Capítulo 7 - Everything is grey

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Finalmente a aula acabou, e como sempre fui a primeira a sair, tinha pavor daquela multidão de pessoas que se juntava na hora da saída.

- Oi! Estava te procurando.

Era Dominique, ela parecia bem ansiosa.

- Oi - disse sorrindo fraco

- Podemos conversar?

Peguei meu celular no bolso e olhei a hora, já passava de uma e se eu chegasse tarde em casa minha mãe iria me matar.

- Desculpa, pode ser depois? Tenho que ir.

Coloquei a mão dentro do bolso novamente e agarrei minhas chaves, e quando já estava prestes a sair Dominique segurou minha mão.

- Prometo que vai ser rápido.

Ela me puxou para um dos bancos e nos sentamos.

- Então... - ela começou - queria te perguntar uma coisa.

- Vá em frente.

- Você, por acaso... Gosta do Jonathan?

- Eu? Não, por que?

- Você olha bastante para ele e...

Nem ouvi o resto, minhas bochechas já estavam queimando e o coração acelerado, tinha certeza que aquilo iria me entregar, mas por que exatamente?

- N-não, eu não, tenho mesmo que ir agora!

Me levantei e sai de lá. Eu queria voltar e perguntar o porquê daquilo mas não fui, acho que preciso disfarçar minha cara de idiota quando olho para ele.

Quando parei na porta de casa senti um cheiro, não sabia identificar o que era mas parece bom. Abri a porta e fui em direção a cozinha, onde encontrei minha mãe cozinhando.

- Por que está cozinhando? - perguntei surpresa, ela normalmente comprava comida pronta ou eu mesma fazia.

- Teremos visitas hoje.

- Quem? Você não tem amigas.

- E você por acaso sabe de alguma coisa da minha vida? Suba já para o quarto, e vê se arruma uma roupa descente para essa noite, não quero que estrague tudo.

Suspirei. Fiquei pensando no meu pai, será que se ele ainda estivesse vivo as coisas seriam diferentes?

Subi até o meu quarto e fui tomar um banho. Foi aí que eu lembrei, do Jonathan e aquela conversa esquisita de jantar, será que?

M E U D E U S!

Certamente aquele seria meu fim, eu e a minha mãe no mesmo lugar, jantando com o garoto "famosinho" da escola e a mãe dele. Eu seria piada pelo resto do ano se algo desse errado.

Não caprichei muito, peguei uma saia antiga minha, uma jeans que ia até o joelho e uma blusa curta vermelha, e claro, o que não podia faltar, o meu all-star amarelo.

Desci para o andar de baixo antes que a minha mãe começasse a gritar para eu andar logo, e fiquei sentada no sofá.

- Está linda.

Olhei para o rosto dela, e pensei, no quanto uma pessoa pode afetar a vida de outra, mesmo sem querer.Se tia Helen ainda estivesse aqui, ela não estaria assim, não estaria largada, não estaria tomando remédio e nem estaria trancada dentro de casa.

Não respondi nada e fiquei quieta, ela se aproximou mais e começou a passar os dedos pelas mechas do meu cabelo.

- Fiquei sabendo da sua amizade com aquele garoto

Lá vem...

- Ele é bem de vida não é?

- O que?

- Você entendeu, preciso da sua ajuda... Temos que sair daqui.

Agora tudo fazia mais sentido, ela não virou amiga da mãe dele por elas terem gostos comuns ou gostarem do mesmo programa de culinária, ela queria se aproveitar.

- Você não pode fazer isso.

- Posso e vou, e você vai me ajudar nisso, já virei amiga da mãe agora é sua vez de contribuir.

Não podia acreditar que estava ouvindo aquilo, ela realmente pirou de vez.

- Por que isso?

- O aluguel... Não dá mais para pagar, ou você ajuda ou vamos morar debaixo do viaduto.

Será que tinha como aquela história piorar?

Não queria mais discutir então voltei para o quarto. Você vê na tv, essas pessoas que perdem tudo, seja por uma enchente ou porque faliram mesmo, e nunca imagina que isso possa acontecer com você.

A campainha toca, ah não...

- Ariana! - minha mãe gritar.

E lá vou eu. Desço as escadas correndo e vou em direção a porta, abrindo- a revelando um Jonathan extremamente gato e uma senhora ao seu lado.

- O-olá, sejam bem vindos - falei dando meu melhor sorriso, e abri passagem para eles entrarem.

A mulher não me cumprimentou, apenas entrou e foi ao encontro de minha mãe que a esperava na sala de jantar.

- Oi - Jonathan sussurrou

Olhei para ele mais uma vez e não pude contar os risos, ele estava mesmo uma gracinha com aquele terno.

- Oi - disse ainda rindo

- Estou tão ridículo assim?

- Não... Mas acho que você confundiu minha casa com um baile de formatura.

Ele sorriu e me deu um empurrão de leve.

- Pessoal! Está pronto. - minha mãe gritou da sala.

Todos nós sentamos a mesa, minha mãe no centro, a mulher ao seu lado e Jonathan ao lado dela e eu na outra ponta.

- Só um minuto. - minha mãe anuncionou. - temos o costume de rezar antes de comer

Essa era novidade, mas eu sabia que o resto da noite seria cheia delas então tentei ignorar. Então "rezamos".

Comemos uma macarronada, e essa foi a melhor parte disso tudo, era o meu prato preferido.

- Filha, tenho que ter uma conversa com a senhora Gilbert, que tal mostrar seu quarto para o Jonathan?

Respirei fundo e confirmei com a cabeça.

Levantei e Jonathan foi atrás de mim, acho que essa seria a única vantagem de ser tímida, sua mãe confia que você não vai fazer nada com um garoto no quarto. Nós subimos para o quarto, entramos e fechei a porta.

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