Sexta-feira

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Era bem legal ter amigos em Hawkins.
Eu ainda não estava super amiga de todos e acho que o maior motivo era por eu ser a chefe da locadora.
Acredito que Steve e Robin ficavam receosos de falar alguma besteira perto de mim. Mas mesmo assim, os dias na Family vídeo eram divertidos.
A gente mais assistia filmes juntos do que trabalhava. Dustin e alguns outros amigos vinham sempre conversar e alugar filmes.
Mas quem me interessava mesmo nunca veio. Eddie Munson.
Eu para Robin:
- Ei, o Eddie nunca mais veio aqui. Nem de noite quando ele costuma sair de casa.
- Ah! A gente que leva os filmes pra ele.
- entendi... - nem consegui disfarçar a decepção.
- Mas esqueci de te avisar que ele quer que você vá em uma apresentação da banda dele num pub na sexta..
- Robin... como assim? Você não podia ter me falado disso antes?
- Foi mal.. esqueci! - Ela riu e me cutucou - você é muito afim dele.. tá na cara.
- Eu acho que sim... mas meu pai me mataria facilmente se me visse com o Eddie. E outra, ele tá nem aí pra mim. Nem devo fazer o tipo dele. Ele deve gostar daquelas roqueiras que vemos na mtv.
Continuamos a trabalhar na organização das fitas e depois de um silêncio:
- Mas Robin... eu não vou não. Como vou saber se ele realmente me chamou?!
- Garota, relaxa! Steve e eu vamos também..

Na sexta, parecia estar tudo certo.
Steve e Robin saíram mais cedo da locadora e eu ia direto do trabalho. Éramos pra se encontrar lá.
Bem.. éramos! Porque eles não foram.
Eu entrei no pub na esperança de ver eles dois, mas nem sinal deles. Que ódio!
Eu quando me virei pra ir embora eu dei de cara com o Eddie.
- Oi, não acredito que você está aqui!
- Oi Eddie. Vim sim. Robin comentou sobre sua apresentação...
- pensei que não iria vir.... - Eddie ajeitou a guitarra que estava em suas costas e disse - bem... fique perto do palco. Depois do show a gente conversa. E também como você aparentemente está sozinha, não é legal você ficar a toa. Aqui dentro só tem homem. Se eles olharem pra você eles vão te perturbar. É raro ter uma mulher bonita aqui no pub - disse rindo.
Eu ri. Sentei bem no cantinho do palco e via ele tocar guitarra.
Aquelas mãos cheias de anéis, os braços suados com as tatuagens, ele com aqueles olhos fechados tocando a guitarra me deixou com uma certeza que eu estava gostando dele.
As pessoas em volta ficaram olhando pra mim. Eu não costumava frequentar lugares assim e muito menos em Hawkins. Há 3 anos atrás eu era uma adolescente que ajudava meu pai na fazenda e hoje sou uma garota que está atrás de um roqueiro que era odiado por muita gente em um pub às 11:30 da noite.

Terminando o show, Eddie logo saiu de perto das pessoas. Claramente ele não estava ali para fazer nenhuma interação com ninguém. Ele me ajudou a levantar da onde estava e colocou as mãos nas minhas costas:
- Vem, vamos conversar em outro lugar - disse sorrindo.

Eu estava com meu vestido preto que transpassava meu corpo. Ele tinha mini flores em branco e amarelo estampado. Estava usando meu coturno (que comprei escondido do meu pai), franja e lápis no olho.
Claramente eu estava montada pro Eddie me notar.  E claramente ele percebeu.
Ele me olhava sorrindo. Parecia estar feliz com a minha presença.
Mas eu me auto sabotava. Eu pensava "Não, ele só está sendo simpático"

- O que você quer fazer agora? - Me perguntou.
- Tomar sorvete! É óbvio. Sorvete é sempre bom.
Eddie riu. Pegamos nossa bicicleta e fomos direto ao uma loja 24 horas em um posto de gasolina.
Sentamos na calçada mesmo e começamos a finalmente conversar sem ninguém por perto.
- Me diz Eddie, como você consegue viver assim... Numa cidade que acha você culpado por algo que não fez? É injusto você passar por isso.
- Você tem provas pra saber se eu não fiz?
- É... não sei... acho que não
- Exato! Aquela garota foi morta brutalmente na minha casa. Sem provas.
- Eddie... fendas se abriram na cidade toda. Como as pessoas podem acreditar que foi você?

Eu mesma parei de falar e tive a resposta sem mesmo Eddie abrir a boca. Meu pai era uma dessas pessoas.

