Sob a janela do meu trailer

Fique atrás do balcão comigo

- Por onde andas? - perguntou meu pai quando cheguei em casa.
- Estava com os meus amigos. - respondi já subindo pro meu quarto e em um tom nada amigável.
- Você não tem juízo! Essa cidade está infestada de irresponsáveis. Cuidado com quem anda!
- Pai, eu não sou mais criança. Me poupe!
- Você não sabe que uma garota como você não pode andar por aí com qualquer grupinho de marginais?
- Do que está falando? Você nem sabe quem são meus amigos...
- Mas vou descobrir!

Ops! Meu pai não pode nem sonhar em me ver junto com o Eddie.
Pensando melhor, era melhor eu andar na linha. Se meu pai ficar me investigando, vai ser pior pra mim.
Mesmo eu tendo 21 anos, eu ainda tinha que dar satisfação. Queira ou não, eu morava na casa dele e ele precisava de atenção por causa da saúde.

No dia seguinte, fui abrir a locadora. Como era sábado, eu ficava de manhã e depois Robin e Steve ficava de tarde e noite.
Eu estava em um mal humor pavoroso. A última coisa que eu queria era ter que lidar com clientes.
A locadora estava lotada, e eu rebobinando algumas fitas. Até que alguém fala comigo no balcão:
- Oi...
Era Eddie. Ele estava tímido. Sorrindo e esperando alguma reação minha.
- Oi Eddie, vem pra dentro do balcão.
As pessoas mais velhas que estavam lá dentro da locadora já estavam olhando feio pra gente.
Eddie sentou no chão.
Assim ninguém o via e eu podia trabalhar e ter a companhia dele ao mesmo tempo.
Eddie estava com uma camiseta preta de banda, calça jeans rasgada, um all star vermelho e uma bandana preta no pulso.
Ele estava lindo... como sempre.
- Ei, desculpa por ter saído correndo ontem. Mas aquele velho é uma encrenca...
- Quem é ele?
- O filho dele morreu quando Hawkins se rachou inteira. E ele acha que eu matei o filho dele...
- Nossa, que pesado. - agachei e coloquei minha mão em seu rosto - sinto muito por você ter que passar por tantas acusações.
- ... e eu tive que correr, sabe?! Se ele pensar que estou fazendo algo com você, vai ser difícil da gente se encontrar com frequência. Meu tio não aguenta mais a polícia na porta da nossa casa.
- Não precisa de justificar, Eddie.
- Mas hein... nosso beijo - disse rindo
Eu já fiquei vermelha, mas a vontade mesmo era de tirar a minha roupa e continuar ali mesmo, mas claro que eu me contentei em dizer:
- Precisamos de um lugar seguro pra gente ficar juntos.
- Aqui...
- Na locadora, Eddie?
- Ué, você é a dona.
- Mais tarde quem vai estar aqui é o fofoqueiro do Steve. Você acha que ele vai deixar a gente dar uns pegas sem ficar fazendo graça?
- Verdade! - disse Eddie rindo - Tem a minha casa...
- E o seu tio?
- Depois das 8 ele dorme ou fica no bar com os amigos jogando cartas
- hummmm! Gosto da ideia. Mas não vamos s a incomodar?
- A gente fica no meu quarto qualquer coisa.
NO QUARTO DELE? Isso só pode ser um sonho!
- Po... pode ser...
- Ei, calma! Meu quarto tem tv... por isso estou dizendo pra gente ficar lá.
- e tem cama? - disse eu maliciosamente
Ele deu um sorriso super malicioso.

