"Num mundo onde o amor está em falta e onde se acredita que o amor cura, tu mostraste-nos da pior forma que o amor não é suficiente..."
E foi naquele momento, enquanto sentia o vento bater-me na cara, enquanto corria e gritava a plenos pulmões pelo teu nome, enquanto te via, ao longe, de costas sentada na linha do comboio à espera da uma e trinta e oito da tarde, foi naquele momento que percebi que não havia nada que pudesse fazer. A nossa história tinha chegado fim. Apesar de ter perdido a esperança continuava a correr, apenas por não conseguir parar. Ao aproximar-me vi-te levantar. Por breves frações de segundo pensei que isso pudesse significar que tinhas decidido dar mais uma oportunidade à vida, mas rapidamente percebi, ao ouvir o som do grande veículo da morte nos carris, que apenas significava que querias morrer de pé, ainda que tenhas passado toda a vida de joelhos a implorar a ti mesma por uma mudança. Só quando a máquina entrou no meu campo de visão consegui parar. Empalideci e senti uma lágrima a descer-me friamente a cara, gritei uma última vez "Diana!" e consegui que olhasses para mim, sorriste. Gritei para que saísses dali, para que falássemos e encontrássemos uma solução juntas, mas de nada serviu, o som da buzina do comboio engoliu todas as minhas palavras. Não conseguia desviar o olhar, o meu cérebro fez com que te visse morrer e o meu coração fez com que parte de mim morresse contigo. À uma e trinta e sete, um minuto antes de chegar à estação, aquele comboio levou-nos a vida. Ajoelhei-me e levei as mãos à cara. Ainda que soubesse que iria acabar por acontecer, não queria acreditar que havia perdido o amor da minha vida de forma tão brusca e cruel.
Após o corpo de emergência, paramédicos e polícia, e mais tarde a minha mãe (só a chamei porque entrei em pânico) terem chegado ao local e de eu ter prestado declarações aos agentes, fui para casa. No caminho não disse uma palavra, não sabia o que dizer, assim como a minha mãe. Chegada a casa tentei ir direta para o meu quarto, infelizmente a minha mãe achou que fosse uma boa altura para conversar. Eu já sabia no que ia acabar a conversa mas não estava com disposição ou energia para discutir, ainda não tinha sequer processado o que acabara de ocorrer.
- Eu tentei avisar-te, Sofia - disse a minha mãe com um toque de insensibilidade que só ela consegue dar.
- Avisar-me sobre o quê, exatamente? - inquiri já esgotada.
- Sobre aquela miúda! Vi logo que ela tinha um problema qualquer, quem faz uma coisa destas?!
Olhei para o chão como que a procurar um motivo para não perder a cabeça ali mesmo. Não encontrei um único.
- Mãe - disse calmamente, a replicar a calmaria depois da tempestade, só que neste caso seria antes. - Vai à merda!
Sem olhar para ela, subi as escadas e dirigi-me ao meu quarto. Ouvi-a vir atrás de mim aos gritos, mas não liguei. Tranquei a porta do quarto. Após alguns minutos de gritaria com a porta, a minha mãe acabou por desistir e foi embora. Finalmente algum silêncio. Deitei-me na cama a olhar para o teto para tentar assimilar o que acontecera. Estava tudo tão confuso na minha cabeça, a Diana... Não conseguia acreditar. Falámos tantas vezes sobre isto, ela prometeu-me que não o faria, eu não devia ter acreditado. Racionalmente não acreditei, mas quando estamos apaixonados o "racional" importa pouco.
A notícia espalhou-se rapidamente, como seria de esperar. De repente as pessoas começaram a preocupar-se comigo, que coincidência. Apesar de não querer falar com ninguém, estar no telemóvel era a única coisa que me podia distrair da dor e ansiedade que sentia, sempre foi assim. Fui, portanto, buscar o carregador à minha mochila. Abri-a e o que vi horrorizou-me, reconheci-o na hora. "Só posso estar a alucinar", pensei para mim. Peguei no objeto, fiquei com ele na mão algum tempo para ter a certeza, era mesmo verdade, na minha mochila estava o telemóvel de Diana, com capa e tudo. Aproximei-o do peito e desfiz-me em lágrimas, naquele momento a realidade atingiu-me com uma força imensa. A minha visão começou a ficar turva e a escurecer, sentei-me na cama para me recompor sem largar o telemóvel, era agora a única coisa que me mantinha conectada a ela. Fiquei com o olhar preso na tela de bloqueio por alguns minutos, era uma foto nossa no nosso primeiro aniversário de namoro. A capa era a que lhe havia oferecido nesse dia, feita à mão. Tirei a capa, dentro estava um pequeno papel com um número de quatro dígitos: 2020, o ano em que começamos a nossa relação e também a alcunha que ela arranjou para mim. É uma forma de dizer que sou 10/10, mas para ela eu era o dobro disso, sempre achei fofo apesar de saber que 10/10 e 20/20 tem o mesmo resultado. Digitei o código, o telemóvel abriu automaticamente no bloco de notas. Tinha algo escrito: "Amanhã vai ao meu cacifo, o código é o mesmo." Não poderia estar mais confusa e cansada, nem estava a pensar ir à escola no dia seguinte, mas com esta nota... Tinha mesmo de ir.
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O Último Sorriso de Diana
RomantizmEsta história começa quando Diana, namorada de Sofia, comete suicídio na linha de comboio. Sofia sabia que era inevitável, no entanto, os reais motivos permanecem um mistério. Entre passado e presente, o leitor poderá perceber como as duas jovens se...