- É... pensando bem... até meu pai te odeia..
- Fico surpresa por você acreditar em mim. Eu sei quem é seu pai. Ele já me denunciou várias vezes depois que descobriu que eu não morri.
- Desculpa por isso
- Não tem o que se desculpar.
- E como você está vivo, garoto?
- Eu desmaiei e todos pensaram que eu tinha morrido. Mas logo acordei. Eu desmaiei por causa da dor das mordidas que eu levei dos morcegos - Eddie levantou a blusa e mostrou as várias cicatrizes no peito e barriga. - Me escondi, cuidei das minhas feridas e fui morar na casa do Dustin. Logo depois voltei a morar na casa do meu tio.
- Dustin é muito querido!
- Ele é o meu irmão mais novo, sabe?! Uma família.
- Fico feliz por você, Eddie. Não é sempre que se tem uma família tão boa por perto.
- Você também tem, não tem?
- Eu? - ri com ironia - só tenho meu pai. Meus amigos ficaram pra trás porque voltei pra Hawkins. Meu pai me ama, mas ele nunca soube cuidar de mim ou se quer saber do que eu gosto.
- Ele não pode nem sonhar que você está aqui comigo né? - diz Eddie sorrindo
- Não! - ri também. - Ele mataria a gente!
- Acho que eu primeiro!

Eddie estava com um rosto mais tranquilo do que no outro dia lá na locadora.
Acho que eu estava conseguindo deixar ele mais distraído e podendo desfrutar um pouco mais da cidade.
Tomamos 3 sorvetes cada um e parecia que nenhum de nós queríamos parar de ficar ali conversando.
- Vem assistir filme comigo um dia desses. Não precisa pagar.
- Você deve gostar de filmes que eu não curto muito, mas eu aceito o convite
- Ei, como assim? Você não sabe....
- romance né? Comédia? - Eddie falava fazendo careta e rindo ao mesmo tempo.
- Eu passo essa imagem? De uma garota que gosta disso???? Que horror!!!
- Então você curte o que?
- Adivinha, ué!
- Star wars? Jurassic Park?
- Não e não.
- Como assim? Eu não sei então
- Terror! serial killers! Sangue! Demônios!
Eddie levantou e começou a pular
- É sério???? Onde você estava esse tempo todo?
- Ahhh qual é.. você tem cara de ter várias meninas atrás de você...
- Eu? Como? Eu namorava uma garota meses atrás. Mas ela não estava preparada pra namorar alguém como eu..
- Você ainda gosta dela?
Na minha cabeça eu gritava NÃO NÃO NÃO
- Nheee... Demorou pra eu parar de gostar..
- Então tá...
- Está com ciúmes, Dona Lauren???? - ele perguntou rindo e me fazendo cócegas
- Não ué...
- Tá sim!!!!
- Tá achando que eu gosto de você, Eddie? Hummm, porque hein?!
Ele me olhou com cara de malicioso e logo entendi:
- STEVE! DUSTIN! Eles me pagam!
- HAHAHHAHA! Mas relaxa, eu estou gostando de você também..
Eu estava vermelha de tanta vergonha. Eu ia matar aqueles dois!
- Eu não devo ser que nem sua ex...
Já pensando que ela era mil vezes mais bonita que eu.
- Vocês não são nada parecidas...
- ... pois é
- Ela não gosta de filmes de terror.. e nem usa coturno... nem gostava de me ver tocar guitarra...
- Ela não gostava de te ver tocando???
- Ela achava barulhento demais.. - diz Eddie revirando os olhos
- Uau... é porque raios você estava namorando ela?
- Eu precisava de uma companhia sabe...
- Entendo, Eddie. Consigo entender você.
- Obrigada, Lauren!
Eddie me puxou mais pra perto dele e me beijou com muita força. Meus dedos entrelaçavam seus cabelos e ele esfregava suas mãos nas minhas costas com muita força. Nossos corpos se entrelaçavam. Eddie passou a beijar meu pescoço e eu estava em êxtase. Quando por trás dele eu ouço uma voz gritando:
- EI, LARGA ELA!
Era um velho barrigudo que nunca tinha visto na minha vida.
- EU VOU CHAMAR A POLÍCIA, MUNSON!!!!
Eddie me deu um selinho e disse "desculpa" no meu ouvido. Pegou sua bicicleta e saiu pedalando muito rápido.
Eu não sabia o que fazer, um ódio me consumiu por inteira:
- Ei, seu idiota! Porque você fez isso com ele?
- Garota, ele vai te machucar. Volta pra sua casa.
- O senhor não manda em mim. Cuida da sua vida. Ele é inocente!
- Você só pode estar maluca! Aquele satanista matou metade de Hawkins e ainda nos assombra... bons tempos quando a polícia dava um fim nesses marginais... Você deveria ter vergonha de cair nas garras de um vagabundo desses. Cadê o seus pais!?!?!
- Cala a boca!

Peguei minha bicicleta e fui pra casa.
Eu secava minhas lágrimas com ódio.
Aquela maldita cidade era um pesadelo.
E agora eu tinha o gosto de Eddie Munson na minha boca. O seu perfume ainda estava no meu cabelo e roupa.
O garoto que eu amava na escola estava em mim.
Era uma mistura de sentimentos que eu não sabia muito bem se estava me fazendo bem.

Mas eu só pensava nele.

Sob a janela do meu trailerOnde histórias criam vida. Descubra agora