17. Reticências

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Hanna

Na pista, eu tentava dançar normalmente como os meus amigos, ansiando aproveitar ao máximo a quinta de rodada dupla antes do dia intenso de estudos amanhã, para só então relaxar no sábado na casa de Eleanor, mas Lizzie tinha visualizado um story que postei agora há pouco, e eu não parava de pensar se estava na hora de conversarmos. Mas não, eu ainda estava brava, ainda estava machucada mesmo depois de um mês. Estava morrendo de saudade dela, mas sabia que se não conseguíssemos passar por isso sozinhas, era o fim da linha definitivo para nós duas.

Olhei para Kalani por cima do ombro e o peguei me observando disfarçadamente, fingindo olhar para Jonny, que acertava a bola oito na caçapa. Jonny coletou os ganhos deles, e Kal foi caminhando para a mesa longa e baixa que fazia limite com a pista de dança, pegando uma bebida. Denner se mexia na pista, se colocando entre mim e Emma, como um sanduíche. Kal revirou os olhos e riu baixinho enquanto voltava para a mesa com Jonny.

Meu celular toca no bolso e eu engulo em seco, com medo de pegar e ver quem me espera do outro lado da linha. Mas solto um suspiro aliviado ao ver outro nome. Me afasto da multidão e vou até a porta dos fundos.

– Oi tia Ellie!

– Ligando para perguntar se está tudo certo pra sábado.

– Tudo certo! Chego quase na hora do almoço – Preciso falar um pouco mais alto por conta da música lá no centro.

– Gosta de lasanha?

– Pode apostar que sim – Eu sorrio, agradecida.

– Certo, estou te esperando. Ah, e você não me respondeu se quer a habilitação da moto.

Se ela me perguntasse isso algumas semanas atrás, eu diria que não, que posso me virar. Mas esse é o problema, ninguém consegue nada sozinho. As vezes a gente pode simplesmente se abrir para oportunidades e aceitar ajuda de vez em quando. Já chega de querer me virar sozinha.

– Vou querer sim, obrigada.

– Sem problemas, meu amor. Até amanhã.

Assim que desligo e me viro, levo um susto e deixo o celular cair no chão quando me deparo com uma figura masculina parada perto de mim.

– Eu não devo ser tão feio – Kal sorri. Eu bufo e me abaixo para pegar o aparelho, verificando se não estava quebrado.

– Sou uma garota, Kalani, estamos sempre assustadas com homens no escuro.

Começamos a andar juntos em direção a nossa mesa. Ele tira um maço de cigarros do bolso e me oferece um, que aceito de bom grado. Estou mesmo precisando ficar meio no mundo da lua.

– Por que sumiu?

– Não foi minha intenção, eu só... percebi que talvez você estivesse meio sei lá depois daquela noite, então quis te dar um tempinho.

– Meu Deus, Hanna, não tem situação no mundo que me impeça de querer estar com você.

– Esperto – Eu sorri e me sentei, dando uma boa tragada – Mas essa é uma daquelas coisas que você não pode falar.

– Vocês terminaram, né?

– Sim, e não. Queria um tempo, mas um tempo mais longo, pra pensar se Lizzie e eu realmente podemos ficar juntas ou se vamos sempre estragar tudo. Acho que estivemos fadadas ao fracasso desde o início – Suspiro, me recostando na cadeira – Achava que ela era meu amor verdadeiro, mas... não sei mais.

– Talvez todas as histórias de romance estivessem erradas. Talvez haja mais de um amor verdadeiro te esperando por aí.

– Está dizendo isso porque acha que você pode ser esse amor?

Até que te perdi (Romance Sáfico)Onde histórias criam vida. Descubra agora