humano já escutou. O alfabeto vérmico é formado por milhares de letras, que não só soam diferente, mas tem diferentes tempos e tamanhos de ondas sonoras. Além do enorme alfabeto, a linguagem soa bastante gutural e tem mais de um tom de uma só vez, e sendo assim fica claro que eles não ensinam a sua prole a usar esse enorme e difícil idioma, que ao invés disso é passado a frente dentro do que parece um amontoado de formas e conexões microscópicas que formam o corpo dos vermes. Mas nem todos os vermes sabem falar, já que nem todos possuem essas mesmas conexões.
Há entre mil e incontáveis bilhões de vermes trabalhando em campos de florestas minerais e minas florais, na maior parte das vezes sem alimento suficiente, por culpa da super população que eles mesmos causaram, apesar de O Grande Imperador, o verme mais importante que existe, tentar continuamente com a ajuda de Sânê' reverter a situação, aumentando a taxa de mortalidade, mas a nossa história não é sobre esses trabalhadores, pois não há um deles que importa o suficiente para estar em um livro.
Todos esses incontáveis vermes não funcionam de maneira anárquica, é claro, mas são liderados pelo O Grande Imperador, um verme de mais de mil anos que o próprio único deus existente Sânê' escolheu como supremo imperador. Ele é o único verme que viveu mais de 120 anos em toda a história de vermes importantes, e é o único verme que tem o poder mental e divino suficiente para saber o que deve ser feito e quando deve ser feito. Todos os vermes obedecem a ele, ou aqueles que ele elegeu como barões, ou como eram chamados antigamente, senhores de corporações, os quais você irá conhecer ao longo deste livro.
Antes da história por fim começar, é bom informar que no tempo em que essa história se passa, os vermes estão em meio a uma crise chamada de crise dos espelhos. Por algum motivo nas últimas décadas, ao olhar para um espelho ou superfície reflexiva, o verme se interessa cada vez mais pelo objeto, e ao longo do tempo é levado a insanidade, de maneira devagar e sútil, e aqueles que não perdem completamente o ego, acabam cometendo suicídio ou mutilando seus próprios olhos para poderem quebrar o relacionamento formado com o objeto. Por isso os vermes que importam, a mando de O Grande Imperador, decidiram proibir espelhos, e punir com a morte aqueles que os guardam, já que espelhos são pecaminosos segundo os mandamentos de Sânê'
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Sociedade de Vermes
Science FictionConto pessimista de uma sociedade de vermes. Não existem deuses ou forças criacionistas, o caos agindo no infinito tempo gerou algo, e desse algo algum dia saíram vermes.