Eddie ficou o dia todo na locadora comigo. Ele se instalou naquele chão dentro do balcão e não tinha ninguém que o tirasse de lá.
Eu estava feliz em saber que além de amigos, dava pra ver uma atração sexual muito grande entre nós.
A gente ria o dia todo e comia vários doces que eu pegava no caixa da locadora, conversava sobre bandas, filmes e seriados.
A gente gostava dos mesmos filmes e das mesmas comidas. A gente fazia planos de ir jantar em vários lugares da cidade juntos.
- Sabe o dinner na entrada de Hawkins? Eles estão fazendo batata com Blue cheese...
- Vamos!!!
- ONDE VAMOS???? - gritou Steve. Chegando na locadora e pulando com tudo pra dentro do balcão - EDDIE???
- Oi Steve!
- O que ele está fazendo aqui? - perguntou Robin logo atrás
- Está me fazendo companhia ué... - respondi
- Estou ajudando a Lauren com a locadora também... olha a pilha de fitas que rebobinei - apontou.
- Pera ai... é o que estou achando que é? - Steve perguntou.
- Sim Steve... estamos se pegando. - disse Eddie
- EDDIE!! - falei com uma cara de CALA BOCA FOFOQUEIRO
- Ele ia descobrir de qualquer jeito. E eu já contei pro Dustin... uma hora ele ia saber
- Ahhh... ok!
- Como é pegar o Eddie? - perguntou Robin na frente de todos - Já deram uns amassos a mais?
- Mais tarde - respondeu Eddie
- EDDIE! - disse ainda mais indignada, mas com vontade de rir
Todos nós rimos.
- Não esquece que amanhã tem reunião do Hellfire. - disse Steve
- Eu sei. Mas hoje vou ficar o dia todo aqui

Passamos o dia todo rindo e conversando.
Robin passou em uma lanchonete e comprou várias batatas fritas e hambúrguer pra gente.
Colocamos um filme na tv da loja e ficamos mais se divertindo do que trabalhando.
Por enquanto que a gente assistia no chão, Eddie me colocou em seu colo e mexia no meu cabelo.
Teve uma hora que ele colocou meu cabelo de lado e beijou meu pescoço.
Me arrepiou.

Quase na hora de fechar a Family Video, estávamos super felizes de estarmos ali, naquele momento.
Foi a primeira vez em anos que Eddie e eu sorriamos tanto. Sentimos uma vontade tremenda de estar ali pra sempre. Naquele momento. Com nossos amigos, sem problemas.

- Bem, estou indo. Prometi a Nancy que não ia chegar em casa tarde. - levantou Steve
- Vou aproveitar pra pegar uma carona. - disse Robin
- Vão lá gente, eu fecho tudo aqui - disse eu.
- Você vai ficar né, Eddie? - perguntou Steve
- Vou sim. Podem ir. Eu cuido dela - me beijou na cabeça

Pegamos as nossas bicicletas e fomos pro trailer do Eddie.
Quando chegou, ele abriu a porta e me deu passagem.
As rachaduras ainda estavam lá. Remendadas, mas dava claramente pra ver que ali aconteceu algo.
Eu sabia que o trailer já foi um portal pro mundo invertido, mas eu não gostava de comentar nada disso com ele. Me sentia na obrigação de fazer ele esquecer de tudo que aconteceu.
Então eu ignorei as rachaduras.
A decoração era dominantemente masculina. Estava bem bagunçado, escuro e um ambiente sem vida.
- Fique a vontade e não repare na bagunça. Meu tio e eu não temos muito hábito de arrumar a casa...
- Não se preocupa, Eddie!
Eddie tentava arrumar qualquer bagunça que via na frente, mas era tanta, que ficava até engraçado ver ele tentando arrumar o caos.
- Bem, meu tio não está. Deve ser noite de jogos lá no bar. Vem pro meu quarto, lá que fica a fita cassete pra gente ver filme.
- Ah sim! Deixa eu pegar na minha bolsa os filmes que eu separei pra gente ver....
Eddie me puxou pro quarto dele, trancou a porta e me beijou.
Ele me prendia na parede e me deixou imóvel. Minhas mãos estavam presas, porque ele as seguravam com força.
Olhei pros olhos dele e ele sorriu.
Era lindo ver aqueles olhinhos enrugadinhos e pequenos.
Quando me deparei com o quarto dele, vi que ali era o seu mundinho. Sua guitarra ficava pendurada na parede como se fosse um troféu.
Na parede, pôsteres e muitos discos e revistas. Alguns bonecos de decoração, correntes e uma algema.

Definitivamente não estávamos ali apenas pra ver um filme.