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De fato essa é a pior viajem da minha vida, antes tendo algo a cumprir, hoje já não me resta nada.

Os pingos de chuva mesmo em um dia ensolarado caem com violência sobre os vidros do carro constituindo assim a única trilha sonora entre suspiros a procura de algo a dizer porem engolindo as palravas e as guardando somente e exclusivamente para si.

Eu só queria que as gêmeas fossem maduras o suficiente afim de enfrentar a morte, elas mereciam dar um ultimo adeus para o garoto que sempre que podia se dispunha a pentear seus cabelos, fazer cookies em uma cozinha minuscula no meio da sala ou então como na ultima vez deixar com que pintassem suas unhas borrando glitter por toda a sua mão e catastroficamente derramando acetona em suas botas novas, mantendo sempre um sorriso sincero no rosto não importando a situação provando ser um legitimo britânico.

Ele dormiu em casa naquele dia, fizemos uma maratona de clássicos do cinema comendo a pipoca mais gordurosa que eu já coloquei na boca, os dois de pijama abraçados sobre a luz no notebook, eu tentei não pegar no sono no primeiro filme, uma luta em vão. Acordado sobre beijos estalados que partiam das minha mão até o pescoço vejo a maravilhosa visão de Styles com uma caneca de chá vermelha com Louis escrito nela em uma mão e um prato branco quadrado com torradas na outra, não deixando faltar o detalhe de que cada torrada se encontrava uma geleia diferente, lembro de pensar o por que de merecer aquilo, até hoje procuro a resposta.

Descendo do carro e quase congelando pela onda de ar frio que se formou após a chuva vou em direção a porta afim de entrar em casa, tirando as chaves geladas do bolso e a depositando sobre a tranca abro a porta sentindo o ar quente de encontro a o meu corpo ainda gelado.

Passos pesados e lentos me carregam na subida a escada aveludada tateando as paredes afim de não ir de encontro ao chão porem caindo no terceiro degrau e permanecendo ali.

-Você quer ajuda boo?-Daisy diz do lado de cima da escada, sonolenta e ainda de pijamas rosa coberto por corações lilás me olha confusa.

Acenando a cabeça como resposta a garota que nem daqui a anos suportaria o meu peso sobre o seu corpo.

-Você ta bêbado boo?

-Embriagado de dor.

Cada degrau era uma conquista para ser liberada no meu novo jogo chamado vida, o game over parecia inevitável já que sem energia um video game para de funcionar.

Finalmente no fim da escada e em direção ao meu quarto ouço sons abafados.

-Você acha que ele vai melhorar?-A voz se parecia muito com a de Lottie porem mais rouca

-Eu não faço ideia-Jay solta preocupado o ar quente que entre seus pulmões circulava.

O edredom listrado se moldava ao meu corpo conforme o absurdo de tempo que passei sobre a cama vegetando e olhando fixamente para o mesmo ponto no teto do meu pequeno e quente quarto, afundando cada vez mais na cama era incapaz de fechar os olhos e com medo do que os pesadelos me reservam permaneço ali, a tinta branca descascando do teto revelavam uma antiga parede pintada de bege juntamente com as aranhas que se formam agora uma colonia prestes a gritarem independência e conquistarem a casa toda.

Ouço uma melodia de três batidas na porta.

-Eu fiz biscoitos-desajeitada e sempre estabanada deixando cair dois ou três antes de chegar a minha cama Phoebe sorridente vem até mim pra que eu possa prová-los-São de chocolate, são gostosos.

Cada biscoito vinha acompanhado de uma crosta igualmente grossa de queimadura o deixando sempre com um toque Tomlinson na culinária, nós poderíamos invadir um pais mas não governar uma cozinha. Antes que eu pudesse dizer uma só palavra ela enfia dois de uma vez na minha boca acompanhados de leite frio derramado entre eles.

-Phoebe, eu não estou com fome-As palavras saem ríspidas da minha boca.

-Eu pensei, a mamãe e a Lottie que você estaria com fome.

-Mas eu não estou.

Chateada sai do quarto revelando as pantufas roxas de um hipopótamo nos pés enquanto vestia um pijama rosa com borboletas das mais diversas cores espalhadas por todo o seu miúdo corpo.

De volta ao ponto de onde fui obrigado a sair, concentrado no teto e sentindo lagrimas solitárias rasgando o meu rosto e por fim caindo sobre o travesseiro, não fui capaz de me trocar, seria como dizer adeus e não estou pronto, o terno perfeitamente alinhado nem sequer amaçou ou se sujou porem a rosa branca agora murcha em meu peito me lembrando de que o tempo é o único eterno.

Desde que eu sai da humilde casa dos tomlinson's em Doncaster nada foi alterado, mudado ou trocado nesse quarto, a parede azul escuro, a escrivaninha prata e o computador empoeirado onde dedicava minhas noites em sites pornográficos continuam lá como se esses anos não tivessem passado e o velho Louis ainda estivesse correndo atrás da fama e atuando em pequenos musicais na escola tomando coragem para as audições do The x factor.

Na escrivaninha também se podia ver um porta retrato, dois garotos sorridentes, um com cachinhos ameaçando a crescerem e florirem e o outro um tanto quanto mais masculino com cabelos lisos e suspensórios os quais pensava em ser o melhor acessório um dia já criados na historia da humanidade, coitados desses garotos, não sabiam o que iriam enfrentar.




Madly (Larry history)Onde histórias criam vida. Descubra agora