Capítulo 04:

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Não desviei os olhos da janela durante a viagem até essa tal Casa Baird. Flora parecia entediada, eu estava achando tudo aquilo fascinante, me lembrava do caminho até Gregorstaun.

— Por que essa Casa Baird é importante? — Perguntei e Flora tirou a atenção do seu celular.

— Porque é nossa. — Ela explica e quando vê que eu não entendi nada ela deixa o celular no banco. — A Casa Baird é uma propriedade privada. Holyrood, Balmoral, Castelo de Edimburgo, esse tipo de lugar, são pertencentes ao povo da Escócia, mas nós moramos neles.

— Então vocês são inquilinos?

— Isso aí, somos inquilinos. Meu bisavô, Alexander I, a comprou nos anos 30, pra que nós possamos fingir que somos pessoas normais por alguns dias.

— Calma, você não tinha dito que o nome do seu avô era Alexander?

— Mas é. — Ela diz, sem entender onde eu queria chegar.

— E seu bisavô é Alexander também.

— Uhum.

— E seu irmão é Alexander também.

— Minha família está cheia de narcisistas, é só olhar a minha mãe. — Flora diz dando de ombros. — E é tradição. Assim, se minha mãe caísse dura agora e, de alguma forma, Alex não estivesse mais na linha de sucessão então eu teria que assumir, certo?

— Aham. — Digo, seguindo a sua linha de raciocínio.

— Então eu seria Flora I, porque meus pais decidiram ser originais e colocarem um nome diferente. Só que... — Ela deu uma pausa.

— Só que, o que?

— Você vai rir, não vou te dizer. — Ela disse negando com a cabeça.

— Ah você vai. — Digo começando a cutucá-la em sua barriga. Flora deu um pulo no banco, começando a rir descontroladamente. — Não acredito que você sente cócegas logo aqui!

— Claro... que... não. — Ela disse entre risadas, fazendo um som fofo enquanto tentava recuperar o fôlego. — Isso, Quint, foi golpe baixo.

— Nah, não ligo. — Digo e ela abre a boca indignada, mas sou mais rápida e coloco um dedo na frente de sua boca. — Vai, criatura, fala logo.

— Ok, mas se você rir...

— Não vou rir.

— Mesmo se eu te disser que meu segundo nome é Ghislaine? — Ela cruza os braços, eu a encaro, meio estupefata.

— Ghislaine? — Repito, só pra ter certeza de que ouvi direito.

— Tradição. — Ela revira os olhos. — Me lembre que se algum dia eu tiver filhos, tentar não colocar esse tipo de nome.

— Com a sua sorte vai ser Florisius. — Digo. — Veruca. Archibald.

— Ok, todos esses são terríveis, mas eu tenho um primo que o nome é Archibald e eu não estou brincando. — A encaro mais uma vez, Flora ainda está com os braços cruzados, mas está sorrindo.

— A cada hora que se passa, eu me pego pensando porque diabos eu concordei em entrar pra essa família.

— Porque, querida Quint, eu sou irresistível e você simplesmente não consegue dizer não para mim quando eu estou em cima de você. — Sua resposta me pega de surpresa e ela sorri de um jeito malicioso. — Menti?

Minha mente automaticamente volta para a noite na boate. Depois de alguns dias, as memórias tinham voltado completamente e em momentos como esses, os flashbacks vinham nos piores momentos possíveis. Flashes de beijos no bar, em uma das mesas, em um sofá, no banheiro, na pista de dança, no altar, no carro para o hotel, nos corredores do hotel, minha camiseta indo parar em um lugar completamente aleatório do quarto.

Vegas - RocksaltOnde histórias criam vida. Descubra agora