Capítulo 3 - Our bodies are young and blue

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O enterro de tia Helen foi como qualquer outro, tinham muitas pessoas e aposto que a metade nem falava com ela direito, eles fizeram discursos, longos a propósito, e depois foram embora.

Minha mãe não deixou uma lágrima escapar desde o hospital, imagino como ela deve estar sofrendo, mas parece que  ficou dez vezes pior em quesito humor.Já eu, não consegui dormir, ficava repassando a imagem dela no caixão, isso começou a me assombrar.

- Ariana!

Virou costume acordar com seus gritos, era só isso que ela fazia essa semana.

- Já estou indo!

Me levantei e fui correndo para o banheiro. Dei um longo suspiro e entrei no box.

A água está fria, assim como meu coração neste momento.

Comecei a rir de mim mesma, às vezes acho que estou realmente enlouquecendo aos poucos. Me lembrei dela, e de como ela tinha um bom humor incrível, mesmo que estivesse passando por diversas situações difíceis, eu sempre admirei o quanto ela era forte.

Deixei escorrer uma lágrima mas ela logo foi limpa pela água que saia do chuveiro.

Vesti uma roupa qualquer e fui para escola sem mesmo tomar café, não queria esbarrar com a minha mãe, ela iria gritar comigo provavelmente, mais uma vez.

Por sorte a aula ainda não havia começado, História é a primeira, me sentei em uma carteira ao fundo da sala e deitei minha cabeça na mesa cobrindo ela com meus braços.

- Oi. - ouvi uma voz masculina dizer.

Levantei meu olhar e vi Jonathan sentado na cadeira da frente.

- Olá.

- Está tudo bem?

Queria dizer que não, queria falar o que estava acontecendo e poder chorar na frente dele sem me acharem uma maluca, mas eu não poderia.

- Sim

- Não me parece, pode me dizer, o que houve?

Não diga... Você nem o conhece... Não quer atrapalhar ele com essas bobagens.

- N-nada

- Ok, então talvez a senhorita pudesse me acompanhar em um passeio? Quero te conhecer melhor.

Quero te conhecer melhor.

Essa frase sempre me assustou, por que alguém iria querer me conhecer? Eu sou uma pessoa comum igual tantas outras, ou melhor, eu sou cheia de esquisitices que duvido que alguém iria querer "conhecer".

- Pode ser. - acabei por falar

- Tudo bem, depois da aula eu te encontro na entrada.Tenho que ir!

Então ele saiu pela porta, e eu fiquei lá, sentada querendo me enforcar na árvore lá de fora por ter aceito. O que eu faria? O que eu falaria?!

O tempo parecia querer me castigar, a hora não passava nunca e eu já estava tremendo de ansiedade, fazia tempos que não saia com alguém que não fosse minha mãe.

Quando o sinal tocou meu coração pareceu querer pular para fora, eu já estava imaginando quais desculpas dar a Jonathan para cancelar. Joguei o material na bolsa e andei até a entrada onde ele disse que estaria.

Avistei-o sentado em um dos bancos e fui me aproximando, até a hora em que ele me viu e acenou sorrindo.

- Oi!

- Oi

Não consegui dizer nada, ele já estava se levantando para nós irmos, seria uma desfeita eu dizer que não posso mais ir?

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