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Minha história começa quando a mulher que se diz minha mãe resolve ir embora com o amante milionário

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Minha história começa quando a mulher que se diz minha mãe resolve ir embora com o amante milionário. Ela simplesmente virou as costas e me deixou, dizendo que voltaria para me buscar e nunca voltou. Tinha dois anos quando isso aconteceu, por muito tempo achei que o problema fosse eu, mas quando tive idade o suficiente para compreender, meu pai explicou tudo e para mim, Cecília morreu ali.

Foram tempos difíceis, Luan Álvares, meu pai, tomado pela decepção se tornou dependente químico até o dia em que teve uma overdose e quase morreu. Apesar de ter sido o pior dia da minha vida, foi necessário, porque a partir daí ele deu a volta por cima.
Ainda lembro como foi passar pelas portas brancas do hospital de Niveland segurando a mão enrugada de dona Rosa, nossa vizinha, com o rosto banhado em lágrimas, o coração batia tanto que parecia querer pular fora do peito. Naquele dia, achei que tinha perdido a única pessoa que se importava comigo, a única pessoa que poderia ter me abandonado na porta de um orfanato, ainda assim, com todas as dificuldades que um pai solteiro poderia ter, Luan escolheu ficar comigo, e me dar todo amor e carinho do mundo, só não foi forte o suficiente para lutar contra os vícios que adquiriu depois dela.

O ruim de se amar uma pessoa é que ela terá o poder para te destruir, assim como Cecília fez com Luan. Jamais irei permitir isso em minha vida. Jamais permitirei que alguém me destrua assim.

Hoje, quinze anos depois, meu rosto estampa outdoors por todo o estado, a Goldengate Models se tornou uma marca conhecida e mais vendida pelo mundo, meu pai é o estilista mais bem pago de toda América e provavelmente calou a boca de Cecília, que o deixou por ele ser pobre. Luan Álvares já vestiu inúmeros famosos, Shakira, Miley Cyrus, Dove Cameron, Sofia Carson, Brad Pitt, até a rainha Elizabeth se veste com as roupas desenhadas por ele. Dono de um sorriso cativante e um belo par de olhos castanhos, Luan se tornou o solteiro mais cobiçado em toda Niveland. E ele? Continua ignorando meus conselhos e permanece sozinho.

Ah! Não posso esquecer de mencionar que Luan ocupa o primeiro lugar do Top 5 millionaires, um ranking onde aparecem as pessoas mais ricas do mundo. Toda vez que vejo o quanto ele cresceu, sinto um puta orgulho, e nem é por causa do dinheiro, meu pai nunca deixou que a riqueza lhe subisse a cabeça, é um homem gentil e humilde e isso só prova que o homem que eu pintava de herói quando tinha sete anos, ainda é o mesmo.

Temos uma vida confortável. Moramos em um bairro nobre de Niveland, uma cidade da Califórnia, onde os casarões se destacam por sua arquitetura moderna, aqui tem uma pista de skate gigante que atrai mais que os meninos do bairro, aos sábados, batalhas de Beat Box acontecem ali. Ao sul, tem uma praça que cerca um lago de águas cristalinas, bancos de concreto embaixo das árvores de troncos frondosos, permite que qualquer um possa ter um momento de relaxamento. É comum observar casais passeando de mãos dadas, moradores andando com seus animais de estimação e crianças jogando pedaços de pães para os patinhos que moram no lago.

Mas o que me atrai mesmo, está bem longe de Niveland, a alguns anos luz na verdade. Na varanda do meu quarto, tenho um telescópio que permite observar os planetas, nebulosas, galáxias e trilhões de estrelas todas as noites, ali é meu cantinho de paz. O único local onde não penso nas merdas que aconteceram na minha vida.

Meu pai diz que tenho que sair, que uma pessoa de dezessete anos tem que viver fora das paredes do quarto, palavras ignoradas com sucesso, afinal, só de pensar que vou estar no mesmo ambiente que as pessoas que me fizeram mal, meu coração dispara e me sinto sufocada.

Todas as noites, como agora, fico horas observando e catalogando as estrelas. A maioria das noites a rua está deserta, mas hoje esse fator resolveu mudar. Ouço o ronco do motor de carros se aproximando, meus olhos voam para o relógio que tenho próximo a cama, são zero horas e trinta minutos. Estranho.

Lentamente, ando até a beira da varanda, e me surpreendo com o que vejo, três carros pretos param em frente a casa fantasma. A mansão abandonada que fica de frente para a minha, ninguém nunca apareceu ali nesses seis anos que moro nesse lugar. Estreito os olhos tentando enxergar o rosto do homem que sai do primeiro carro, mas devido a pouca iluminação só consigo enxergar os fios negros do cabelo.

Como uma stalker, continuo a olhar, quando o homem da volta até o banco do passageiro e abre para que uma mulher saia de lá, também não consigo ver o rosto, mas uma sensação estranha toma conta de mim. De braços dados, os dois entram pela grande porta da casa.
Dou um pulo quando escuto a porta do segundo carro bater, volto toda minha atenção na direção dele, onde quatro rapazes e uma garota estavam encostados conversando animadamente. A luz da frente da mansão se acende e aí posso ver parcialmente o rosto das quatro pessoas paradas ali. E deuses, de onde tinham vindo? Pareciam aquelas pinturas saídas de quadros famosos. Ainda que eu não pudesse enxergar com exatidão.

Fico parada pelo que parece uma eternidade, até que resolvem se mover, acompanho com o olhar um a um entrar. Um garoto fica para trás e como se soubesse que eu o observava, levanta a cabeça e olha diretamente para mim, mas o cabelo me impede de ver seu rosto, pois está caindo na testa, a única coisa que vejo parcialmente é o nariz e a boca. Dando um sorrisinho presunçoso, ele levanta o dedo do meio.

Que idiota!

Devolvo a gentileza, mostrando a língua em um gesto infantil, o sorriso presunçoso dele morre na mesma hora e ele permanece parado me olhando. Então a voz de meu pai chega até mim, antes de ele entrar.

— Ainda acordada Mel? — Olho uma última vez para a porta da mansão, mas o rapaz não se encontra mais lá, então volto meu corpo na direção de meu pai.

O cabelo amarelo está um pouco bagunçado, ele sorri e duas covinhas charmosas aparecem no belo rosto.

— Estava olhando as estrelas, pai. — Sorrio andando até ele. — Sabia que temos vizinhos novos?

O corpo de Luan se retesa ficando tenso, depois limpa a garganta umas duas vezes até que resolve dizer alguma coisa.

— Não sabia, minha filha. — Seu olhar se desvia de mim, ele estava mentindo. — Mel, daqui a pouco você tem que estudar. Não quero ser um pai chato, mas é hora de ir para cama.

— Já estou indo, pai. — Concordei passando por ele.

A luz da varanda é apagada, meu pai deixa um beijo em minha testa e sai, deixando-me com a pulga atrás da orelha.

Não sei o motivo da mentira, mas ele mentiu e eu descobrirei o porquê.

A Queda Do Anjo Rebelde (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora