Always You

Lonely night

No dia seguinte, ao cair da noite, resolvo que se eu ficasse na cama com meus pensamentos mais uma noite, as coisas não ficariam boas. O que, provavelmente, foi a ideia mais sensata que tive nos últimos dias.

De manhã cedo eu estaria de volta à minha cidade, e consequentemente, de volta ao que minha vida era antes de Duskwood. E eu sinceramente não lembro como era.

Parece que todas as emoções que senti fizeram minha vida de antes parecer vazia e oca, embora fosse muito mais tranquila. Situações assim mudam você, então talvez eu é quem tenha me tornado outra pessoa no final. Bem, a este ponto não importa.

Me levantei com muito custo da cama bagunçada, passando a mão nos cabelos em um claro gesto de estresse. Deslizei com vagareza à cômoda do quarto, apenas para olhar o horário no celular.

E foi aí então que me lembrei. Será que a proposta de Phil ainda estava de pé?

Já eram 20:00 horas da noite, então imaginei que o Bar Aurora já estivesse aberto nesse horário. Contudo, para não houverem surpresas, mais que rapidamente abri o chat do celular com nervosismo e mandei uma mensagem para Phil.

“Olá Phil, espero que tenha estado bem desde que tudo se resolveu. O Bar Aurora está aberto? Estou em Duskwood”

O irmão de Jessy não demorou muito à responder, me enviando uma curta frase apenas, com seus icônicos emojis, tão parecidos com os de Jake.

“Está aberto sim, por favor venha, temos muito o que conversar ;)”

Senti um certo alívio ao ler a mensagem. Phil era o único que sabia mais ou menos sobre a situação sem ser o nosso grupo, e sinceramente, eu devia uma explicação à ele sobre sua prisão repentina. Phil sempre foi agradável no fim das contas, não consigo imaginar por que eu não conversaria com ele ao menos um pouco, isso me distrairia da minha miséria pelo menos por um instante.

Quase sem nenhuma vontade, me arrumei com o pouco de ânimo que me restava, pois não conseguiria viver comigo mesma se o meu primeiro encontro com Phil fosse marcado pela minha cara desmazelada.

Lutei para me lembrar onde eu havia deixado minhas chaves, começando a me irritar com cada mínimo detalhe que estava dando errado no caminho até o carro. Minha má memória nunca esteve tão ruim, e isso por si só é capaz de me desestabilizar em qualquer situação.

Com as mãos pregadas no volante, respiro fundo ao tentar me acalmar. Eu não faço ideia da quantidade de coisas que mudaram no meu comportamento, e tenho até medo de descobrir. Mas uma coisa é certa: nunca fui transtornada dessa maneira.

Na estrada até o bar eu percebo que mesmo depois de tanto tempo, a tensão e o estresse nunca me deixaram realmente. Ainda bem que Phil me garantiu uma bebida quando conversamos pela última vez, só espero que sua definição de “mulher bonita” se aplicasse a mim, afinal.

Bem, para tentar fazer as emoções não me consumirem, passei o resto do caminho pensando no quão pouco eu sabia sobre o dono do Bar Aurora. A cada curva, eu ainda me perguntava mais e mais como e por que a relação de Jessy com seu próprio irmão era tão conturbada. Embora ela tivesse em um ponto me explicado com meias palavras, ainda assim não pude compreender de forma clara por que Phil parecia ressenti-la.

A família deles por si só parecia ser um pouco desmoronada. Talvez seja por isso que Phil conseguiu o bar como herança de Michael Hanson. Não acho que o Sr. Hanson tivesse simplesmente deixado seu estabelecimento para um funcionário aleatório, e sim porque em algum ponto Phil viu em Michael o pai que não estava presente.

Argh, que inconveniente! Quando minha cabeça começou a doer com tantas especulações é que eu soube que essa mania de detetive nunca mais me deixaria, não realmente. Um dos mil e um souvenires que ganhei em minha jornada.