4. Bom dia, América!

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• Hanna •

– Me avise assim que pousar, e assim que pegar o táxi, e logo quando chegar no hotel. Avise também sempre que for sair e quando pegar a chave do alojamento. E avise...

– Pai, tá bom, eu já entendi – Coloquei as mãos em seus ombros – Tenho que te atualizar de todos os meus passos.

Todos os passos – Ele me apontou um dedo, e eu olhei ao redor no aeroporto, buscando um pouco de apoio moral dos meus amigos.

Elizabeth está meio afastada em uma loja procurando uma revista para ler no caminho e chocolates. Desde o ocorrido com a mãe algumas semanas atrás, está meio aérea. Não quer ficar muito perto do meu pai ou de qualquer coisa que a lembre família em geral, então estamos indo para Califórnia alguns dias mais cedo que o previsto. Eu sugeri que ela precisava respirar novos ares, e que ficássemos um tempo sozinhas. Meu pai não gostou muito da ideia, mas acho que ele está começando a perceber que certas coisas não estão mais sob seu controle.

Não sou uma pessoa muito rancorosa, ou que se chateia fácil com as pessoas, sempre procuro ver o outro lado, sempre acho que todos merecemos uma segunda chance para nós redimirmos dos nossos erros, mas juro, a mãe de Elizabeth me tira do sério. Nunca desejei o mal a ninguém, mas eu não acharia muito ruim se o karma daquela senhora chegasse mais cedo. Se existir alguém lá em cima, ele tem que dar um jeito nessa mulher, e logo. Não, pera, não estou desejando que ela morra, apenas que receba algum castigo. Não aguento mais me preocupar com Elizabeth em relação a ela. Achei que já estaria fora das nossas vidas a essa altura.

– Ok, abraço grupal antes que Lizzie se vire – Sugiro puxando todos na minha direção – Eu amo vocês, vou sentir saudades.

– O pai da sua namorada é rico, espero que ele pague algumas passagens pra você vir nos visitar sempre que der – Olívia diz.

– Tá legal – Estou rindo, mas com uma pulga atrás da orelha. Bom, o senhor Taylor podia ter comprado minha vaga em Stanford em um piscar de olhos se eu não tivesse descoberto.

– Hanna não vai conseguir vir até o semestre acabar – Colin cruza os braços depois que nos afastamos – Manchester já tem agendas pesadas, quem dirá Stanford.

– Arrase lá, ok? – Benji acaricia meus braços – Você consegue.

Depois de alguns minutos, Lizzie volta com uma sacola cheia de guloseimas e nos despedimos pela última vez. Segurei a mão dela quando passamos pelo raio-x e disse que a amava. Ela está nesse terrível estado onde fica dizendo que não é ninguém, que não é digna e que é um peso. Então tenho tentado lembrá-la disso sempre que posso, de que a amo.

Serão doze horas de viagem, e eu sei que vou ficar louca, pois não sei se serei capaz de ficar tanto tempo assim em um tubo de metal. Mando uma foto para o meu pai assim que me sento e me acomodo ao lado de Elizabeth. Eu insisti para ficar do lado da janela e ela não se opôs. Fico bastante eufórica quando me oferecem uns snacks que eu nunca vi na vida, provavelmente são americanos. Ai meu Deus, esse é definitivamente o melhor cookie que eu já comi na vida.

– Você tem que parar de ser tão fofa, ou eu vou me jogar em cima de você – Lizzie diz, casualmente virando a página da revista – E estamos em um avião.

– Experimenta – Ofereço o pacote, mas ela rejeita rapidamente.

– Não, eu não vou me permitir gostar de nada desse país.

É isso, volto a concordar, Lizzie é a pessoa mais inglesa que eu conheço. A primeira vez que notei isso foi quando estávamos pegando o trem para turistar em Brighton juntas. Naquela época, estávamos começando a ser amigáveis uma com a outra, foi quando eu percebi o quanto ela era chata, e o quanto era incrível.

Até que te perdi (Romance Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora