Dois anos antes
Já estávamos juntas há três meses, e não podia estar a correr melhor, éramos verdadeiras almas gémeas destinadas a ficar juntas pela eternidade. Nunca alguém me havia tratado como ela. Quando discutíamos, fazíamos questão de resolver tudo antes de irmos dormir, para que nenhuma de nós passasse a noite com a consciência pesada, e a nossa relação tornava-se sempre mais forte. Todos os pequenos detalhes de Diana faziam com que me apaixonasse por ela todos os dias, e claro, aquele sorriso era o maior culpado.
Lembro-me perfeitamente de um dia em que o seu sorriso estava ainda mais bonito, emanava felicidade, dia 3 de março. Era o dia anterior ao seu aniversário, iria fazer dezasseis anos, e o pai vinha da Bélgica para estar com ela nesse dia.
- Não vejo o meu pai há tanto tempo, sinto imensas saudades. Mal posso esperar por ir para casa vê-lo!
A alegria de Diana era contagiante. Nesse momento, ainda não sabia que o destino não me permitiria ir. Bem, desta vez não posso culpar só o destino, a minha mãe deu uma grande ajuda.
- Estou muito feliz por ti, Diana! E entusiasmada por amanhã - disse-lhe, tocando com a mão na sua face.
Assim que as aulas acabaram, Diana correu para fora da sala, estava ansiosa por chegar a casa. Enquanto se levantava à pressa, só conseguiu gritar-me um "Até amanhã, Sofia. Gosto muito de ti". Eu esperava um beijo de despedida, mas não levei a mal, ela já só pensava no pai. Entretanto, eu fui para minha casa. Estava contente, tanto que até fui falar com a minha mãe sobre o meu dia. Notei que ela fez um esforço para fingir que se interessava, isso já me chegava.
- Mãe, amanhã vou à festa de anos da Diana.
Ela fez uma pausa e olhou para mim, novamente, como que a julgar-me.
- Aquela miúda com quem andas? - perguntou com uma expressão de desprezo estampada na cara.
Eu já lhe havia contado sobre mim e Diana. Não sei se fiz bem, mas se a minha mãe descobrisse por ela mesma certamente começaria a achar que andei a escondê-lo.
- Sim, mãe, é ela – revirei os olhos.
- Está bem.
Fiquei surpreendida por me deixar ir tão facilmente, mas claro que nada na vida é fácil. No dia seguinte, quando já estava pronta e prestes a sair de casa, ouvi uns barulhos estranhos vindos da casa de banho. Chamei pela minha mãe, mas não obtive resposta. Fui ver o que se passava e dei com a minha mãe debruçada sobre a sanita, a vomitar, com uma ou duas garrafas ao lado. Ela olhou para mim com um semblante doente, pálida, olhos vazios. Esforçou-se para falar.
- Sofia, preciso que fiques em casa, não me sinto nada bem...
Voltou a vomitar.
- ... por favor.
Ao ver o estado lastimável da minha mãe, não pude nem pensar em dar-lhe a volta, fiquei. Liguei a Diana para a avisar que não estaria presente, mas foi parar ao correio de voz.
- "Olá, Diana. Em primeiro lugar, quero dar-te os parabéns e desejar-te um feliz aniversário! Queria muito estar presente, mas infelizmente não será possível. A minha mãe está... muito doente e precisa da minha ajuda, não posso deixá-la sozinha. Aproveita bem o dia com o Ricardo e a tua família. Perdoa-me. Beijinhos."
Entre muito café e chá, o dia passou e a minha mãe já estava melhor. Eu estava triste por não ter ido à festa, e mais triste ainda pelo motivo.
- Nunca pensei ver-te assim – resmunguei, com um ar de desaprovação bem vincado.
A minha mãe ficou em silêncio. Eu teria ficado a olhar para ela à espera de uma resposta por muito tempo, se o meu telemóvel não tivesse tocado. Era Diana. Corri para o meu quarto para atender. Pensei que ela estivesse chateada comigo, mas não, compreendeu perfeitamente a situação. Bem, a situação que eu lhe expliquei, claro, estava demasiado envergonhada para lhe contar o que verdadeiramente tinha acontecido. Diana falou-me sobre o seu dia, o que só me fez sentir pior por não estar com ela a divertir-me, mas o mais importante é que ela gostou imenso, apesar de ter sentido a minha falta. Falámos praticamente até adormecermos, a sua voz melhorava sempre os meus dias, não importa o quão maus estivessem a ser.
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O Último Sorriso de Diana
RomanceEsta história começa quando Diana, namorada de Sofia, comete suicídio na linha de comboio. Sofia sabia que era inevitável, no entanto, os reais motivos permanecem um mistério. Entre passado e presente, o leitor poderá perceber como as duas jovens se...