Até que te perdi (Romance Sáfico)

22. Trilha de migalhas

• Hanna •

Eu to ficando maluca? Por que diabos eu falei isso? Me senti apavorada quando percebi que Kimberly estava olhando para nós duas e pensei, se Lizzie está saindo com alguém, é mais do que justo que eu esteja também. Mas eu não precisava dizer em voz alta. Eu nem sabia se isso entre ela e Kimberly era mesmo o que estava pensando. Quer dizer, e se não fosse?

Bom, não tinha como voltar atrás agora.

– Ah – Lizzie recua um passo para trás – Isso é... bom, né?

– Aham – Digo meio rápido demais, sem controle sobre a minha boca agora – E eu sei que disse que...

– Ei, relaxa, tudo bem – Ela sorri, meio desconcertada – Era de se esperar. Quer beber alguma coisa?

– O que você está bebendo? – Cruzo os braços.

– Bastante coisa – Ela ri – Vou tentar te arrumar um drink.

Pela primeira vez em semanas, sua mão encontra a minha. Mãos essas tão acostumadas uma com a outra que os dedos instantaneamente se entrelaçam, se encaixando perfeitamente. Mãos que já passearam pelo meu corpo mais vezes do que eu posso contar. Eu deixo Elizabeth me guiar para onde quer que seja.

– Ei, Bran! – Ela diz mais alto que a música para alguém na cozinha – Faça uma bebida para Hanna. Ela não gosta de nada muito elaborado – Será que ela está sentindo minha mão suar? Se percebe, ignora, pois não me solta.

– Sex on the beach? – Um moreno tatuado de dar medo está atrás do balcão catando algumas coisas.

– Perfeito – Ela se vira para mim de novo – Vamos tomar um ar comigo? Precisamos conversar.

Elizabeth está muito... urgente. Parece eufórica, animada com cada movimento. Ela anda de um lado para o outro, fala comigo como se nada tivesse acontecido, cumprimenta pessoas e pede drinks para mim. Está diferente, está... melhor. Parece melhor. Na verdade ela parece bastante segura, ela era assim antes de namorarmos, mas meio que acabou se perdendo com o tempo, sempre preocupada comigo. Agora ela recuperou aquela postura feroz que eu amava.

– Ahm, claro – Eu pego o meu copo, e Lizzie me guia para um canto mais isolado da festa.

Entramos por um corredor amplo e em seguida ela tira uma chave de dentro da bota que está usando, abrindo a porta atrás de mim. Não sei se estou preparada para ficar tão perto dela e sozinhas no escuro.

O quarto em que estamos também é enorme. Tem a maior cama que eu já vi, portas que provavelmente dão para closet e banheiro. Duas estantes preenchidas de livros e fotos. É, é o quarto dela. Nunca estive em nenhum quarto de Lizzie. Nunca fui para Liverpool, e nunca tinha vindo a Chicago. Conhecia apenas o que tínhamos naquele espaço limitado em Southwestern. Mas pelas chamadas de vídeo, reconheço que esse cômodo pertence a ela.

– Eu disse que ia te pedir desculpas pessoalmente, então é isso o que vou fazer – Ela me solta e pega um controle para ligar o ar condicionado.

– Lizzie... – Eu balanço a cabeça e me sento em sua cama. Puta que pariu, parece que estou sobre nuvens.

– Não, Hanna, voce vai ouvir – Ela sorri se sentando ao meu lado, e eu meio que me afasto um pouco para não cair em tentação – Eu acho que, inconscientemente, criei um medo horrível de ser trocada. Você lembra o que aconteceu com o meu irmão. Na minha cabeça, Kate estava comigo, e de repente ela preferiu Patrick, porque eu era demais pra aguentar, eu acho, ou ela nunca gostou de mim dessa forma, não sei. O ponto é que ela preferiu Patrick, e eu sei que isso é muito mais uma questão de caráter do que sexualidade, mas eu fiquei com muito medo de você me trocar por um cara também.